Prezada Fernanda
Não assisti à teleconferência mencionada por você, por isso precisaria de mais detalhes sobre como foi feita a pergunta ao Takeuchi e sobre como ele deu a resposta, mas em princípio concordo com ele que, de um modo geral, as plataformas de EaD e as comunidades de prática, por si só não sejam modalidades/instrumentos de transformação e de produção de conhecimento.
Observe porém que toda generalização é perigosa.
Acredito que a resposta dele precisaria ser melhor contextualizada na Teoria da Criação do Conhecimento Organizacional, da qual ele é um importante desenvolvedor. Para sermos coerentes, ao fazer uma pergunta ao desenvolvedor de uma teoria, deveríamos esperar que ele nos respondesse de acordo com sua própria teoria. Concorda?
Quem sou eu para me propor a explicar uma resposta do Takeuchi, mas vale a pena a gente tentar esclarecer alguns detalhes, que podem ser importantes para entender o que ele quis dizer.
Primeiro, é fundamental conceituar o que para ele é conhecimento. Na Teoria da Criação do Conhecimento Organizacional, o conhecimento dentro de uma empresa envolve três aspectos: i) o conhecimento é uma crença justificada em uma verdade; ii) o conhecimento é uma capacitação de agir eficazmente e tomar decisões; e iii) o conhecimento é contextual.
Depois, a abordagem epistemológica que ele usa é a de Michael Polanyi, na qual se entende que o conhecimento tácito e o conhecimento explícito só podem ser conceitualmente distinguidos ao longo de um continuum. Significa dizer que todo conhecimento – existente apenas nos indivíduos – é parte tácita e parte explicitável.
Para Takeuchi a transformação e produção de conhecimento no âmbito da empresa se traduzem em criação de conhecimento organizacional, que é obtida pela interação entre os conhecimentos predominantemente tácitos e os predominantemente explícitos.
Assim, não é de se estranhar que ele tenha dito não acreditar que as plataformas de EaD e as CoP criem conhecimento, pois elas sozinhas não propiciam o ciclo de criação do conhecimento organizacional descrito no modelo SECI. Podem, sim, ser parte do processo.
Muitas vezes plataformas de EaD e as CoP menos elaboradas, não diferenciam informações de conhecimento explícito, mas isso é um erro conceitual básico. Não importa o quão boa seja uma informação. Ela é informação. É estática.
É comum também a confusão entre o conhecimento explícito e os conteúdos produzidos a partir dele. O conteúdo é estático. O conhecimento explícito é dinâmico. É uma capacitação de agir eficazmente e tomar decisões que pode produzir conteúdo. Este conteúdo pode se tornar um tipo de informação (emissor - conteúdo - receptor). Como conteúdo, ele não pode mudar. Não é cumulativo. Não pode melhorar a si mesmo.
Se alguém informar este conteúdo para outra pessoa, essa pessoa pode ser capaz – ou não – de usar essas informações para produzir novo conhecimento. Nunca o mesmo conhecimento, mas um novo conhecimento. O novo conhecimento de uma outra pessoa. Observe que os conteúdos são os mesmos, mas o conhecimento resultante é variado.
Resumindo, acho que Takeuchi tentou te dizer é que essas ferramentas que você elencou, Plataformas de EaD e CoP, por si só não são capazes de fazer o ciclo SECI completo necessário à criação do conhecimento organizacional.
É interessante observar, por outro lado, que o próprio Takeuchi vem defendendo a idéia de que uma ênfase exagerada no conhecimento tácito pode também comprometer essa execução completa do ciclo SECI.
Bem, espero ter ajudado mais do que confundido.
Forte abraço
Fernando Goldman
Postagem feita originalmente no forum da SBGC em 24.01.2010.
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