quinta-feira, 27 de março de 2014

A Dinâmica do Conhecimento Organizacional: Post 9 – organização e emergência

É importante perceber como duas palavras assumem peso especial, quando usadas no contexto da Teoria da Complexidade: organização e emergência. As análises feitas a partir dos conceitos da Teoria da Complexidade abordam as organizações em um sentido bem amplo. Morin (2005, p. 198), por exemplo, diz que:

“Uma organização constitui e mantém um conjunto ou “todo” não redutível às partes, porque dispõe de qualidades emergentes e de coações próprias e comporta retroação das qualidades emergentes do “todo” sobre as partes. “
Para o desenvolvimento desta série de postagens, será considerado como pressuposto que em ambientes de grande dinamismo os arranjos organizacionais mudam com relativa frequência suas organizações, inovando na busca de adaptação. Mesmo em meio a sucessivas mudanças, o arranjo organizacional se reconhece por comportamentos e características tais como “personalidade” e “cultura”, classificáveis como fortes ou fracas, que emergem dos comportamentos individuais, tomando “vida própria” e persistindo mesmo quando as pessoas vêm e vão e a organização muda diversas vezes. As pessoas dão forma ao arranjo organizacional e o arranjo organizacional influencia as pessoas, em um loop de feedback contínuo. A emergência é fonte e fruto da criatividade e inovação – é imprevisível e às vezes surpreendente (RITTO, 2005; GOLDMAN, 2008, p. 112). Assim, nesta série de postagens, ao se falar em Conhecimento Organizacional, o termo será usado como um todo, criado com base nos conhecimentos dos agentes de um CAS, o arranjo organizacional. Além disso, há de se considerar as influências sobre o arranjo organizacional do ambiente no qual ele está inserido e seus agentes atuam, bem como a influência do arranjo organizacional sobre aquele ambiente. O arranjo organizacional terá em cada momento uma organização, formal e informal, que é fruto do estado de Conhecimento Organizacional daquele momento. Usar a abordagem de Sistemas Complexos Adaptativos, que hoje predomina na Economia da Inovação (ANTONELLI, 2007, p. 38) permite entender que arranjos organizacionais como sistemas cada vez menos controláveis, mas sim perturbáveis e que não apresentam soluções, mas sim respostas (AGOSTINHO, 2003), sendo estes elementos fundamentais para agir em ambientes de Incerteza e Racionalidade Limitada.[1]



[1] Esta série de postagens é baseada na Tese, disponível na forma original em http://www.ie.ufrj.br/images/pos-graducao/pped/dissertacoes_e_teses/Fernando_Luiz_Goldman.pdf. As referências acima se referem as Referências Bibliográficas daquela Tese.

segunda-feira, 3 de março de 2014

A Dinâmica do Conhecimento Organizacional: Post 8 – Diferenciando Organizações, Arranjos Organizacionais e Instituições

    
Segundo North (1990, p. 73), as firmas seriam apenas uma das muitas formas de organização (entendidas aqui como arranjos organizacionais). Já as instituições, para North (1996, p. 02), seriam definidas como: as regras formais (a Constituição, estatutos, a legislação em geral, regulamentos etc.); as restrições informais (normas de comportamento, convenções e códigos internos de conduta impostos); e as características de execução (enforcement characteristics) de cada um dos anteriores. Também para North (1996, p. 02), “as instituições seriam as regras do jogo”, enquanto os arranjos organizacionais, por ele chamados de “organizações”, “seriam os jogadores”. Para North (1996, p. 02) as organizações “são formados por grupos de indivíduos unidos por um objetivo comum” - por exemplo, as empresas são organizações econômicas, partidos políticos são organizações políticas, as universidades são organizações educacionais e assim por diante.

No desenvolvimento desta série de postagens, os termos “firma” e “empresa” serão usados indiscriminadamente, a despeito das diferenças que sejam possíveis de serem estabelecidas entre eles. No entanto, aqui o termo “organização” será utilizado de uma forma muito especial, que precisa ser bem entendida, sendo conveniente estabelecer uma clara e muito importante mudança, na definição de Kerstenetzky (1995), anteriormente citada: as firmas teriam (e não seriam) uma organização.

Assim, na terminologia aqui usada, Arranjos Organizacionais são arranjos passíveis de serem modelados como Sistemas Complexos Adaptativos (CAS), que tem características específicas, entre elas a emergência, e se apresentam de forma organizada, tendo, portanto, em um cada momento, uma determinada organização. (AGOSTINHO, 2003)

Dessa forma, para a análise sobre ativos intangíveis de conhecimento que aqui se empreende: empresas de qualquer porte, associações comerciais, cooperativas, redes interorganizacionais, igrejas, clubes, partidos políticos, o Senado, a Câmara Federal, Prefeituras, agências reguladoras, universidades, colégios, as chamadas Organizações não Governamentais (ONGs), um setor de uma empresa, um setor econômico (industry), um país, um arranjo produtivo local (APL), o Conselho de Segurança da ONU e assim por diante, ou seja, toda uma ampla gama daquilo que vem sendo referido como “organização” será genericamente chamado de “Arranjo Organizacional”.

É preciso entender que, desse modo, não se tratará, absolutamente, de um pleonasmo falar em “Conhecimento Organizacional de uma empresa”. Basta que se apresentem as características de Sistema Complexo Adaptativo em um Arranjo Organizacional (AGOSTINHO 2003, SNOWDEN, 2002, 2007, STACEY, 1995, 2001), para que de sua organização possa emergir um Conhecimento Organizacional, com qualidade ou não, para possibilitar seu desenvolvimento (sua adaptação).[1]




[1] Esta série de postagens é baseada na Tese, disponível na forma original em http://www.ie.ufrj.br/images/pos-graducao/pped/dissertacoes_e_teses/Fernando_Luiz_Goldman.pdf. As referências acima se referem as Referências Bibliográficas daquela Tese.