O leitor mais participativo deste blog, o Ferdinand, me pede que eu seja um pouco mais específico com relação a meus comentários sobre como a política de C&T colhe entre seus frutos a inibição de nossa competitividade tecnológica.
O assunto é espinhoso, mexe com diferentes interesses, mas pode ser fonte de interessantes considerações, embora certamente não se esgote em uma postagem.
Schumpeter, lá em 1911, começou a nos chamar atenção para a importância da inovação como elemento propiciador da competitividade, por sua vez entendida por ele como elemento viabilizador do capitalismo.
Mais tarde, em 1942, ele reforçou esta idéia dizendo que a competição é o...
... processo de mutação industrial (...) que incessantemente revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro, incessantemente destruindo a velha, incessantemente criando uma nova. Esse processo de Destruição Criativa é o fato essencial acerca do capitalismo. É nisso que consiste o capitalismo e é aí que têm de viver todas as empresas capitalistas. (SCHUMPETER, 1961 [1942], p. 112-113)
Isto sugere para alguns a ideia de que basta se buscar a inovação de mudança técnica, para que automaticamente se alcance a competitividade. Como quase sempre acontece quando se acredita em sucessos automáticos, percebe-se que no caso brasileiro eleger a inovação de caráter técnico como meio de alcançar a competitividade simplesmente não vem funcionando, nem para para estimular a ciência e tecnologia, nem para aumentar nossa competitividade.
A razão pode, de forma bem simplificada, ser entendida como a falta de outros importantes elos na cadeia que leva a competitividade. Em outras palavras, a inovação técnica não é suficiente ou não se confirma sem que outros importantes elementos sejam levados em consideração.
Para Schumpeter, o conceito de inovação tecnológica, ou "realização de novas combinações" é bem mais amplo do que a simples capacidade de converter um invento técnico em produto econômico. Ele identificava como exemplos:
"(1) A introdução de um novo bem. , (2) A introdução de um novo método de produção. . . (3) A abertura de um novo mercado. . . (4) A abertura de uma nova fonte de abastecimento. , (5) A realização de uma nova organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de monopólio "(Schumpeter, 1934, p.
66).
Vê-se claramente, que os exemplos dados por Schumpeter para inovações vão muito além do território delimitado pelo desenvolvimento científico e pelos conhecimentos de engenharia.
Há aqui a necessidade de se entender que a estrita delimitação da inovação no terreno da mudança técnica está alinhada à ortodoxia econômica que - como Nelson e Winter bem explicaram na sua busca por uma Teoria Evolucionária da Mudança Econômica - não é capaz de prover as respostas necessárias. Para eles, a necessidade de se abandonar a ortodoxia econômica e se migrar para uma abordagem evolucionária da firma é fruto do pensamento neoschumpeteriano.
Nelson e Winter chamam atenção de que se a questão não é suficientemente clara a partir da lista de exemplos de Schumpeter, bastaria citar a distinção feita por ele entre invenção e inovação e sua ênfase no aspecto organizacional das mudanças nos métodos de produção.
Vale a pena notar que hoje, especialmente após os trabalhos de Douglas North (1990), o aspecto institucional também já se apresenta de forma bastante clara, para quem pensa a competitividade de forma séria.
Nelson e Winter entendem que o tratamento dado por Schumpeter à inovação é a base da ênfase deles em considerar um erro se exagerar as distinções relacionadas entre mudanças técnicas e organizacionais, entre as capacitações e os comportamentos, entre fazer e escolher. Estas coisas têm de caminhar juntas.
Forte abraço
Fernando Goldman
2 comentários:
Fernando
Continuamos sem exemplos claros do que fazer para mudar nossa baixa presença no cenário global.
Para mim fica evidente um aspecto cultural: Nos consideramos inferiores, e não damos o devido valor ao conhecimento.
Não faz muito tempo os produtos importados exerciam um magnetismo enorme sobre nossa população. Isso diminuiu um pouco no geral, mas não temos tecnologia de ponta em nada que habita no sonho fantástico do consumidor.
Há coisa de 2 decadas obtive a seguinte situação em conversas com o pessoal do BNDES que tinha estado participando em missões de abertura de mercados para nossos produtos no primeiro mundo. "O nosso empresário é péssimamente preparado para negociar com os lobos". Mal balbucia em inglês, quando tem que enfrentar equipes de PhDs a serviço do "lobo negociador". Na época um quadro hilário. Não sei se mudou muito, não tenho acompanhado.
Não temos oportunidases de emprego competitivas para reter nossos melhores cérebros. Gastamos uma fortuna com formação no ITA, IME e outras, resultado? Formamos mão de obra da melhor qualidade e entregamos de graça para quem só nos sangra.
O aprendizado de inglês de nossos administradores e empreendedores deveria ser incrementado ao ponto que os mesmos pudessem ler o que está escrito nas entre linhas.
A alta administração deve ser composta de gente com traços de Wisdom, Knowledge não é suficiente.
É ou não é um problema cultural?
Forte abraço
Ferdinand
Focando agora na citação do Scumpeter onde se lê: "Esse processo de Destruição Criativa é o fato essencial acerca do capitalismo. É nisso que consiste o capitalismo e é aí que têm de viver todas as empresas capitalistas. (SCHUMPETER, 1961 [1942], p. 112-113)." Receio que deforma a noção que se pode ter do capitalismo. Ele o capitalismo é ruim por permitir uma série de ações que qualificaria de "pura selvageria", mas é o melhor sistema que persiste até hoje.
Quanto à Destruição Criativa, não tem nada a ver com capitalismo. É simplesmente a criação de barreira de entrada ou o método para asfixiar a concorrência. Se não existisse concorrência no mercado a inovação seria absolutamente menos intensiva, pois apenas correria atrás de mais lucro, onde hoje tem que lutar também pela sobrevivência.
Forte Abraço
Ferdinand
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