quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O conhecimento organizacional como um ativo


Prezados

Alguns leitores me pediram para aprofundar a ideia do conhecimento organizacional como um ativo da empresa.

Um bom ponto de partida é o fato de que recursos são geralmente definidos como ativos específicos de determinada firma, os quais são difíceis, quando não impossíveis de serem imitados. Podem ser citados como exemplos: patentes, reputação de uma marca registrada, o conhecimento de uma equipe formada por profissionais com certo grau de especialização e capacitada por uma larga experiência etc.

Como Teece costuma chamar atenção, tais tipos de ativos são difíceis de transferir entre firmas devido aos custos de transação e devido ao fato de alguns destes ativos serem fortemente baseados em conhecimentos tácitos.

Vê-se assim que os recursos de uma firma são algumas vezes caracterizados como intangíveis e entre estes alguns se caracterizam por serem recursos de conhecimento.

Existe toda uma literatura da chamada Visão Baseada em Recursos, começando pelo trabalho seminal de Edith Penrose (1959) até os mais recentes dentre os quais se destacam os trabalhos de Jay Barney na busca de melhor entender a construção de vantagens competitivas sustentáveis. Porém, hoje o termo recursos parece vir sendo preterido em favor do termo "ativos específicos da firma", em especial por autores alinhados com as ideias de capacitações dinâmicas, como Teece, por exemplo.

Podemos assim falar em ativos de conhecimento para nos referirmos aos recursos baseados em conhecimentos, especialmente os baseados em conhecimentos tácitos, pois estes são os que se mostram de maior dificuldade de transferência ou imitação, garantindo assim posições privilegiadas de assimetria a seus possuidores.

As empresas que se diferenciam e que, por conseguinte, tem maiores chances de alcançar relativa longevidade se caracterizam por serem repositórios de conhecimentos. O termo "repositórios" não deve em hipótese alguma ser entendido no mesmo sentido em que é usado para informações. Podemos falar em depósitos de informações, mas não devemos falar em depósitos de conhecimento. Estes conhecimentos, dos quais a empresa é o repositório não se caracterizam pelas informações registradas da empresa, como muitas vezes se pensa. Estas informações são normas e procedimentos, ou, como diria Argyres, apenas sua teoria proclamada.

Os conhecimentos, entendidos como capacitações para ação eficaz, que diferenciam uma empresa, na verdade, estão embutidos nas suas rotinas e processos de negócios. Tratam-se de rotinas distintivas em uso, que dão embasamento aos ativos específicos da empresa, possibilitando-lhe competências.

As competências de uma empresa são definidas por Winter como grupos integrados de ativos específicos daquela empresa.

A base de conhecimento da empresa inclui, entre outros, suas competências tecnológicas (técnicas e organizacionais), seu conhecimento das necessidades dos clientes e as capacidades dos fornecedores. Essas competências refletem as habilidades e experiências individuais, bem como formas distintivas de fazer as coisas dentro das empresas.

Vários autores vêm chamando atenção que a razão da existência das empresas é a capacidade delas de criar, transferir, montar, integrar e explorar ativos de conhecimento. Os ativos de conhecimento sustentam as competências e as competências, por sua vez sustentam os produtos e serviços oferecidos pela empresa ao mercado. Em outras palavras, sua competitividade.

Finalmente, as vantagens competitivas podem ser atribuídas não apenas à propriedade dos ativos de conhecimento e outros ativos complementares a eles, mas principalmente à capacidade de combinar ativos de conhecimento com outros bens necessários para criar valor.

Forte abraço

Fernando Goldman

2 comentários:

Ferdinand disse...

Fernando
Vou aos poucos me conscientizando que o campo é vasto.
Acabo de baixar 18 papers do Teece.
Vou levar meses para ler todo este material.
E nem se fala das outras referências que asperges aqui ou ali em teus textos.
O aprendizado custa tempo e energia.
Não há como chegar a ele sem o devido esforço.
Tenho que ler mais e falar/escrever menos!
Abraço
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando
As 3 grandes mentiras das organizações modernas são, segundo o Art Kleiner:
1 Os empregados são nossa maior riqueza.
2 Os clientes estão sempre em primeiro lugar.
3 Estamos aqui para gerar lucro para os acionistas.
Achei isto no KMOL, penso que é válido dividir com os demais leitores.
Fico pensando que mais poderíamos adicionar à lista.
Abraço
Ferdinand