Pode parecer estranho, mas é da maior importância o entendimento de que aquilo que se chama de Gestão do Conhecimento é uma visão bem específica de cada empresa.
A racionalidade de tal fato é fruto de que até mesmo o que é "conhecimento" é uma definição bem específica de cada empresa ou arranjo organizacional.
Recentemente um aluno em início de curso me escreveu "Perdemos recentemente os dois únicos funcionários que conheciam e haviam sido treinados em uma determinada ferramenta (software) e agora, pela falta de uma boa gestão do conhecimento, estamos sem ninguém para trabalhar neste sistema, o que nos obrigará a reiniciar o processo de treinamento e conhecimento da ferramenta por novos funcionários."
Muita gente abraça esta ideia com naturalidade. O conhecimento seria estar treinado em uma tarefa ou ter um conjunto de informações relevante para execução de determinado trabalho.
Tal visão é fortemente influenciada por um uma dificuldade de diferenciar informação e conhecimento. Podemos fazer uma lista das funções necessárias para o andamento do trabalho de uma firma e tentarmos programar redundâncias para na eventualidade de perdermos um funcionário – por qualquer razão que seja – o substituirmos o mais rapidamente possível.
Dependendo do porte da empresa, isto simplesmente não é possível. Em empresas pequenas e até de médio porte, se ganha de dia para comer de noite e não faria sentido ficar treinando gente em paralelo para no dia que um funcionário tiver de sair – hoje em dia uma realidade sempre presente – já haver outro funcionário pronto para assumir o seu lugar. Isto seria um luxo impossível de se arcar em determinados negócios.
Para determinado porte de empresas é economicamente mais viável se esperar acontecer a saída de algum funcionário e quando acontecer tentar resolver o problema de forma localizada, absorvendo as consequências daquela saída de funcionário do jeito que for possível.
Para outras empresas, seu porte justifica criar redundâncias para algumas e até mesmo para todas as funções, mas chamar isto de Gestão do Conhecimento é perder a oportunidade de melhor entender o conhecimento organizacional como recurso da empresa que pode e deve ser gerido. É deixar de usar toda pesquisa desenvolvida em um campo de conhecimento que vem crescendo muito nos últimos anos e optar por soluções fáceis, mas que na prática não produzem resultados novos.
Forte abraço
Fernando Goldman
3 comentários:
Fernando
O que chamam de redundância, se olhado no literal realmente na lógica do lucro imediato não faz sentido.
Mas vamos nas entrelinhas!
Se tiveres pelo menos um "peer" para cada função importante resolves o problema de redundância e de quebra tens com quem trocar uma idéia nos problemas mais cabeludos. Aí pode emergir algo de novo por socialização. Aí concordo que o conhecimento pode ser estimulado pela interação.
Abração
Ferdinand
E continuando....
Se não for um problema meramente administrativo, do tipo bem comportado, normalmente caímos nos problemas que eu antes chamava de complexo. Agora classifico de problema cuja solução ainda não "captei", mas sei ou desconfio que é disponível. Estes muitas vezes não “sabemos” mas nosso "entorno pode estar sabendo”. Alguns fóruns e o google ajudam mas tens que conhecer a linguagem (código) específico de cada campo. Este tipo de captura é simplesmente a incorporação do conhecimento do entorno.
Mas penso que no espírito estrito da KM o gestor da organização devia ser capaz de criar um clima organizacional tal que os empregados antes de saírem, preparassem seus substitutos. E agissem de forma a terem as portas sempre abertas na organização.
Agora o problema é achar um administrador deste calibre!
Eu já tive um gerente assim.
E ele era assim com toda a equipe.
Mas são cada vez mais raros.....
Abração
Ferdinand
Fazendo uma reflexão das colocações de Fernando Goldman, quanto as visões e posturas diferenciadas de cada porte de empresa. Na minha opinião estes diferentes pontos de vista decorrem não do desconhecimento da "gestão do conhecimento", mas da total falta de gestão de todos os fundamentos necessários para se conduzir e planejar uma organização para o dia seguinte. Não me refiro apenas à medio e longo prazo, mas ao dia seguinte. O imediatismo cega a visão do futuro e do seu ambiante.
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