segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

The Invisible Hook (4ª parte): Como a sociedade pirata prova que o interesse próprio econômico está errado

Esta tradução faz parte do meu projeto pessoal de antropofagia* de boas ideias escritas originalmente em inglês. Enquanto os periódicos acadêmicos nacionais se dedicam à publicação de textos inéditos de autores nacionais, há uma lacuna na formação de nossos estudantes de graduação que, em sua maioria, não dominam a leitura de textos especializados em inglês e ficam assim sem acesso a ideias seminais. Claro que ideal seria ensinar inglês a todos nossos estudantes, mas a realidade é que não temos tido sucesso nem mesmo em ensinar o português. Esta tradução foi autorizada diretamente pelo autor do texto original para publicação neste Blog. Críticas, comentários e sugestões sobre a tradução serão bem-vindos.

* Conheça o Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, 1928, em https://pib.socioambiental.org/files/manifesto_antropofago.pdf
Devido às limitações do Blog, a tradução será publicada em partes.
The Invisible Hook: Como a sociedade pirata prova que o interesse próprio econômico está errado (4ª parte)
Os bandos de piratas são radicalmente democráticos e igualitários: Hayek e o imperativo evolucionário.

Tradução: Fernando Luiz Goldman
Clique aqui e leia a 4ª parte

Passemos um pouco mais de tempo na psicologia moral. Em uma entrevista que realizei com o filósofo moral Simon Blackburn, pedi-lhe que definisse a moral como seria em uma classe de filosofia introdutória, sem qualquer referência à evolução. Aqui está o que ele disse:
Eu acho que, no seu mais simples, é um sistema pelo qual pressionamos nós mesmos e outros para que estejamos de acordo com certos tipos de comportamento. Esse é o lado da moral que talvez seja mais obviamente associado a regras, limites de conduta, com a limitação criminal do comportamento, quando as regras são transgredidas. Além disso, há um elemento de moral que se preocupa com nossos sentimentos e emoções, por exemplo com simpatia e nossa capacidade de sentir simpatia no sofrimento dos outros e uma motivação correspondente para fazer algo sobre isso. Portanto, há dois lados para a moral, um mais coercitivo e o segundo mais gentil e humano.
O que é notável sobre esta descrição convencional da moral é o quão bem ela concorda com minha explicação evolucionária. Um manual de tradução dificilmente é necessário. O lado coercitivo da moeda da moral assegura que os comportamentos pró-sociais dentro do grupo não serão explorados. Dado um ambiente social seguro, as pessoas são livres para expressar seus impulsos genuinamente pró-sociais em seu grau máximo.
A psicologia moral humana é infundida no "nós". Quem se enquadra no círculo moral, qualificando-se como parte de "nós"? O que devemos "nós" fazer para maximizar nossos benefícios coletivos? Isso inclui como "nós" devemos comportar-nos com aqueles que não estão incluídos em nosso círculo moral e qualificam-se como "eles"? Nas comunidades morais mais fortes, a sensação de "nós" é tão forte que o grupo é descrito por seus próprios membros como um único organismo, com os indivíduos desempenhando um papel semelhante a um órgão - uma metáfora que agora foi afirmada pelo conceito de grandes transições evolucionárias.
Na maioria das comunidades morais, a palavra "egoísta" é reservada para comportamentos que beneficiam o ator egoísta à custa do bem comum, o que se encaixa bem com a definição de egoísmo na TSM, como os produtos principalmente perturbadores da seleção dentro do grupo. Os comportamentos pró-sociais não são chamados de egoístas, mesmo quando o ator se beneficia com todos os outros. Na verdade, a maioria dos sistemas morais religiosos promete abundantes benefícios pessoais aos seus crentes, tanto nesta vida como na próxima. Além disso, quando os comportamentos pró-sociais são analisados ​​em detalhes, eles realmente se qualificam como altruístas, conforme definido pela TSM. Em outras palavras, eles normalmente exigem tempo, energia e risco por parte do indivíduo pró-social, reduzindo sua capacidade física relativa dentro dos grupos. Eles são como o indivíduo que ganha apenas US$ 99, em comparação com US$ 100 para todos os outros.
Em suma, o estudo dos sistemas morais humanos, primeiro pelos filósofos e, cada vez mais, por cientistas comportamentais, é altamente consistente com a TSM. O modelo do ator racional na Economia não é. Ou o modelo do ator racional é simplesmente errado ou muito trabalho será necessário para mostrar como ele se encaixa com a teoria evolucionária e a psicologia moral humana.
Se Friedrich Hayek se interessasse por piratas, ele teria escrito um livro diferente do de Leeson. Hayek era um crítico feroz da teoria da escolha racional, que considerava uma ficção. Na verdade, isso é amplamente considerado como uma das idéias mais importantes de Hayek. Veja como o economista Herbert Gintis descreve isso em um artigo intitulado "Contribuição de Hayek para uma Reconstrução da Teoria Econômica[1]":
Em contraste com Hayek, a teoria econômica moderna em geral e a teoria dos jogos, em particular, mantêm um processo muito mais rígido er explicados como equilíbrio de Nash, num jogo desempenhado por ate acredito na forma indefensável de individualismo metodológico, em que todos os fenômenos sociais acima do nível do indivíduo devem sores egoístas, amorais e racionais. Por isso, arraigado na teoria econômica é esse princípio que nem sequer é explicitamente articulado. Em vez disso, é simplesmente abraçado como "conhecimento tácito" (p111).
Para continuação, clique aqui e leia a 5ª parte


[1] Gintis, H. (2013). Hayek’s Contribution to a Reconstruction of Economic Theory. In Hayek and Behavioral Economics (pp. 111–126). London: Palgrave Macmillan UK. https://doi.org/10.1057/9781137278159_5

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