segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A Dinâmica do Conhecimento Organizacional: Post 6 – os fatores clássicos de produção

    
As disciplinas mais tradicionais (engenharias, administração, economia, etc.) se consolidaram no uso dos fatores clássicos de produção. O quadro a seguir mostra os Fatores Tradicionais de Produção.



Os Fatores Tradicionais de Produção

Terra

Indica não só as terras cultiváveis e urbanas, mas também os recursos naturais, entre eles energia, por exemplo.

Capital

Compreende, além do capital propriamente dito, as estruturas e instalações físicas, o maquinário e os equipamentos em geral.

Trabalho

Refere-se às faculdades físicas e intelectuais dos seres humanos, que intervêm no processo produtivo.


Fonte: baseado em Drucker[1]

 Conforme Drucker[2], cada vez mais, a sociedade moderna percebe a atual revolução em torno do uso do conhecimento e vem buscando formas de lidar com esta nova realidade. No entanto, Alfred Marshall, no início do século XX, já propôs, além dos fatores mostrados no quadro acima, a organização como um quarto fator de produção[3] e mais recentemente, após os velozes anos 1970 e 1980, diferentes autores, vêm propondo esse novo fator de produção como sendo o Conhecimento[4].

No entanto, vale a pena o seguinte questionamento: o trabalho, como fator de produção, já não se refere às faculdades intelectuais dos seres humanos, que intervêm no processo produtivo? Isto já não incluiria o conhecimento? Afinal, de que conhecimento estaria se falando, quando se fala no conhecimento como novo fator de produção?

Esta série de postagens, ao buscar entender como acontece a dinâmica da criação do Conhecimento Organizacional, ou seja, os processos sociais dinâmicos desta criação, explora a ideia de que o conhecimento que se caracteriza como fator de produção não seria um conhecimento individual, nem a soma dos conhecimentos dos que trabalham em um arranjo organizacional, mas, sim, um todo emergente, intangível, dinâmico e específico, que deveria ser mais efetivo do que a simples soma de suas partes: o Conhecimento Organizacional, responsável pelas competências[5] organizacionais de diferentes níveis.[6]




[1] 1993
[2] 1993
[3] COASE, 1937, p. 388, KERSTENETZKY, 2004
[4] BELL, 1999, DRUCKER, 1993
[5] Nesta série de postagens, os termos "competências" e "capacitações" serão utilizados intercambiavelmente. Para uma discussão sobre as possíveis distinções entre os termos, ver Dosi, Coriat e Pavitt (2000).
[6] Esta série de postagens é baseada na Tese, disponível na forma original em http://www.ie.ufrj.br/images/pos-graducao/pped/dissertacoes_e_teses/Fernando_Luiz_Goldman.pdf. As referências acima se referem as Referências Bibliográficas daquela Tese.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A Dinâmica do Conhecimento Organizacional: Post 5 – tácito e explícito são diferentes dimensões do mesmo conhecimento

    
Tsoukas[1] argumenta que a natureza do Conhecimento Organizacional – e sua relação com as competências individuais e os contextos sociais – tem sido mal compreendida à medida que o “conhecimento tácito”[2]  se tornou popular nos estudos de Gestão e de Economia de uma forma mal interpretada, tendo sido constantemente concebido como uma oposição ao conhecimento explícito, quando na verdade tácito e explícito seriam simplesmente diferentes dimensões do mesmo conhecimento[3].

Pesquisadores do Aprendizado Organizacional, da Inovação e dos elementos que constituem a chamada Visão da Firma Baseada em Conhecimento[4] têm lidado em algum grau com a criação do Conhecimento Organizacional, devido a ser este o elemento de sobreposição existente entre estes tópicos. Apesar disso, conforme considera Tsoukas[5], mesmo com a proliferação de estudos empíricos e os importantes insights ganhos, mais trabalho teórico ainda é necessário para melhor entender os processos sociais pelos quais o Conhecimento Organizacional é contínua, dinâmica e adequadamente criado.

Quanto ao conhecimento, merece destaque o seu caráter inerentemente paradoxal, pois é ao mesmo tempo uma construção individual e o fruto de um processo social (produto de uma comunidade), que por se tratar de um intangível, não é passível de ser gerenciado no sentido usual da palavra “Gestão”[6]. O conhecimento é uma construção individual por ser uma capacitação humana e como tal é: dinâmico, pessoal, intangível e biograficamente determinado. Deve sempre ser diferenciado da informação, por mais sofisticada que ela seja[7].
Ao mesmo tempo, o conhecimento é um produto social, pois, como definem Berger e Luckmann[8], as pessoas que interagem, em determinado contexto histórico e social, “compartilham informações a partir das quais constroem o conhecimento social como uma realidade que, por sua vez, influencia o discernimento, o comportamento e a atitude delas”.[9]



[1] 2005, p. 3
[2] POLANYI, PROSCH, 1975
[3] POLANYI, PROSCH, 1975
[4] GRANT, 2006
[5] 2009, p. 1
[6] ALVARENGA NETO; BARBOSA; PEREIRA, 2007, p. 21
[7] NONAKA, 1994
[8] 1966 apud NONAKA; TAKEUCHI, 1995, p. 59
[9] Esta série de postagens é baseada na Tese, disponível na forma original em http://www.ie.ufrj.br/images/pos-graducao/pped/dissertacoes_e_teses/Fernando_Luiz_Goldman.pdf. As referências acima se referem as Referências Bibliográficas daquela Tese.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A Dinâmica do Conhecimento Organizacional: Post 4 – Os Pressupostos básicos utilizados


O quadro a seguir apresenta dois pressupostos básicos utilizados neste conjunto de postagens.


Pressupostos básicos utilizados

Incerteza Knightiana

Os arranjos organizacionais aqui discutidos estão inseridos em mercados complexos e dinâmicos em ambientes de Incerteza Knightiana, entendida como a distinção clássica entre risco e incerteza, proposta originalmente por Frank Knight[1]. A incerteza surge a partir da previsão imperfeita e da incapacidade humana de resolver problemas complexos com um grande número de variáveis, mesmo quando um ótimo é definível[2].

Racionalidade Limitada

Os agentes, que compõe os arranjos organizacionais aqui discutidos, gozam de Racionalidade Limitada não fazendo suas escolhas econômicas segundo o paradigma da “Escolha Racional” [3].


 
Para ser efetiva, a base teórica utilizada neste conjunto de postagens deverá necessariamente levar em conta os pressupostos acima e considerar os arranjos organizacionais modelados como Sistemas Adaptativos Complexos, compostos de vários componentes capazes de aprender e se adaptar, com funções e inter-relações que impregnam o sistema com uma identidade particular e um determinado grau de conectividade[4]. Além disso, neste trabalho, será feita uma clara distinção entre o conhecimento - incorporado ao conhecedor, como proposto por Polanyi[5] - e o chamado Conhecimento Organizacional - um fenômeno complexo emergente, que não é realmente um conhecimento, mas uma metáfora - expresso em regularidades pelas quais seres humanos cooperam em comunidades sociais, ou seja, grupos, arranjos organizacionais ou redes[6].[7]





[1] 1921


[2] ALCHIAN, 1950, p. 212


[3] GRANDORI, 2010, p. 1-2, SBICCA e FERNANDES, 2005, p. 3, SIMON, 1959, p. 272, HUTCHINS, 1995, p.359, NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 44, HATCHUEL, 2001, p. 261, CAVALCANTE, 2007, p. 17


[4] MARTIN, SUNLEY, 2011, P.1303, AGOSTINHO, 2003


[5] POLANYI, PROSCH, 1975


[6] KOGUT; ZANDER, 1992, p. 383


[7] Esta série de postagens é baseada na Tese, disponível na forma original em http://www.ie.ufrj.br/images/pos-graducao/pped/dissertacoes_e_teses/Fernando_Luiz_Goldman.pdf. As referências acima se referem as Referências Bibliográficas daquela Tese.
 
 

sábado, 18 de janeiro de 2014

A Dinâmica do Conhecimento Organizacional: Post 3 - O Conhecimento e a metáfora do Conhecimento Organizacional

Na extensa literatura que vem sendo produzida nas últimas décadas sobre a firma, uma mais apurada conceituação do Conhecimento Organizacional têm sido relativamente negligenciada, principalmente se levada em conta a centralidade do tema para o entendimento dos elementos, que diferenciam as empresas e lhes possibilitam longevidade.[1]

Cresce a importância da pergunta “por que as firmas diferem e como isto importa?”[2]. Enquanto administradores e estrategistas aparentemente têm a heterogeneidade no cerne de suas investigações, para Nelson[3], em praticamente todas as análises econômicas, até então, as diferenças entre as empresas eram reprimidas.

No entanto, mesmo os que enfrentam diretamente a questão acima, não têm tido sucesso relevante, devido às dificuldades em lidar com o conhecimento - um conceito “problemático demais, o que dificulta muito a tarefa de construir uma Teoria da Firma dinâmica e baseada nele”[4] - e em especial com o Conhecimento Organizacional, pois como será visto a seguir, nessa série de postagens, este é um ativo intangível, dinâmico, emergente e específico de cada empresa.
Devido a suas características especiais, como fenômeno emergente, o Conhecimento Organizacional só pode ser corretamente entendido se utilizadas ferramentas adequadas, que levem em conta a Complexidade, tal como descrita em Agostinho[5].[6]



[1] GOLDMAN, 2010b, p. 04, TSOUKAS, 2005, p. 3
[2] NELSON, 1991
[3] 1991
[4] SPENDER, 1996
[5] 2003
[6] Esta série de postagens é baseada na Tese, disponível na forma original em http://www.ie.ufrj.br/images/pos-graducao/pped/dissertacoes_e_teses/Fernando_Luiz_Goldman.pdf. As referências acima se referem as Referências Bibliográficas daquela Tese.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A Dinâmica do Conhecimento Organizacional: Post 2 - O Conhecimento Organizacional na Gestão Estratégica

Entender o conhecimento no âmbito dos arranjos organizacionais não é tarefa fácil e vem desafiando - além de grandes áreas como a Economia e Administração de Empresas - diversos campos de pesquisa, com destaque para as áreas de interesse da Estratégia Organizacional, usualmente referidas como Gestão Estratégica (Strategic Management), a qual tem empreendido notável esforço no sentido de melhor lidar com o conhecimento no âmbito dos arranjos organizacionais.[1]
O lidar com o Conhecimento Organizacional, por ser esse um ativo intangível, não deve ser confundido com o simples acúmulo de informações[2]. Tem sido proposto que os modelos mentais dos indivíduos são transformados durante o processo informacional, configurando novos estados de conhecimento[3]. Será assumido nesta série de postagens sobre a Dinâmica do Conhecimento Organizacional que, de forma análoga, as empresas criam continuamente novas capacitações, caracterizadas por respectivos conjuntos de rotinas, configurando assim novos estados de Conhecimento Organizacional.
Outras disciplinas e campos de pesquisa, tais como a Engenharia de Produção, a Psicologia, a Cognição e a Sociologia, só para citar alguns, também vêm enfrentando a crescente necessidade de lidar com o conhecimento no âmbito dos arranjos organizacionais, numa literatura que se caracteriza como sendo multi, inter e transdisciplinar[4].[5]






[1] HELFAT; WINTER, 2011, JACOBIDES; WINTER, 2010, NELSON; WINTER, 1982, TSOUKAS, 1996, VASCONCELOS; CYRINO, 2000, WINTER, 2003, FUJIMOTO, 1997, 2012
[2] NONAKA, 1994
[3] BROOKES, 1980 apud BATISTA, 2008
[4] POMBO, 2005
[5] Esta série de postagens é baseada na Tese, disponível na forma original em http://www.ie.ufrj.br/images/pos-graducao/pped/dissertacoes_e_teses/Fernando_Luiz_Goldman.pdf. As referências acima se referem as Referências Bibliográficas daquela Tese.

sábado, 11 de janeiro de 2014

A Dinâmica do Conhecimento Organizacional: Post 1 - O tema do conhecimento


... o tema do conhecimento deixou de ser objeto apenas da Pedagogia e da Filosofia. O conhecimento como base para a inovação tem gerado ampla literatura econômica produzida por autores neoschumpeterianos, ao lado de literatura na área de gestão do conhecimento por autores da área de Administração de Empresas[1]

A pesquisadora Wanda J. Orlikowski[2] afirma que a questão do conhecimento há muito tempo vem ocupando filósofos e sociólogos da ciência, mas é só recentemente que os pesquisadores dos diferentes tipos de arranjos organizacionais têm se interessado por este tópico. Embora nem sempre de forma explícita, o conhecimento é crescentemente reconhecido como a mais importante fonte de criação de riqueza no novo paradigma econômico, que vem se consolidando desde a década de 1980, baseado em informação, comunicação, conhecimento e inovações[3].
Neste contexto, a Economia da Inovação tem se interessado em analisar o conhecimento como elemento do Aprendizado Organizacional, assim como as Políticas Públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação têm buscado principalmente a criação e difusão do conhecimento[4]. Nas últimas décadas, essas políticas têm atraído cada vez mais atenção, como resultado da percepção de que os setores intensivos em conhecimento estão tendo um papel central no crescimento econômico dos países adiantados[5], caracterizando um novo tipo de Economia - a baseada no conhecimento - ou até mesmo uma forma completamente nova de “Sociedade do Conhecimento”, estruturada em rede[6]. Aumenta assim a importância de se definir com clareza “o que queremos dizer com conhecimento”[7].
Esta série de postagens apresenta os elementos relevantes para formar um referencial teórico sobre a Dinâmica do Conhecimento Organizacional, o que é fundamental para uma compreensão do significado de uma Economia do Conhecimento[8]. Para compreender como acontece o processo dinâmico da criação do Conhecimento Organizacional, a abordagem aqui proposta assume a necessidade de estalecer pontes conceituais entre o Conhecimento Organizacional e diferentes construtos organizacionais. Há assim a necessidade de estabelecer as ligações entre competências estratégicas, gestão do conhecimento, aprendizagem organizacional e inovação, no que Tidd[9] descreve mais especificamente, no como um arranjo organizacional “identifica, avalia e explora as suas competências e as converte em novos processos, produtos e serviços”[10].





[1] NICOLAU; PARANHOS, 2006, p. 32
[2] 2002, p. 250
[3] TIGRE, 2005, p. 206
[4] SMITH, 2000, p.1
[5] LENHARI; QUADROS, 2002
[6] CASTELLS, 2001, CAVALCANTI; NEPOMUCENO, 2006
[7] SMITH, 2000, p.1
[8] NONAKA, 1994, TAKEUCHI; NONAKA, 2008, TERRA, 2005, ROSSATTO, 2003
[9] 2006
[10] Esta série de postagens é baseada na Tese, disponível na forma original em http://www.ie.ufrj.br/images/pos-graducao/pped/dissertacoes_e_teses/Fernando_Luiz_Goldman.pdf. As referências acima se referem as Referências Bibliográficas daquela Tese.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Teoria e Prática

Prezados

Toda vez que eu vejo alguém clamando por mais pesquisa sobre Gestão Estratégica do Conhecimento Organizacional ou alguém metido em uma pesquisa doida, baseada em uma teoria que eu considero maluca, eu lembro daquela gloriosa frase de Einstein.

"Whether you can observe  a thing or not depends on the theory which you use.  It is the theory which decides what can be observed."

Forte abraço

Fernando Goldman

Ano Novo, vida nova.

Prezados

Segue meu novo cartão de visitas, com foco em Consultoria e Projetos em Gestão do Conhecimento Organizacional e Inovação.

Forte abraço

Fernando Goldman