sábado, 4 de abril de 2009

Lançamento da Revista Inteligência Empresarial

Prezados

Estive na última quinta-feira, 02 de abril, no lançamento do mais recente número da Revista Inteligência Empresarial.

O Carlos Nepomuceno, um pesquisador preocupado em entender melhor a Internet e seus desdobramentos, discutiu o tema, que é alvo de seu artigo na revista.

Questiona ele se vivemos na sociedade do conhecimento ou na sociedade da rede digital. Trata-se de tema alinhado com a indagação, também feita por ele, se: estamos afinal na primeira e única sociedade da informação ou em mais uma sociedade da informação?

São abordagens pertinentes e bem interessantes e eu mesmo já tive a oportunidade de copiar um artigo do próprio Carlos Nepumuceno para o Fórum da SBGC, em final de 2007. Ver http://webinsider.uol.com.br/index.php/2007/12/18/plataformas-de-conhecimento-decifra-me-ou-te-devoro/

Até aqui estaria tudo bem, se não fosse a perigosa outra questão levantada por ele:

"É preciso fazer a gestão do conhecimento ou a gestão das empresas na sociedade do conhecimento em rede?"

Tenho certeza de que a intenção do Carlos Nepomuceno ao fazer tal indagação é a melhor possível, mas ela é perigosa e pode fazer mais mal do que bem.

Não quero aqui contrapor minha opinião às do Nepomuceno e do Marcos Cavalcanti. Afinal quem sou eu para discordar dessas duas feras?

Na verdade, todo mundo que já estudou um pouco que seja do assunto, tem a percepção , como o Marcos Cavalcanti salientou na chamada para o evento, da idéia de que não podemos fazer a "Gestão do Conhecimento", daí o nome não ser apropriado.

Eu tenho tentado lidar com isso deixando claro que o conhecimento é uma construção humana, pessoal, intangível e biograficamente determinada, devendo sempre ser diferenciado da informação, por mais sofisticada que ela seja. O conhecimento é contextual e a não percepção desse importante fato tem trazido muitos prejuízos àqueles que saem por por aí tentando comprar alguma coisa que os ajudem a poder dizer que estão fazendo "Gestão do Conhecimento".

Venho tentando lidar com a necessidade de perceber que não se pode exagerar, nem negligenciar, a importância do conhecimento tácito e o papel do conhecedor e que o conhecimento é um fenômeno espontâneo, não podendo, nem devendo ser totalmente gerenciado, pois a forma mais segura de inibir o desenvolvimento dos fenômenos espontâneos é justamente tentar gerenciá-los .

Tenho procurado tratar da Gestão do Conhecimento Organizacional e não da "Gestão do Conhecimento". O Conhecimento Organizacional, um ativo intangível, coletivo e não individual, se corretamente trabalhado pode se constituir em um recurso da organização.

Há uma riquíssima linha de pesquisa, acadêmica e prescritiva, a respeito dos temas Conhecimento Organizacional, Capacitações Dinâmicas, Competências Essencias etc. , mas o assunto ainda é alvo de muitas discussões, devendo ser tratado com o rigor científico que sua importância exige.

Já fazer a "gestão das empresas na sociedade do conhecimento em rede" é um desafio certamente necessário e envolve alguma coisa muito mais abrangente, que eu chamo de " inovação de mudança organizacional - em contraposição à inovação tecnológica - e o Gari Hamel em seu livro "O Futuro da Administração" chama de inovação em gestão.

Aliás, estou lendo este livro atualmente e já posso recomendá-lo aos que tem interesse no assunto, como mais um elemento para reflexão, pois o tamanho da encrenca todo mundo sabe qual é.

Por isso, embora tenha gostado muito da apresentação do Carlos Nepumuceno, deixo a minha sugestão de que ele tente ver a Gestão do Conhecimento Organizacional como algo totalmente diferente de uma impossível "Gestão do Conhecimento" e como um elemento precursor da "gestão das empresas na sociedade do conhecimento em rede", que ele tanto deseja.

Forte abraço

Fernando Goldman

3 comentários:

Marcelo Yamada disse...

Tenho acompanhado os efeitos de um artigo publicado pelo Carlos Nepomuceno no WebInsider (http://webinsider.uol.com.br/index.php/2009/03/18/nao-existe-gestao-do-conhecimento-e-um-mito/) e em seu blog (http://nepo.com.br/2009/02/03/nao-existe-papai-noel-nem-gestao-de-conhecimento/), chamado "Gestão do Conhecimento não existe. É um mito.", e o que parecia assustador a princípio está se tornando interessante.

Nos dois sites (e mais em um terceiro, da blogueira seguidora Maria Carolina - http://mcarolina.wordpress.com) os comentários passaram gradualmente de "concordo plenamente, GC não existe, o que existe é gestão de informação feita da forma correta" para suspeitas de que gerenciar conhecimento corporativo envolve outras áreas de gestão - como gestão de pessoas e de processos, por exemplo.

As provocações de Nepomuceno podem ajudar a fortalecer convicções sobre GC, ao final das contas.

É claro que essa é uma estratégia desgastante - se foi uma estragégia.

Um abraço.

MY

Fernando Goldman disse...

Prezado Marcelo

Muito oportuno seu comentário. eu na verdade não sabia desses outros artigos do Carlos Nepumuceno, mas tinha percebido uma espécie de "cruzada" se formando contra a "Gestão do Conhecimento".

Não vou me alongar no comentário, pois considero mais oportuno ler os artigos do Nepomuceno e fazer uma postagem a respeito.

Vale a pena talvez comentar que embora pareça estarmos diante de opiniões conflitantes, estamos na verdade amadurecendo a idéia de que muito do que se faz por aí como sendo Gestão do Conhecimento, nada mais é do que a resposta medíocre à incapacidade de lidar com intangíveis dentro das estruturas burocráticas/hierárquicas da maioria de nossas organizações.

Portanto, tenho certeza, estamos mais alinhados do que poderia parecer a uma primeira vista.

Forte abraço

Fernando Goldman

Anônimo disse...

Prezado Fernando,

precisamos abrir o exatamente a discussão que você faz aqui neste Post.

"Tenho procurado tratar da Gestão do Conhecimento Organizacional e não da "Gestão do Conhecimento". O Conhecimento Organizacional, um ativo intangível, coletivo e não individual, se corretamente trabalhado pode se constituir em um recurso da organização."

O que temos visto é um mau uso do termo gestão do conhecimento nas empresas.

Quando você afirma que está fazendo: gestão do conhecimento das organizações, é bem diferente do que fazer a gestão de conhecimento das pessoas.

Temos o concordância a em relação a esse ponto.

Na verdade, temos várias táticas possíveis para deixar as empresas mais dinâmicas e competitivas, objetivo de todos nós.

Tenho amadurecido a discussão de que pouco importa exatamente como faremos os projetos que vão nos levar nessa direção.

Mas é importante termos uma visão mais geral e estratégica.

E isso tem faltado - e muito!

É fundamental que possamos perceber o cenário que estamos entrando.

É um momento de ruptura, de passagem, de um ambiente de toda a sociedade de algo mais hierárquico para um outro mais horizontal.

Seguindo um longo ciclo histórico.

Infelizmente, não temos tido suficiente discussão conceitual para identificar esta passagem, o que tenho tentando fazer com meus artigos, palestras e aulas.

A meu ver falta para essa discussão aprofundarmos melhor:

Qual a relação e de gestão do conhecimento e gestão e informação (ou conhecimento tácito, como se prefere dizer)?

Como podemos monitorar o ambiente externo e interno de informação e conhecimento, que mudam cada vez mais rápido?

Estamos passando por da ruptura entre uma rede baseada no ambiente escrito para o digital?

Caso sim, como vamos abordar isso nos projetos de gestão?

Não estará na hora de discutirmos apenas gestão, incorporando esse novo ambiente da rede digital, onde a informação e o conhecimento são itens fundamentais?

Sugiro aqui alguns artigos para deixar o meu ponto de vista mais claro:

http://nepo.com.br/2009/03/12/a-diferenca-entre-o-vulcao-e-a-montanha/

http://nepo.com.br/2009/03/27/tatica-demais-para-pouca-estrategia/

Coloquei sua sugestão de livro na minha lista de compras,

Grato pelo interesse, comentário, discussão,

vamos adiante,

abraços
Nepomuceno.