domingo, 12 de junho de 2011

A Gestão do Conhecimento na República dos Jabutis



Prezados


O jabuti, aquele animal de pernas curtas como a mentira, como todo mundo sabe não sobe em árvores. Diz o ditado popular que se ele está no alto da árvore é porque alguém o colocou lá. Alguém que tem poder para isso. Ainda segundo a sabedoria popular, é melhor não mexer com ele, pois se está lá é para ficar, pois representa algum interesse poderoso.


Muita gente me olha com desconfiança quando me apresento como um pesquisador da Dinâmica do Conhecimento Organizacional. Os jabutis então ficam com o casco arrepiado. Elem acreditam que o único conhecimento que realmente conta é ter conhecimento com quem manda. Muito possivelmente em muitas empresas e órgãos públicos tais pessoas estão cobertas de razão.


Quando tento me aprofundar no assunto e digo que a Era da Informação já passou e que estamos na Era da Inteligência, logo me perguntam se inteligência é sinônimo de esperteza.


Se eu disser que Gestão do Conhecimento é precursora da Inovação e da Competitividade, aí, sim, consigo uma porção de jabutis aliados. Um monte deles focados em inovar e melhorar a competitividade logo se interessam em saber que bala mágica é esta tal de Gestão do Conhecimento. Mas logo vem a decepção, quando descobrem que se trata de algo muito trabalhoso, que exige grande base conceitual, diagnósticos precisos e ações de longo prazo.


Quando descobrem que uma verdadeira Gestão do Conhecimento implicaria em reconhecer o valor dos conhecedores, gente a qual eles, os jabutis, tem verdadeiro horror, quase entram em pânico. Tudo menos dar valor aos conhecedores. Os jabutis adoram comprar sistemas que produzam conhecimento automaticamente, não importa o quanto você fale, esbraveja e esperneie que "automaticamente" é palavra armadilha quando se fala em conhecimento.


Mas logo os jabutis vão ganhando intimidade, ganham coragem, perdem a timidez e perguntam: não tem uma ferramenta tecnológica que eu possa comprar e dizer para todo mundo que eu estou fazendo Gestão do Conhecimento?


Outra pergunta freqüente é: quanto precisamos – precisamos aqui, muitas vezes, significa "podemos" – gastar para implantar um grande projeto de Gestão do Conhecimento. Mais uma vez, vem a decepção ao saber que é possível iniciar os trabalhos com ações simples e localizadas de reflexão crítica sobre os processos de conhecimento da empresa, sem gastar muito, e que não se trata de um projeto, mas de um processo, que precisa ser continuamente feito e realimentado.


Definitivamente a República dos Jabutis não é um território muito adequado para se falar seriamente em inovação e competitividade e entendê-las a fundo, pregando o cuidado com o Conhecimento Organizacional. Muito mais confortável seria seguir o exemplo dos jabutis e bater no peito se apregoando como defensor da inovação e competitividade, como muitos o fazem, mesmo no fundo sabendo que de tal proposição, evidentemente, não se demonstram os fundamentos.


Forte abraço


Fernando Goldman

3 comentários:

Ferdinand disse...

Fernando
Pelo escrito, acabas de sobreviver uma colisão com uma "revoada de jabutis"(quem souber o coletivo de "jabutis", favor informar).
Espero que não tenham feito avarias em teu aparato cognitivo.
Para estas ocasiões o aforisma do Taleb é perfeito: "In science you need to understand the world; in business you need others to misunderstand it."
Forte abraço
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando
Mudando um pouco de assunto.
Conhecimento passa por imagem, visualização, memória.
Lembras do conceito de nossa percepção ser o resultado de duas correntes uma "bottom up" e outra "top down". Estas correntes tem interação em mais de 10 loops(e quantos não serão de segunda ou maior ordem?), desde o mais primário que ocorre na retina ao mais conceitual em nosso estruturas profundas.
Só aspectos visuais muito básicos, processados pelas regiões V1 e V2 são comuns a todos humanos ( e porque não às outras espécies?). Nos níveis seguintes é tudo aprendido e reforçado pela prática.
É por isso que "significado" é uma construção de cada um.
É aí que deve morar o " Sr. TÁCITO".
Estou lendo "Visual Thinking" de Colin Ware, o foco dele é outro, projeto de aspectos visuais. Mas é fácilmente transposto para KM.
Forte abraço
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando
Acabo de ver uma palestra que vai no cerne da KM: Play! ( fazer as coisas com gosto, com entusiasmo, alegria) e acabar com os controles pelos jabutís. Só vendo em http://www.ted.com/talks/steve_keil_a_manifesto_for_play_for_bulgaria_and_beyond.html
Forte abraço
Ferdinand