Prezados
O jabuti, aquele animal de pernas curtas como a mentira, como todo mundo sabe não sobe em árvores. Diz o ditado popular que se ele está no alto da árvore é porque alguém o colocou lá. Alguém que tem poder para isso. Ainda segundo a sabedoria popular, é melhor não mexer com ele, pois se está lá é para ficar, pois representa algum interesse poderoso.
Muita gente me olha com desconfiança quando me apresento como um pesquisador da Dinâmica do Conhecimento Organizacional. Os jabutis então ficam com o casco arrepiado. Elem acreditam que o único conhecimento que realmente conta é ter conhecimento com quem manda. Muito possivelmente em muitas empresas e órgãos públicos tais pessoas estão cobertas de razão.
Quando tento me aprofundar no assunto e digo que a Era da Informação já passou e que estamos na Era da Inteligência, logo me perguntam se inteligência é sinônimo de esperteza.
Se eu disser que Gestão do Conhecimento é precursora da Inovação e da Competitividade, aí, sim, consigo uma porção de jabutis aliados. Um monte deles focados em inovar e melhorar a competitividade logo se interessam em saber que bala mágica é esta tal de Gestão do Conhecimento. Mas logo vem a decepção, quando descobrem que se trata de algo muito trabalhoso, que exige grande base conceitual, diagnósticos precisos e ações de longo prazo.
Quando descobrem que uma verdadeira Gestão do Conhecimento implicaria em reconhecer o valor dos conhecedores, gente a qual eles, os jabutis, tem verdadeiro horror, quase entram em pânico. Tudo menos dar valor aos conhecedores. Os jabutis adoram comprar sistemas que produzam conhecimento automaticamente, não importa o quanto você fale, esbraveja e esperneie que "automaticamente" é palavra armadilha quando se fala em conhecimento.
Mas logo os jabutis vão ganhando intimidade, ganham coragem, perdem a timidez e perguntam: não tem uma ferramenta tecnológica que eu possa comprar e dizer para todo mundo que eu estou fazendo Gestão do Conhecimento?
Outra pergunta freqüente é: quanto precisamos – precisamos aqui, muitas vezes, significa "podemos" – gastar para implantar um grande projeto de Gestão do Conhecimento. Mais uma vez, vem a decepção ao saber que é possível iniciar os trabalhos com ações simples e localizadas de reflexão crítica sobre os processos de conhecimento da empresa, sem gastar muito, e que não se trata de um projeto, mas de um processo, que precisa ser continuamente feito e realimentado.
Definitivamente a República dos Jabutis não é um território muito adequado para se falar seriamente em inovação e competitividade e entendê-las a fundo, pregando o cuidado com o Conhecimento Organizacional. Muito mais confortável seria seguir o exemplo dos jabutis e bater no peito se apregoando como defensor da inovação e competitividade, como muitos o fazem, mesmo no fundo sabendo que de tal proposição, evidentemente, não se demonstram os fundamentos.
Forte abraço
Fernando Goldman
3 comentários:
Fernando
Pelo escrito, acabas de sobreviver uma colisão com uma "revoada de jabutis"(quem souber o coletivo de "jabutis", favor informar).
Espero que não tenham feito avarias em teu aparato cognitivo.
Para estas ocasiões o aforisma do Taleb é perfeito: "In science you need to understand the world; in business you need others to misunderstand it."
Forte abraço
Ferdinand
Fernando
Mudando um pouco de assunto.
Conhecimento passa por imagem, visualização, memória.
Lembras do conceito de nossa percepção ser o resultado de duas correntes uma "bottom up" e outra "top down". Estas correntes tem interação em mais de 10 loops(e quantos não serão de segunda ou maior ordem?), desde o mais primário que ocorre na retina ao mais conceitual em nosso estruturas profundas.
Só aspectos visuais muito básicos, processados pelas regiões V1 e V2 são comuns a todos humanos ( e porque não às outras espécies?). Nos níveis seguintes é tudo aprendido e reforçado pela prática.
É por isso que "significado" é uma construção de cada um.
É aí que deve morar o " Sr. TÁCITO".
Estou lendo "Visual Thinking" de Colin Ware, o foco dele é outro, projeto de aspectos visuais. Mas é fácilmente transposto para KM.
Forte abraço
Ferdinand
Fernando
Acabo de ver uma palestra que vai no cerne da KM: Play! ( fazer as coisas com gosto, com entusiasmo, alegria) e acabar com os controles pelos jabutís. Só vendo em http://www.ted.com/talks/steve_keil_a_manifesto_for_play_for_bulgaria_and_beyond.html
Forte abraço
Ferdinand
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