Prezados
A exemplo de Tiwana (2000, p.129), que divide o conhecimento em três grandes categorias: essencial, avançado e inovador, diferentes pesquisadores, há muito tempo, vêm usando diferentes tipos de classificações para o conhecimento, visando facilitar sua análise.
Aristóteles, por exemplo, distinguiu três tipos de conhecimento: epistèmè, technè e phronesis. Epistèmè seria o conhecimento universal e teórico. Technè seria o conhecimento que é instrumental, específico ao contexto e relacionado à prática. Phronesis seria o conhecimento relacionado à sabedoria prática.
Talvez para Aristóteles esta classificação tenha sido útil, mas não faltam pesquisadores propondo novas classificações, visando melhor lidar com o conhecimento. Elas não necessariamente se anulam, podendo uma determinada análise envolver mais de um tipo de classificação.
Outro exemplo de classificação é a famosa distinção feita por Ryle (1949) entre know how (algo próximo a conhecer) e know that (algo próximo a saber). Ryle afirma que estes dois aspectos do conhecimento são complementares. O know how ajuda a acionar o know that, mas para Ryle eles não são, de forma alguma, intercambiáveis entre si. A acumulação de know that não leva ao know how. Segundo Ryle, adquirimos know that na forma explícita, como informação codificada. Em contraste, Ryle argumenta, o know how vem pela prática.
Já Lundvall e Johnson (2001) dividiram o conhecimento em quatro categorias, inicialmente aplicáveis no nível do indivíduo. Eles propõem que a mesma lógica possa ser aplicada para o que eles definem como competências no nível dos arranjos organizacionais e das regiões.
Assim, para eles, o conhecimento individual é composto por "know-what", "know-why", "know-how" e "know-who". A tabela abaixo indica as correspondências propostas por eles entre os diferentes níveis ontológicos.
Tipo de conhecimento propostos por Lundvall e Johnson (2001) | ||
Nível individual | Nível dos arranjos organizacionais | Nível regional |
know-what | Informação compartilhada - bases de dados | Cultura |
know-why | Mesmos modelos de interpretação (incluindo narrativas na empresa) | Povo |
know-how | Rotinas compartilhadas | Instituições |
know-who | Redes compartilhadas | Redes |
O know-what se refere ao conhecimento sobre "fatos". Lundvall e Johnson exemplificam com coisas como saber o número de pessoas que vivem
O know-why se refere ao conhecimento sobre os princípios e leis da natureza, da mente humana e da sociedade. Lundvall e Johnson destacam que este tipo de conhecimento tem sido extremamente importante para o desenvolvimento tecnológico em determinados setores de base científica, como o químico, o elétrico e as indústrias eletrônicas. O acesso a este tipo de conhecimento, muitas vezes, permite avanços na tecnologia e reduz a freqüência de erros nos procedimentos que envolvem a experimentação e erro.
O know-how se refere às competências - ou seja, a capacidade de fazer algo. Pode estar relacionado com as habilidades de artesãos e trabalhadores da produção, mas, na verdade, ele desempenha um papel fundamental em todas as atividades econômicas importantes. Lundvall e Johnson chamam atenção para o fato de que, por exemplo, um empresário ao julgar as perspectivas de seu mercado para um novo produto ou um gerente de pessoal ao selecionar e treinar pessoas usam seu know-how.
Lundvall e Johnson destacam que seria um engano caracterizar o know-how como puramente prático, sem nada de teórico. Eles argumentam que uma das análises mais interessantes e profundas do papel e da formação do know-how é realmente sobre a necessidade dos cientistas para a formação de habilidades e conhecimentos pessoais (Polyani, 1958/1978). Até mesmo o encontrar a solução para problemas complexos de matemática é mais baseado na intuição e em habilidades relacionadas ao reconhecimento de padrões que estão enraizados na experiência de aprendizagem do que na simples realização de uma série de operações lógicas previstas.
O know-how seria tipicamente um tipo de conhecimento desenvolvido e mantido dentro das fronteiras de uma empresa ou de um grupo. À medida que a complexidade da base de conhecimento aumenta, no entanto, a cooperação entre diferentes arranjos organizacionais tende a se desenvolver. Uma das razões mais importantes para redes industriais é a necessidade de as empresas serem capazes de compartilhar e integrar elementos de know-how. Redes similares poderão, pelas mesmas razões, ser formadas entre equipes de investigação e laboratórios.
Esta é uma razão pela qual o know-who torna-se cada vez mais importante. A tendência geral em direção a uma base de conhecimento mais abrangente, com novos produtos tipicamente combinando diversas tecnologias, enraizadas em diferentes disciplinas científicas torna o acesso a diversas fontes de conhecimento cada vez mais essencial.
Assim, o know-who envolveria informações sobre quem sabe o quê e quem sabe o que fazer. Mas também envolve a habilidade social de cooperar e se comunicar com diferentes tipos de pessoas e especialistas.
Forte abraço
Fernando Goldman
3 comentários:
Fernando
Obrigado pela excelente exposição.
São diversos aspectos tentando caracterizar um "constructo complexo", que para mim permanece dentro da caixa preta.
Forte abraço
Ferdinand
Fernando
nesta caixa preta a que chamo de conhecimento existem alguns componentes que podemos nomear.
- Memórias, atual e de episódios passados.
- Atos de pensar, com e sem linguagem.
- No pensar, construção de hipóteses tanto para o futuro como para o passado ( do que desconhecemos).
- Capacidade de manter em nossa mente(imaginar)sistemas enormes, com auxílio ou não de mapas externos, permitindo uma ação eficaz.
- Motivação para agir- identificação de oportunidades ou defesa de situações de perigo.
Certamente tem mais, muito mais, mas não me ocorre agora.
Abração
Ferdinand
Fernando
Hoje ví a seguinte citação:
"It requires a very unusual mind to undertake the analysis of the obvious." - Alfred North Whitehead
Onde pensar, divagar, imaginar, fantasiar é bastante fácil desde que não tenhas nenhuma obrigação a cumprir.
Obter um resultado consistente com o exercício de pensamento é um pouco mais difícil.
Extrair “significado” do óbvio enquanto não é ainda do domínio das massas, é disso que fala o Whitehead.
Logo o pensar que resulte em conhecimento de aplicabilidade prática e que envolva baixo risco de fracasso não é uma tarefa assim tão trivial.
Fica a pergunta, quem é quem em GC (KM)?
Abordagens e escopo devem ser diferentes quer você seja da administração ou executor interface com seus clientes externos.
Abração
Ferdinand
Postar um comentário