segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Diferentes Tipos de Conhecimento


Prezados

A exemplo de Tiwana (2000, p.129), que divide o conhecimento em três grandes categorias: essencial, avançado e inovador, diferentes pesquisadores, há muito tempo, vêm usando diferentes tipos de classificações para o conhecimento, visando facilitar sua análise.

Aristóteles, por exemplo, distinguiu três tipos de conhecimento: epistèmè, technè e phronesis. Epistèmè seria o conhecimento universal e teórico. Technè seria o conhecimento que é instrumental, específico ao contexto e relacionado à prática. Phronesis seria o conhecimento relacionado à sabedoria prática.

Talvez para Aristóteles esta classificação tenha sido útil, mas não faltam pesquisadores propondo novas classificações, visando melhor lidar com o conhecimento. Elas não necessariamente se anulam, podendo uma determinada análise envolver mais de um tipo de classificação.

Outro exemplo de classificação é a famosa distinção feita por Ryle (1949) entre know how (algo próximo a conhecer) e know that (algo próximo a saber). Ryle afirma que estes dois aspectos do conhecimento são complementares. O know how ajuda a acionar o know that, mas para Ryle eles não são, de forma alguma, intercambiáveis entre si. A acumulação de know that não leva ao know how. Segundo Ryle, adquirimos know that na forma explícita, como informação codificada. Em contraste, Ryle argumenta, o know how vem pela prática.

Já Lundvall e Johnson (2001) dividiram o conhecimento em quatro categorias, inicialmente aplicáveis no nível do indivíduo. Eles propõem que a mesma lógica possa ser aplicada para o que eles definem como competências no nível dos arranjos organizacionais e das regiões.

Assim, para eles, o conhecimento individual é composto por "know-what", "know-why", "know-how" e "know-who". A tabela abaixo indica as correspondências propostas por eles entre os diferentes níveis ontológicos.

Tipo de conhecimento propostos por Lundvall e Johnson (2001)

Nível individual

Nível dos arranjos organizacionais

Nível regional

know-what

Informação compartilhada - bases de dados

Cultura

know-why

Mesmos modelos de interpretação (incluindo narrativas na empresa)

Povo

know-how

Rotinas compartilhadas

Instituições

know-who

Redes compartilhadas

Redes

O know-what se refere ao conhecimento sobre "fatos". Lundvall e Johnson exemplificam com coisas como saber o número de pessoas que vivem em Nova York, os ingredientes de que são feitas as panquecas, a data da batalha de Waterloo. Este tipo de conhecimento está muito próximo do que normalmente chamaríamos de informações - podendo ser dividido em pedaços (bits) e comunicado como dados. Naturalmente, seria um conhecimento preponderantemente explícitável.

O know-why se refere ao conhecimento sobre os princípios e leis da natureza, da mente humana e da sociedade. Lundvall e Johnson destacam que este tipo de conhecimento tem sido extremamente importante para o desenvolvimento tecnológico em determinados setores de base científica, como o químico, o elétrico e as indústrias eletrônicas. O acesso a este tipo de conhecimento, muitas vezes, permite avanços na tecnologia e reduz a freqüência de erros nos procedimentos que envolvem a experimentação e erro.

O know-how se refere às competências - ou seja, a capacidade de fazer algo. Pode estar relacionado com as habilidades de artesãos e trabalhadores da produção, mas, na verdade, ele desempenha um papel fundamental em todas as atividades econômicas importantes. Lundvall e Johnson chamam atenção para o fato de que, por exemplo, um empresário ao julgar as perspectivas de seu mercado para um novo produto ou um gerente de pessoal ao selecionar e treinar pessoas usam seu know-how.

Lundvall e Johnson destacam que seria um engano caracterizar o know-how como puramente prático, sem nada de teórico. Eles argumentam que uma das análises mais interessantes e profundas do papel e da formação do know-how é realmente sobre a necessidade dos cientistas para a formação de habilidades e conhecimentos pessoais (Polyani, 1958/1978). Até mesmo o encontrar a solução para problemas complexos de matemática é mais baseado na intuição e em habilidades relacionadas ao reconhecimento de padrões que estão enraizados na experiência de aprendizagem do que na simples realização de uma série de operações lógicas previstas.

O know-how seria tipicamente um tipo de conhecimento desenvolvido e mantido dentro das fronteiras de uma empresa ou de um grupo. À medida que a complexidade da base de conhecimento aumenta, no entanto, a cooperação entre diferentes arranjos organizacionais tende a se desenvolver. Uma das razões mais importantes para redes industriais é a necessidade de as empresas serem capazes de compartilhar e integrar elementos de know-how. Redes similares poderão, pelas mesmas razões, ser formadas entre equipes de investigação e laboratórios.

Esta é uma razão pela qual o know-who torna-se cada vez mais importante. A tendência geral em direção a uma base de conhecimento mais abrangente, com novos produtos tipicamente combinando diversas tecnologias, enraizadas em diferentes disciplinas científicas torna o acesso a diversas fontes de conhecimento cada vez mais essencial.

Assim, o know-who envolveria informações sobre quem sabe o quê e quem sabe o que fazer. Mas também envolve a habilidade social de cooperar e se comunicar com diferentes tipos de pessoas e especialistas.

Forte abraço

Fernando Goldman


3 comentários:

Ferdinand disse...

Fernando
Obrigado pela excelente exposição.
São diversos aspectos tentando caracterizar um "constructo complexo", que para mim permanece dentro da caixa preta.
Forte abraço
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando
nesta caixa preta a que chamo de conhecimento existem alguns componentes que podemos nomear.
- Memórias, atual e de episódios passados.
- Atos de pensar, com e sem linguagem.
- No pensar, construção de hipóteses tanto para o futuro como para o passado ( do que desconhecemos).
- Capacidade de manter em nossa mente(imaginar)sistemas enormes, com auxílio ou não de mapas externos, permitindo uma ação eficaz.
- Motivação para agir- identificação de oportunidades ou defesa de situações de perigo.
Certamente tem mais, muito mais, mas não me ocorre agora.
Abração
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando

Hoje ví a seguinte citação:
"It requires a very unusual mind to undertake the analysis of the obvious." - Alfred North Whitehead
Onde pensar, divagar, imaginar, fantasiar é bastante fácil desde que não tenhas nenhuma obrigação a cumprir.
Obter um resultado consistente com o exercício de pensamento é um pouco mais difícil.
Extrair “significado” do óbvio enquanto não é ainda do domínio das massas, é disso que fala o Whitehead.
Logo o pensar que resulte em conhecimento de aplicabilidade prática e que envolva baixo risco de fracasso não é uma tarefa assim tão trivial.
Fica a pergunta, quem é quem em GC (KM)?
Abordagens e escopo devem ser diferentes quer você seja da administração ou executor interface com seus clientes externos.
Abração
Ferdinand