quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Res: Insistindo no "conhecimento"


Prezados

O nosso querido Ferdinand, o leitor que mais dá vida a este blog, me enviou umas questões, que pelo excelente nível, eu gostaria de postar aqui, pois tenho certeza de que seus questionamentos poderão ser úteis para muitos de nós, inclusive para mim, que os respondo.

Assim, peço licença ao Ferdinand para responder suas perguntas em forma de postagem e incentivo outros leitores a usarem o mesmo expediente.

Texto em azul adicionado em 21/12/2010 por Ferdinand

Texto em vermelho adicionado em 22/12/2010 por Fernando Goldman


Postagem original em domingo, 18 de abril de 2010

Diferenciando Conhecimento e Informação

Prezados

Entre as muitas características do conhecimento algumas parecem contraditórias. O s seguintes aspectos merecem atenção especial quando pretendemos distinguir o conhecimento de informação :

1 - conhecer é um ato exclusivamente humano;
Tenho dúvidas. Veja as palestras TED do Bart Weetjens- How I taught rats to snif out land mines, ou a do Ian Dunbar on dog-friendly dog training.

Vão argumentar que é por condicionamento.

Concordo.

Só que o processo é tão complexo que não podemos ter certeza que é apenas condicionamento.

Será que um animal de estimação não "conhece" o dono?

"O conhecer", "o pensar", nos animais pode existir. Nós é que não temos sido capazes de perceber isto de uma forma definitiva.

Não é possível que os animais sejam apenas "autômatos", sem vontade, sem emoções.

Longe disso. Animais não são apenas autômatos, sem vontade, sem emoções. Eu tenho uma "cã", como nós carinhosamente lhe chamamos lá em casa e sei bem disso.

Acontece que os estudos da cognição, psicologia, psicoterapia animal, neurociência e do cérebro vem definindo as diferenças entre os cérebros de seres humanos e animais de diferentes espécies. Se definimos conhecimento como "capacidade de ação eficaz", não podemos esperar que nossos queridos amigos tenham a mesma capacidade de ação de um ser humano, embora muitas vezes sejam capazes de nos surpreender agradavelmente e outras nem tanto.

Para discussão mais detalhada da distinção entre o cérebro humano e o de alguns animais, em especial dos cães, sugiro uma olhada no Livro Inteligência Emocional - Goleman, o qual li há alguns anos. Não tenho aqui a referência completa, mas é muito conhecido.


2 - o conhecimento é dinâmico, nunca estático (diferentemente da informação);

OK, por definição!

É o ato de pensar, perceber, existir!

O ato de conhecer está associado ao ato de pensar, embora não sejam o mesmo ato.



3 - o conhecimento é o resultado do pensamento (não é possível criar conhecimento sem o ato de pensar);

Sim, se aí incluirmos a imaginação, emoções e todos os processos que acontecem no subconsciente.


ok!


4 - o conhecimento é criado no momento presente;
Sim.

O conhecimento é criado no "working memory" mas sem a interveniência da memória, esqueça!

O processo não funcionaria.

Lembre-se da tríade indução - dedução- abdução.


5 - o conhecimento é um fenômeno social - pertence às comunidades, embora, devido a imperfeições, nem todo conhecimento presente em uma comunidade contribua para seu conhecimento organizacional;

Tenho uma enorme dificuldade em concordar, mas ainda não tenho argumentos .
???

Pergunto como acomodar o conhecimento gerado pelos grandes matemáticos, que geralmente trabalhavam reclusos?

Hoje, a sociologia percebe com clareza que são as estruturas sociais que permitem que determinados pensadores (por mais que no distante contexto da história parecessem reclusos) tenham produzido ideias capazes de alavancar a humanidade. Os mecanismos de incentivo ou de desencentivo, bem como os de divulgação ou de repressão criam as circunstâncias para que o gênio se manifeste.

Dizer que o conhecimento é um fenômeno social não tira o valor da construção individual do cohecimento. Veja uma postagem antiga de seu amigo Clemente Nóbrega que, se não estou enganado, tinha o título de Por que o Brasil é ruim de inovação. Nesta linha eu sou fã de carteirinha do Douglas North de 1990.


6 - conhecimento circula através de comunidades de várias maneiras. Ele é coisa e fluxo;

O conhecimento flui se vencidas muitas barreiras, entre as quais:

NIH –not invented here

NWTS – not willing to share

NWTA – not willing to ask

and?



7 - o conhecimento é criado nas fronteiras do conhecimento existente;

Sim, mas isso na própria mente de cada um.

Acho que você está abrindo mão de um componente muito importante, talvez o mais importante: contexto.

Na mente de cada um de nós vai nascendo todo um universo, e cada um chega a um limite próprio.

A fronteira do conhecimento absoluto da humanidade de hoje foram empurradas para tão longe que é inalcançável para cidadãos comuns. Parte das fronteiras são propriedade dos ditos "gênios".

Pegando um gancho neste seu importante comentário, vale lembrar que em qualquer arranjo organizacional o conhecimento não se difunde instantaneamente, nem igualmente. Não podemos nos abstrair da abordagem política do conhecimento. Por outro lado, importante entender também que sendo o conhecimento uma construção individual, sempre haverá os indivíduos que mudarão o modo como vemos as coisas. Alguns são reconhecidos como gênios.



8 - gerir o Conhecimento Organizacional envolve sistemas de informação, mas principalmente os fatores humanos; e o mais importante, surpreendente e difícil de aceitar na prática pelos tecnólogos de plantão:

Não houve comentário a este item.

9 - no seu processo de criação, o conhecimento é tanto um produto final como uma matéria-prima. Em outras palavras, o conhecimento é cumulativo.

Me parece um processo mais complexo que meramente cumulativo:

Cumulativo aqui não pode ser interpretado aritmeticamente.

Acumula enquanto não quebra o paradigma vigente.

Quebrando o paradigma, pode sinalizar as prováveis hipóteses do novo paradigma.

Neste processo a acumulação anterior pode ter apenas valor histórico.

Deve ter uma teoria mais recente do que a do T Kuhn cobrindo estes processos.

Bem, não sei o quanto você está familiarizado com as ideias dos neo-schumpeterianos e com a Teoria Evolucionária da Mudança Econômica, mas suas ansiedades são cobertas pela ideia de Path Dependence.



Forte abraço

Fernando Goldman

5 comentários:

Ferdinand disse...

Fernando

Outro aspecto que incomoda é o uso indiscriminado da palavra "informação".

Uma massa de dados ainda por ordenar, classificar, fazer emergir o significado de informação, devia continuar a ser chamada de "dados".

Informação, é o que conseguímos extrair dos dados por uma heurística de nossa escolha.

Para consubstanciar uma decisão, é de informação que precisamos e não de uma massa disforme de dados!

Mas já aparece uma dificuldade. Hoje com o poder da computação e de ferramentas na rede, não mais se precisam de teorias ou modelos para extrair significado de uma massa de dados. Novas heurísticas já estão disponíveis como bem menciona o Clemente em um de seus posts (não me lembro qual).

Não conheço ninguém usando esta distinção, mas penso que seria uma vantagem sermos mais "accurate".

Abração
Ferdinand

Fernando Goldman disse...

Prezado Ferdinand

A caracterização e definição de dados, informação e conhecimento tem levado pesquisadores a dedicarem muito texto e massa cinzenta ao assunto.

Cada um, de acordo com suas necessidades. Daí o motivo de tanta confusão sobre o assunto.

Antes de pensar sobre o que são dados, informação e conhecimento é preciso pensar como pretendemos usá-los.

Para nosso objetivo imediato, que é entender a dinâmica do conhecimento organizacional, devemos ser mais pragmáticos.

Veja as postagens:

http://kmgoldman.blogspot.com/2010/08/mais-sobre-diferenca-entre-informacao-e.html

http://kmgoldman.blogspot.com/2008/09/dado-informao-conhecimento-e-competncia.html

http://kmgoldman.blogspot.com/2008/01/mensagem-originalmente-postada-na.html

Forte abraço

Fernando Goldman

Ferdinand disse...

Fernando
Ví os posts indicados.
Já tinha lido anteriormente.
Não lembrava mais.
Preciso pensar.
Abração
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando
Olha o que emerge desta última troca de comentários. Os textos estão no mundo 3 do Popper. O significado que cada um dos leitores atribuir, estará apenas no mundo 2 de cada um.
Veja bem, teu mundo 2, te permite discorrer com fluidez sobre este assunto, pois tens armazenado ( não no sentido aritmético) mais conhecimento do que eu.
Eu, só para acompanhar, tenho que buscar dados no mundo 3, captá-los no meu mundo 2, o que é custoso ( tempo e energia). Deve ser mais ou menos claro para cada um entender que esta captação tem velocidade limite, e que cada um está em determinado estágio de captação. Eu posso precisar ler um artigo mais de uma vez para que o mesmo faça algum sentido para mim ( melhor dizendo, para que eu consiga atribuir um sentido para o que estou decodificando na leitura).
Emerge uma boa conceituação de pessoa com conhecimento versus pessoa buscando conhecimento.

O que os gerentes de organizações não percebem é que é preciso transferir a informação dos procedimentos para a base de conhecimento de cada colaborador. Só que esta transferência não é no mundo 1 ou 3 do Popper, e sim no mundo 2. O procedimento tem que ser captado, tem que emergir dentro da mente de cada um, tem que fazer sentido. Bem sentido vai sempre fazer, se for percebido. Neste contexto vale qualquer coisa. Para que seja útil dentro de uma TCCO é que este sentido precisa estar sintonizado com lógica e balizado com o que percebemos como realidade.
Ainda não está bom.
Abração
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando
Acabo de ver a palestra da Berne Brown - The power of vulnerability.
Ela descreve o processo do "deep understanding" e sentimentos que interveem no processo cognitivo.
Entender, compreender, sentir, perceber.
Boa palestra, mas por ainda não ter legendas em inglês me escaparam algumas colocações. Vou ver de novo nos próximos dias.
Forte Abraço
Ferdinand