O nosso amigo Ferdinand encaminhou um comentário:
Fernando
Temos uma questão a ser pensada.
A turma que usa o método TRIZ, simplifica bastante a necessidade de conhecimento nas organizações. Penso que muitos devem achar que a é a solução para a inovação. Como isto deve impactar as organizações e o ambiente econômico. Quais os prós e contras que poderíamos alinhavar para cada um dos caminhos?
Forte abraço
Ferdinand
Minha resposta:
Andei lendo sobre os 40 princípios do método TRIZ e eles me pareceram muito sábios, mas passíveis de serem resumidos numa máxima bem conhecida: “se você faz uma pergunta há 50 anos e não obtém uma resposta adequada, talvez esteja na hora de mudar a pergunta”.
Bem, antes de tudo, gostaria de reafirmar que não conheço em detalhes o método TRIZ. Assim, não gostaria de fazer mais comentários sobre o mesmo. Todos os comentários que farei aqui dizem respeito a um método qualquer que possa ser oferecido a uma empresa.
As empresas focam cada vez mais na necessidade de desenvolver aquilo que Selznick chamou de competências distintivas. Aquilo que propicia vantagens competitivas sustentáveis, na linguagem da Visão Baseada em Recursos.
Estamos falando de maneiras próprias de ver o mundo e fazer as coisas. Diferenciação é o caminho para a longevidade. Fazer coisas que sejam valiosas, raras e difíceis de imitar pelos competidores, conforme Barney bem conceituou em seu framework VRIO.
Estamos falando de criar competitividade, que em última análise propicia sustentabilidade à empresa. A longevidade da empresa, resultado de sua sustentabilidade ao longo do tempo, em todas as dimensões, resulta não só de suas capacitações estáticas para agir no dia-a-dia de forma eficiente, como também de suas capacitações dinâmicas para agir eficazmente em ambientes de rápida mudança.
Tais capacitações resultam da forma como suas pessoas trabalham. Dependem do conhecimento das pessoas e da forma como o conhecimento das pessoas emerge no Conhecimento Organizacional, responsável pela forma como a empresa age.
As empresas e outros arranjos organizacionais "sabem como fazer determinadas coisas". A maioria das atividades desenvolvidas por uma empresa envolve coordenação e integração de conhecimentos. Não é de se esperar que uma só mente humana possa possuir todo conhecimento necessário à execução de uma atividade. Se pudesse, não se precisaria de uma empresa para fazê-la.
Se é assim que o mundo funciona, de alguma forma as empresas têm capacitação para fazer as coisas. Elas não só sabem como fazer as coisas, como também que coisas fazer.
O que estudamos aqui neste blog é a idéia de que esse "conhecimento organizacional", um ativo intangível específico de cada empresa, é um fenômeno real - totalmente diferenciado de um mero conhecimento coletivo - e que é muito importante entender quais os princípios que regem a forma como esse conhecimento organizacional é adquirido, mantido, ampliado e, por vezes, perdido. Em uma outra palavra: gerido.
Desenvolver o conhecimento idiossincrático*, o que dá sentido a formas distintas da empresa fazer as coisas, é reconhecido como cada vez mais importante. O conhecimento idiossincrático, por sua vez, implica na constante criação do conhecimento, tanto individual como organizacional. Importante lembrar que entre as características mais importantes do conhecimento está sua rápida obsolescência.
Na Teoria da Criação do Conhecimento Organizacional toma-se como premissa que o conhecimento organizacional se cria a partir do conhecimento criado pelos indivíduos e que a inovação é um fim, do qual a criação do conhecimento é um meio.
É precisamente por causa do conhecimento tácito dos indivíduos envolvidos na criação do conhecimento organizacional que as formas idiossincráticas de fazer as coisas em uma empresa são difíceis de imitar. Tudo isto porque o conhecimento realmente diferenciador, entendido como capacitação para ação eficaz, não pode ser comprado em um mercado aberto. Ele tem de ser criado, o que requer tempo, esforço, e quase sempre um contexto específico (organizacional e institucional), que é difícil de reproduzir em uma empresa diferente daquela em que ele se originou.
Em resumo, um método que esteja disponível a qualquer um, em um mercado aberto, pode até ser muito útil de ser aplicado em determinada empresa, mas não será capaz de por si só criar vantagem competitiva sustentável.
Forte abraço
Fernando Goldman
* O termo idiossincrático diz respeito à disposição particular de um indivíduo para reagir a determinados agentes exteriores.
3 comentários:
Fernando
Estive vagabundeando e descobrí umas pérolas.
No blog do marcelocherto. blogspot.com no post do dia 13/12 tem uma sequência de 5 filmes do TONY HSIEH, da Zappos, falando a alunos de Empreendedorismo em Stanford. Um pouco mais longe, no dia 09/12 tem outro filme "Os valores da Zappos".
Absolutamente imperdíveis e relacionados com o assunto aqui tratado.
Forte abraço
Ferdinand
Fernando
Não podia deixar passar.
Teu blog, foi o que me deu mais trabalho este ano.
Não é o único que frequento, estou abrindo o leque.
Primeiro só interagia com o Clemente, mas em um nível muito, digamos, "leve", pois gestão não é minha praia.
Vez por outra lia algum outro, mas sem comentar (que é o que faz a maior parte dos leitores).
Cheguei ao teu blog via google, quando estava querendo saber o que é exatamento o "KM" que o Hollnagel mencionava.
Estranho.
De repente se abriu todo um mundo novo.
Tinha bem pertinho, aqui mesmo um "fera" no assunto.
Normalmente não sou de muitas palavras, especialmente com estranhos.
Mas você, não sei bem porque, me deixou à vontade.
Tenho certeza que também te dei um bocado de trabalho.
Não é nada fácil elaborar materiais consistentes em resposta a um tiroteio de perguntas, muitas vezes mal formuladas.
De minha parte acho que o encontro foi muito positivo.
Aprendí um bocado de coisas ( me sinto cada vez mais perto do limite de Sócrates: Só sei que nada sei).
Espero que tenhas continuada inspiração e paciência para "aturar" este aprendiz irrequieto.
Feliz 2011
Forte abraço
Ferdinand
Prezado Ferdinand
Agradeço suas palavras.
Forte abraço
Fernando Goldman
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