Você questiona a correlação direta entre conhecimento e inovação. Então você questiona a TCCO.
Para tornar a relação entre conhecimento e inovação mais clara, sem usar um texto de Nonaka, vou apelar para Coriat. Coriat faz parte de uma linha de autores que entendem a mudança econômica como fruto das inovações introduzidas pelas empresas.
Segue um interessante parágrafo dele, traduzido por mim, que ajuda a entender a preocupação de criar ferramentas para lidar com a mudança econômica, que nos nosso dias se acelera e por isso tem de ser melhor entendida.
A representação da tecnologia e do progresso tecnológico na economia padrão é sempre reduzida a uma visão bastante simplificada. Tecnologia e mudança técnica são consideradas como fatores exógenos, resultantes de um determinado estado do conhecimento (supostamente disponível e utilizável por todas as empresas), expressa em um "projeto" e são representados por funções de produção. Tal raciocínio abrange não somente a técnica em seu sentido restrito, mas também as estruturas organizacionais - especialmente ao nível das empresas - e para o ambiente institucional no qual as capacidades das empresas e as nações são baseadas. Inovação, em tais condições, não pode deixar de ser tratado como dádiva de Deus, ou como produto da criatividade de indivíduos excepcionais ", o que é aproximadamente a mesma coisa. [...] Com efeito, além de levar em conta fatores importantes como P & D ou a educação, eles continuam a considerar o sistema de produção e os atores e organizações que contribuem para a inovação tecnológica e organizacional como uma enorme caixa preta.*
Gosto muito da frase que eu coloquei em negrito, que bem denota o fato de que estamos falando da inovação sistemática, ou seja, a capacitação (dinâmica) que a firma tem para inovar. Estamos aqui tentando abrir a caixa preta.
Forte abraço
Fernando Goldman
* CORIAT B. ; WEINSTEIN O. Organizations, firms and institutions in the generation of innovation, Research Policy, v. 31, n. 2 pp. 273-290, 2002.
9 comentários:
Prezado Fernando
Vejo (entendo) este seu post como uma disrupção ou mesmo como uma mudança de paradigma.
Passamos da granulação grosseira do modelo do Nonaka para o desconhecido....."a caixa preta". Concordo que inovação é uma dádiva dos Deuses!
Citando meu melhor chefe, já na decada de 70 "diploma não diminue o tamanho das orelhas de ninguém". Ou seja instrução(conhecimento) não faz do indivíduo um Da Vinci. Bem verdade que se num ambiente organizacional, o nível de conhecimento formal é alto, fica en tese mais fácil fazer funcionar a organização. Os empregados saem da situação de meros robots, e podem te auxiliar na mais rápida retomada de equlíbrio quando de uma perturbação em seu funcionamento.
O que conceituo como inovação é mais ou menos o seguínte:
Quando passas da charrete para o carro a gasolina.
Do motor a gasolina para o jato em aviação.
Do telégrafo, para o telefone e depois para o celular.
Já o Clemente Nobrega define inovação de uma forma mais geral,a tudo que gera dinheiro novo em uma organização.
A que é que se refere a denominada "inovação sistemática"?
Desculpe se pareço agressivo ou inconveniente por vezes ( essa é a maior queixa de minha amada esposa).
Forte abraço
Ferdinand
Fernando
Quando dizes: "Estamos aqui tentando abrir a caixa preta". Já pensastes que na dita caixa só tem raposas!
Esse pessoal incorpora 100% "O Príncipe" de Maquiavel e o Sun-Tzu.
Já aí temos um paradoxo a resolver.
Normalmente se administra espalhando o medo, e sabemos que o medo bloqueia a criatividade. A cadeia de hierarquias inibe o que é apresentado para cima, só passa o que é políticamente adequado. Ai temos um completo descolamento da realidade, quem precisava de uma visão clara é presenteado com a informação em tom de rosa.
Temo que a KM só decole com as novas gerações, que já a tenham incorporado antes de exercerem o poder. Para que platéia a KM está sendo apresentada/vendida?
Abração
Ferdinand
Fernando
Não tenho visto nenhuma referência a Genrikh Altshuller no material de KM revirado até agora.
O método TRIZ, não mereçe ser uma das ferramentas inclusas na caixa preta da KM?
Abraço
Ferdinand
Prezado Ferdinand
Você não parece nem agressivo, nem incoveniente. Ao contrário, você tem me ajudado muito a melhor desenvolver este blog, do qual você já é quase sócio.
Quando escrevemos, corremos mesmo o risco de parecermos agressivos. Principalmente quando acreditamos muito no que estamos escrevendo.
A garotada usa umas carinhas e alguns sinais, tipos rs...rs...rs, para arredondar o diálogo.
De qualquer forma, seus comentários são muito bem vindos.
Só te pediria a gentileza de ao fazer um comentário, esperar minha resposta, para então fazer outro ( de preferência na última postagem feita. Acredito que isto me permitiria responder a cada um de seus comentários e mesmo decidir quando uma resposta a um deles deve evoluir para uma nova postagem.
Acredito que isto melhoraria a dinâmica de nosso diálogo, permitindo que os outros leitores do blog ( eles existem) possam melhor acompanhar suas participações.
No mais, continue mandando seus importantes comentários.
Forte abraço
Fernando Goldman
Fernando
Tenho encontrado em teu blog, eco para discutir um assunto para o qual não é fácil encontrar um interlocutor. Acho que a maioria das pessoas enxega a KM como um campo sagrado! Melhor não bulir. O próprio conhecimento é amargo, pois a natureza é o que é, e não considera nossas vontades.
Anteontem ví por acaso uma definição inteligente de felicidade: Счастье - это когда желаемое совпадает с неизбежным!
Sim! E daí?
Passando pelos algoritmos do tradukka temos:
Happiness - is when the desired coincides with the inevitable!
Olha que legal, se você desejar o inevitável, ainda podes ser feliz!
Só que tens que prever este inevitável, que é como funciona a mãe natureza.
Achei a definição o máximo.
Como poderia ler isso do cirílico?
Uma imersão total por anos daria jeito.
Mas não precisa mais.
É uma felicidade ter acesso a isso tudo. A esse conhecimento.
Abração
Ferdinand
Fernando
Não entendí quando você menciona a frase em negrito e afirma que estamos falando de inovação sistemática. Em negrito está referido justo a inovação disruptiva (radical).
Abração
Ferdinand
Prezado Ferdinand
Na verdade, aqui não está em questão se a inovação é incremental ou disruptiva.
O que os autores discutem é como ocorre a mudança econômica. A economia neoclássica não é bem equipada para entender o caráter dinâmico da economia, que está em constante mudança.
Schumpter havia proposto a inovação como elemento propiciador da mudança econômica.
Veja meu texto "Podemos ainda aprender com Nonaka e Takeuchi?" para uma discussão um pouco mais detalhada do assunto.
O texto de Coriat e Weinstein, aqui citado, discute que a inovação hoje é perseguida de forma sistemática pelos arranjos organizacionais, especialmente pelas firmas.
Forte abraço
Fernando Goldman
Fernando
O que ocorre nas firmas é que quem comanda geralmente não detem o conhecimento (não esqueça que são as raposas que comandam). Se o comandante aponta para o caminho das melhorias incermentais é mais ou menos fácil tocar o processo. Mudanças disruptivas não ocorrem asssim por decreto, aí há a necessidade de visualisar o que se almeja e prover as condições necessárias para tal ( muitas vezes é forçando a barra mesmo). Mesmo com contratação de cérebros privilegiados a coisa pode não acontecer. Veja voce, estamos falando entre correlação direta entre conhecimento e inovação, o que não consigo visualizar, pois percebo muitas outras variáveis ( as do mundo real) interagindo no processo. Os palyers são diferentes, quem manda, quem desenvolve, quem implanta, quem fabrica ,quem distribui, quem usa... A tal destruição criativa, é a meu ver uma visão romantica da coisa. O que ocorre no fundo é uma guerra, uma luta pela sobrevivência, uma disputa pelo status e dinheiro. É isto que move o mundo. Bem sei que modelo é modelo, e tem que ser uma simplificação. Só que ninguem fala do arrojo e visão ( o conhecimento dele é irrelevante)do CEO no processo.
Forte abraço
Ferdinand
Fernando
Os comentários acabam saíndo de fase, o que os torna mais difíceis de ordenar, e acabamos atropelando coisas importantes. Eu comento muito, mas falo de improviso, relatando experiências, opiniões e "insights". Sou o aprendiz. Não tenho "status" a defender e não tenho o dito "conhecimento racional formal" neste campo. Venho lendo forte no campo da percepção, aprendizado, memória, visão, ilusões, consciência, comportamento humano.
Daí o desencontro.
Forte abraço
Ferdinand
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