domingo, 12 de dezembro de 2010

Novas abordagens da Gestão do Conhecimento Organizacional como precursoras da Inovação e da Competitividade.

Prezados

A atual economia globalizada, por um lado em crise, por outro lado em expansão como modo de comportamento das nações mais competitivas, caracteriza-se não só por frequentes mudanças tecnológicas – as técnicas, as organizacionais e as de desenhos institucionais – como pela demanda acelerada das chamadas Tecnologias da Informação e das Comunicações, resultando em um modo de vida em sociedade, que pode ser definido como uma "economia do conhecimento e da inovação".

Trata-se de um mundo em que – não mais matérias-primas e capacidade de produção industrial, mas – os trabalhadores do conhecimento, com suas características bem específicas, entre elas a de terem com boa escolaridade e serem capacitados à inovação, são a chave da competitividade e do desenvolvimento.

Passado o período eleitoral bipolarizado aqui no Brasil, pode-se agora analisar com mais frieza que entre as causas do crescimento relativamente lento observado no Brasil, a "falta de inovação" é muitas vezes citada, tornando difícil definir se tal falta de inovação é causa ou efeito.

É comum encontrarem-se questionamentos sobre por que tem sido tão difícil para o Brasil avançar na inovação, como se fosse possível pensar na inovação como uma ação isolada.Tal tipo de abordagem torna o discurso sobre a inovação no Brasil, quase sempre, destituído de qualquer sentido prático.

Três fatores são comumente apontados para a falta de capacitação para inovar no Brasil. O país:

i) ficou para trás de seus competidores, especialmente os da Ásia, na oferta de um serviço educacional criativo e de qualidade para todos os seus cidadãos;

ii) tem buscado uma inovação de ponta, intensiva em capital e P&D, que produza avanços tecnológicos em nível mundial, ignorando as inovações mais corriqueiras dos processos de produção, das mudanças organizacionais e de desenhos institucionais, que tendem a render os melhores resultados econômicos; e

iii) tem dependido muito do governo para incentivar a inovação, desprezando o caminho mais eficiente e menos oneroso do uso de incentivos para encorajar a inovação no setor privado, que normalmente se espalharia mais rapidamente por toda a economia.

Este último problema pode ser interpretado como resultado da cultura de barreiras comerciais para proteger o setor privado da competição internacional, muito embora, comumente, possam ser apontados os avanços já produzidos pelo Brasil, em nível mundial, na agricultura, aeronáutica e na exploração de petróleo em águas profundas nos últimos anos.

Como uma nação que tem entre seus principais problemas uma ainda muito grande desigualdade de renda, o Brasil precisa de soluções criativas para uma espécie de inovação de segunda ordem, algo como uma inovação da inovação, capaz de reconhecer a necessidade de se reavaliar suas estruturas de conhecimento, tais como o sistema educacional, a infra-estrutura tecnológica e a própria política de inovação, para assegurar os tão necessários avanços contra a pobreza.

Há a necessidade de se buscar uma análise e possíveis opções para se conseguir produzir a inovação de segunda ordem em escala suficiente para fazer frente à competição em uma economia global cada vez mais dinâmica.

Embora necessário, não basta resolver os aspectos mais visíveis, tais como capacitar pessoas, para se ter desenvolvimento. Mais importante seria se os formuladores de estratégias empresariais e de políticas públicas reconhecessem:

i) o Conhecimento Organizacional como um ativo intangível , específico, dinâmico e emergente de um arranjo organizacional, ou de um grupo que o componha;

ii) a inovação como criação de conhecimento organizacional;

iii) a Gestão do Conhecimento Organizacional como um meta-processo, o qual não produz conhecimento diretamente aplicável à produção, mas sim processos que conscientemente criam ambientes adequados à emergência do conhecimento (capacitações dinâmicas).

Na terça-feira, dia 14.12.2010, estaremos discutindo este tema na reunião mensal da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento - SBGC-RJ, às 18:30 h, na Valer - Departamento de Educação da Vale, na Avenida Presidente Wilson, 231 / 7º andar - Centro/RJ .

As inscrições são totalmente gratuitas, havendo apenas a necessidade de inscrição, pois as vagas são limitadas.

Inscrições em http://cadastro.synergiaeditora.com.br/sbgc/inscricao/

Forte abraço

Fernando Goldman

8 comentários:

Ferdinand disse...

Fernando
Receio que o nosso maior problema seja uma barreira cultural. Produtos locais sempre foram olhados com desdém face aos importados. Lembro do mesmo efeito com os produtos japoneses da década de 60, de qualidade ruim. Mas eles foram fundo no conceito "Fake it, until you make it." E hoje dão show. Mas tem o dedinho ( dedinho? foram dezenas de bilhões de dolares) e cérebros dos americanos.
O conhecimento aqui sempre foi apenas um adorno, o que importava era posição na cadeia alimentar ( vale o famoso "sabes com quem estás falando?). Tem um livro do Feynman que mostra nossa triste realidade no final da década de 50, quando ele aprendeu a manha do batuque por aquí( danado o cara!).
Se não me falha a memória o nome do livro é You must be joking, Mr Feynman! Uma delícia de leitura. Já tem traduzido. Mas nada como o original.

Fernando Goldman disse...

Ferdinand

Não conhecia o livro citado, que deve ser realmente muito interessante.

Segue as informações sobre ele conseguidas em http://pt.wikipedia.org/wiki/Surely_You're_Joking,_Mr._Feynman!:

"Surely You're Joking, Mr. Feynman!": Adventures of a Curious Character é um livro com uma coleção de lembranças do físico Richard Feynman, ganhador do Prêmio Nobel. O livro, lançado em 1985, abrange uma variedade de situações na vida de Feynman, incluindo sua participação no Projeto Manhattan (no mesmo período em que sua primeira esposa, Arline Greenbaum morreu de tuberculose) e sua crítica ao sistema de ensino de ciências no Brasil.[1]

O título do livro deriva da resposta de uma mulher na Universidade de Princeton quando, depois que ela perguntou ao recém-chegado Feynman, se ele queria creme ou limão em seu chá, ele pediu ambos (não sabendo que eles iriam coagular).

Referências
↑ Feynman, R. P. (1985): Surely You're Joking, Mr. Feynman!: Adventures of a Curious Character, Richard Feynman, Ralph Leighton (recopilador), Edward Hutchings (editor), W W Norton, (edição de 1997: ISBN 0-393-31604-1)

Forte abraço

Fernando Goldman

Fernando Goldman disse...

Ferdinand

você vai encontrar uma resenha curto e bem interessante do livro citado por você em:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1684793/pdf/ajhg00153-0187.pdf

Forte abraço

Fernando Goldman

Ferdinand disse...

Fernando
Thanks for caring.
Sou apenas aficcionado pelo conhecimento. O Feynman, foi apenas um dos mais proeminentes conhecedores do século passado.
Ainda não lí todos os livros do mesmo, mas já aprendí um bocado de coisas com ele. Outro aspecto que ele chama atenção é que nós ( brasileiros) nos fixamos muito na parte epistemológica. Enquanto que o real conhecimento só é possivel se constantemente balizado pelas respostas da realidade. Há que se por a mão na massa!
Outro aspecto cultural contra nós. O trabalho manual é visto como inferior neste país, e não é de hoje.

Ferdinand disse...

Continuando....
Tenho mais alguns heróis, dos quais não perderia um livro novo por nada neste mundo
Richard Dawkins
Paul Nahin
Cordelia Fine
Dan Ariely
Taleb
Clemente Nobrega

Para estes encomendo o livro sempre em pré-lançamento.
Forte Abraço
Ferdinand

Ferdinand disse...

Bom Dia , Fernando
Parabéns pela palestra.
Bem conduzida, aposto que todos os presentes gostaram.
Fiquei pasmo e meio preocupado. Um tema como esse, e mais de 2/3 da platéia eram mulheres.
Na calada da noite, elas vão ocupando nossos lugares. Está ficando meio tarde para acordar, homens.....
No mais me sentí como o "gordinho pré-histórico", que na voltinha em Cingapura só ficou impressionado com, "como era possível um homem transportar 57 caxos de bananas?"
Com certeza não pesquei um bocado de coisas apresentadas na palestra, pois simplesmente não fazem parte de meu contexto/cenário.
Vejam aí como a cultura e desenvolvimento influi na nossa capacidade de assimilação.
Forte abraço a todos.
Espero vê-los instigando o Fernando!

Ferdinand disse...

Fernando
Ontem quando estavas falando do exemplo do Honda City - Tall Boy, assossiei às vans. Com essa imagem imaginei os carros americanos do fim da decada de 50, tipo "Studbacker", que nos serviam de taxi ainda na decada de 60, verdadeiras banheiras!
Tinham uns modelos que eram a própria bolha, só que todos pretos. Peguei muita carona com os mesmos da antiga ETN ( Escola Técnica Nacional)até o centro nos anos de 64-66.
Mas olhando o visual do City referido na rede, mais parece com o fiat uno. Tanto em formato, como potência, medidas, peso etc....
Vou ler um pdf do Nonaka que menciona o caso.
Obrigado pela referência.
Abração
Ferdinand

Fernando Goldman disse...

Prezado Ferdinand

Não se esqueça de que estamos falando de um projeto da década de 1970, que mudou o design dominante. O UNO só viria na década de 1980, assim como diversos outros monovolumes.

Forte abraço

Fernando Goldman