Prezados
Acho que, por mais de uma vez neste blog, já tive
oportunidade de escrever sobre a influência que exerceu e exerce em mim a
música “O Samba do Crioulo Doido”.
Segundo a Wikipédia, O Samba do Crioulo Doido é
uma paródia composta pelo escritor e jornalista Sérgio Porto, sob pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, em 1968, para o Teatro de Revista, em que procura ironizar a obrigatoriedade imposta às escolas de samba de retratarem nos seus sambas de enredo somente fatos históricos. A expressão do título é usada, no Brasil, para se referir a coisas sem sentido, a textos mirabolantes e sem nexo.
Muitos textos acadêmicos que trazem em seu título a
etiqueta “Gestão do Conhecimento” me remetem ao Samba do Crioulo Doido.
Artigos que seguem uma receita relativamente simples,
quando se aventuram pelo conhecimento e seus construtos associados ao fenômeno
organizacional, podem gerar resultados bem “complexos”, ou talvez fosse melhor
dizer “bem complicados”.
Por exemplo, pode-se começar por formular uma questão
de pesquisa que contenha a expressão “Gestão do Conhecimento”. Para responder a
tal questão elabora-se um objetivo central, que pode se desdobrar em objetivos
específicos para então se realizar uma “pesquisa qualitativa, exploratória,
bibliográfica” utilizando como ferramenta a revisão sistemática da literatura numa
determinada base de dados.
Parece bem objetivo. Parece propiciar uma contribuição
ao desenvolvimento do conhecimento na área de Administração. A qualidade da
argumentação e as implicações gerencias parecem ser significativas para o
estudo desenvolvido. Mas o resultado muitas vezes é um Samba do Crioulo Doido.
Alguns artigos elaborados dentro de tal receita padrão
conseguem fugir um pouco desse estigma. É o caso de um um interessante artigo,
que acabo de ler, com o título “A INFLUÊNCIA DO CAPITAL HUMANO E SUAS COMPETÊNCIAS
PARA A GESTÃO DO CONHECIMENTO: OS ESTUDOS CONTIDOS NA LITERATURA ACADÊMICA
CONTEMPORÂNEA”, de uma lista de sete autores*, publicado na Revista do CCEI,
do Centro de Ciências da Economia e Informática (Rev. CCEI - URCAMP, v.15,
n.28, p. 57-75 - ago., 2011), disponível em http://www.urcamp.tche.br/ccei/portal/images/Revista_CCEI/revista_28_artigo_03.pdf.
Embora
trazendo algumas ideias um tanto questionáveis, do tipo “Nonaka & Takeuchi (1997) definem o conhecimento como a informação
da qual o ser humano se apropria e interpreta, passando a ter novas ideias”
( o sublinhado é meu) e não se preocupando em distinguir competências
individuais e organizacionais, o artigo é bem interessante e merece ser lido.
Infelizmente,
o artigo se apóia na tradução para o português do livro de Nonaka e Takeuchi e
não cita as páginas onde determinadas ideias foram colhidas, o que dificulta
saber se tais ideias são fruto da tradução ou de uma interpretação própria dos
autores do artigo.
Percebe-se
a ênfase em citar Nonaka em seu trabalho com Takeuchi, originalmente de 1995,
perdendo-se a oportunidade de citar trabalhos mais recentes e atualizados da
Teoria da Criação do Conhecimento Organizacional.
Em
contrapartida um dos artigos selecionados como resultado da pesquisa é justamente
“Organizational knowledge creation theory: evolutionary paths and future
advances”, de Nonaka, Von Krogh e Voelpel, de 2006, que segundo os sete autores
diz que “a criação do conhecimento organizacional é o processo de
disponibilização e ampliação do conhecimento dos indivíduos, sua cristalização
e conexão com o sistema de organização do conhecimento” - talvez tenham querido dizer "sistema de conhecimento da organização" - e indica “áreas para
avançar no futuro, incluindo teoria e investigação sobre a origem do
conhecimento”.
Menos mal. De qualquer forma, vale a pena conferir o artigo
da Revista do CCEI, mesmo que ao final você fique com uma leve sensação de que está
ouvindo um samba enredo lá no fundo.
Forte abraço
Fernando Goldman
* Juarez Domingos Frasson Vidotto, Thiago Meneghel
Rodrigues, Vitória Augusta Braga de Souza, Patrícia de Sá Freire, Neri dos
Santos, Gregório Jean Varvakis Rados e Paulo Maurício Selig.
5 comentários:
Fernando, o link do artigo nao funciona. Parece que temos mais uma ocorrencia da lei de Murphy.
É Ferdinand. Parece que o link não funciona. Milagres da informática, mas se você colar a URL em uma janela, dá certo.
A URL para você copiar é:
http://www.urcamp.tche.br/ccei/portal/images/Revista_CCEI/revista_28_artigo_03.pdf
Agora funcionou de primeira!
Não tenho nenhum comentário positivo ou relevante que pudesse atribuir ao artigo.
Não comentam sobre a real dinâmica que ocorre nas empresas. O exercício do poder, a dimensão política, e as outras dimensões menos recomendáveis, mas que existem!
Vejam o post de hoje 13/05 do Clemente Nobrega, este sim é relevante quando diz: Inovar não é importante,”roubar criativamente” é que é…
Confiram em :http://colunas.revistaepocanegocios.globo.com/ideiaseinovacao/2012/05/13/inovar-nao-e-importanteroubar-criativamente-e-que-e/
É Ferdinand.
É um belo artigo. Mas acredito que ele não traga muita novidade para quem já não confunde inovação com invenção há muito tempo.
Inovar significa criar conhecimento organizacional e isto não se faz seguindo o exemplo do avestruz, enfiando a cabeça num buraco e não querendo saber o que acontece lá fora.
Se você olhar o modelo das cinco fases de Nonaka, verá que ele pressupõe a interação com outros elementos do mercado.
Acho oportuna a distinção que o Clemente Nóbrega procura fazer entre melhoria contínua e Inovação, o que eu chamo de Inovação contínua e radical, mas ver isto como simples roubo é desmerecer muito todo o esforço de inovação que os teóricos do assunto vem construindo.
Fernando
Vejo a descrição que o Clemente faz como uma observação da realidade que nos cerca e que poucos percebem. Não postula nada apenas descreve o que percebe atravéz de sua perspicácia.
Não diz se deve ou não ser assim, apenas descreve como percebe os fenômenos.
Arrisco dizer que Nonaka postula sobre processos que eu e um bocado de gente não consegue enxergar.
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