sábado, 12 de maio de 2012

Um artigo que vale a pena ler.


Prezados
Acho que, por mais de uma vez neste blog, já tive oportunidade de escrever sobre a influência que exerceu e exerce em mim a música “O Samba do Crioulo Doido”.

Segundo a Wikipédia, O Samba do Crioulo Doido é
uma paródia composta pelo escritor e jornalista Sérgio Porto, sob pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, em 1968, para o Teatro de Revista, em que procura ironizar a obrigatoriedade imposta às escolas de samba de retratarem nos seus sambas de enredo somente fatos históricos. A expressão do título é usada, no Brasil, para se referir a coisas sem sentido, a textos mirabolantes e sem nexo.


Muitos textos acadêmicos que trazem em seu título a etiqueta “Gestão do Conhecimento” me remetem ao Samba do Crioulo Doido.

Artigos que seguem uma receita relativamente simples, quando se aventuram pelo conhecimento e seus construtos associados ao fenômeno organizacional, podem gerar resultados bem “complexos”, ou talvez fosse melhor dizer “bem complicados”.

Por exemplo, pode-se começar por formular uma questão de pesquisa que contenha a expressão “Gestão do Conhecimento”. Para responder a tal questão elabora-se um objetivo central, que pode se desdobrar em objetivos específicos para então se realizar uma “pesquisa qualitativa, exploratória, bibliográfica” utilizando como ferramenta a revisão sistemática da literatura numa determinada base de dados.

Parece bem objetivo. Parece propiciar uma contribuição ao desenvolvimento do conhecimento na área de Administração. A qualidade da argumentação e as implicações gerencias parecem ser significativas para o estudo desenvolvido. Mas o resultado muitas vezes é um Samba do Crioulo Doido.

Alguns artigos elaborados dentro de tal receita padrão conseguem fugir um pouco desse estigma. É o caso de um um interessante artigo, que acabo de ler, com o título “A INFLUÊNCIA DO CAPITAL HUMANO E SUAS COMPETÊNCIAS PARA A GESTÃO DO CONHECIMENTO: OS ESTUDOS CONTIDOS NA LITERATURA ACADÊMICA CONTEMPORÂNEA”, de uma lista de sete autores*, publicado na Revista do CCEI, do Centro de Ciências da Economia e Informática (Rev. CCEI - URCAMP, v.15, n.28, p. 57-75 - ago., 2011), disponível em http://www.urcamp.tche.br/ccei/portal/images/Revista_CCEI/revista_28_artigo_03.pdf.

Embora trazendo algumas ideias um tanto questionáveis, do tipo “Nonaka & Takeuchi (1997) definem o conhecimento como a infor­mação da qual o ser humano se apropria e interpreta, passando a ter novas ideias” ( o sublinhado é meu) e não se preocupando em distinguir competências individuais e organizacionais, o artigo é bem interessante e merece ser lido.

Infelizmente, o artigo se apóia na tradução para o português do livro de Nonaka e Takeuchi e não cita as páginas onde determinadas ideias foram colhidas, o que dificulta saber se tais ideias são fruto da tradução ou de uma interpretação própria dos autores do artigo.

Percebe-se a ênfase em citar Nonaka em seu trabalho com Takeuchi, originalmente de 1995, perdendo-se a oportunidade de citar trabalhos mais recentes e atualizados da Teoria da Criação do Conhecimento Organizacional.

Em contrapartida um dos artigos selecionados como resultado da pesquisa é justamente “Organizational knowledge creation theory: evolutionary paths and future advances”, de Nonaka, Von Krogh e Voelpel, de 2006, que segundo os sete autores diz que “a criação do conhecimento organizacional é o processo de disponibilização e ampliação do conhecimento dos indivíduos, sua cristalização e conexão com o sistema de organização do conhecimento” - talvez tenham querido dizer "sistema de conhecimento da organização" - e indica “áreas para avançar no futuro, incluindo teoria e investigação sobre a origem do conhecimento”.

Menos mal. De qualquer forma, vale a pena conferir o artigo da Revista do CCEI, mesmo que ao final você fique com uma leve sensação de que está ouvindo um samba enredo lá no fundo.

Forte abraço

Fernando Goldman
* Juarez Domingos Frasson Vidotto, Thiago Meneghel Rodrigues, Vitória Augusta Braga de Souza, Patrícia de Sá Freire, Neri dos Santos, Gregório Jean Varvakis Rados e Paulo Maurício Selig.

5 comentários:

Ferdinand disse...

Fernando, o link do artigo nao funciona. Parece que temos mais uma ocorrencia da lei de Murphy.

Fernando Goldman disse...

É Ferdinand. Parece que o link não funciona. Milagres da informática, mas se você colar a URL em uma janela, dá certo.

A URL para você copiar é:

http://www.urcamp.tche.br/ccei/portal/images/Revista_CCEI/revista_28_artigo_03.pdf

Ferdinand disse...

Agora funcionou de primeira!
Não tenho nenhum comentário positivo ou relevante que pudesse atribuir ao artigo.
Não comentam sobre a real dinâmica que ocorre nas empresas. O exercício do poder, a dimensão política, e as outras dimensões menos recomendáveis, mas que existem!
Vejam o post de hoje 13/05 do Clemente Nobrega, este sim é relevante quando diz: Inovar não é importante,”roubar criativamente” é que é…
Confiram em :http://colunas.revistaepocanegocios.globo.com/ideiaseinovacao/2012/05/13/inovar-nao-e-importanteroubar-criativamente-e-que-e/

Fernando Goldman disse...

É Ferdinand.

É um belo artigo. Mas acredito que ele não traga muita novidade para quem já não confunde inovação com invenção há muito tempo.

Inovar significa criar conhecimento organizacional e isto não se faz seguindo o exemplo do avestruz, enfiando a cabeça num buraco e não querendo saber o que acontece lá fora.

Se você olhar o modelo das cinco fases de Nonaka, verá que ele pressupõe a interação com outros elementos do mercado.

Acho oportuna a distinção que o Clemente Nóbrega procura fazer entre melhoria contínua e Inovação, o que eu chamo de Inovação contínua e radical, mas ver isto como simples roubo é desmerecer muito todo o esforço de inovação que os teóricos do assunto vem construindo.

Ferdinand disse...

Fernando
Vejo a descrição que o Clemente faz como uma observação da realidade que nos cerca e que poucos percebem. Não postula nada apenas descreve o que percebe atravéz de sua perspicácia.
Não diz se deve ou não ser assim, apenas descreve como percebe os fenômenos.
Arrisco dizer que Nonaka postula sobre processos que eu e um bocado de gente não consegue enxergar.