quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Não inovamos por que temos complexo de vira-lata?

Prezados



Na segunda-feira desta semana, o Marcos Cavalcanti lançou uma interessante pergunta no Facebook, que havia aparecido no dia anterior no blog dele no O Globo. Ele perguntou:




Muito se falou do mito Steve Jobs, mas por que ele e sua empresa não são brasileiros? O que você acha?


Como era de se esperar houve comentários focando o óbvio problema crônico das instituições brasileiras, que inibem a inovação entre nós.


Eu procurei ir um pouco além. E fiz o seguinte comentário:




Por que o Steve Jobs e a Apple não são brasileiros? ‘Complexo de vira-lata’ seria minha principal resposta. É claro que há aspectos institucionais aos montes para dar uma boa resposta, mas talvez eles sejam apenas consequências do nosso complexo de vira-lata. Trata-se de uma expressão criada por Nelson Rodrigues, que dessa forma se referia à inferioridade expontânea com que o brasileiro se colocava – e ainda se coloca - perante o resto do mundo. O termo foi cunhado antes de 1958, mas, segundo seu autor, não se limitava ao Futebol.


Se Steve Jobs morasse no Brasil e tivesse dito a seus amigos brasileiros que ia criar um produto tão inovador, que sua empresa se tornaria única no mundo, todo mundo ia dizer: larga isto para lá e vai estudar para um concurso; não vai dar certo, você é apenas um brasileiro e por aí vai.


Não depende só de legislação ou aspectos institucionais. Experimenta dizer que você quer fazer uma pesquisa teórica mais elaborada, para ver se não vai aparecer um monte de gente te sugerindo fazer um estudo de caso. Por que? Porque criar teoria, ideias novas, não é coisa para brasileiro. Por isto não temos nenhum Nobel.


Para mim o maior problema do Steve Jobs no Brasil seria nosso complexo de vira-lata. A mente coletiva que ele teria de superar para fazer alguma coisa que valesse realmente a pena.

Embora algumas pessoas tenham curtido o comentário, houve uma não aceitação inicial, o que me obrigou a fazer um novo comentário tentando identificar o que seria causa e o que seria efeito:




Acho que há aqui duas abordagens que se completam. Houve um Steve Jobs no Estados Unidos, porque há milhões de empreendedores lá. E isto acontece porque lá há um ambiente propício ao evolucionismo. Para que um Steve Jobs tenha vingado, muitos empreenderam de forma menos significativa. O ambiente lá é propício a variedade e é seletivo. Mas o ambiente se formou desta maneira, porque há uma cultura que acredita ser possível se ser um Steve Jobs.

E você que lê o meu blog? Tem alguma opinião sobre o assunto?


Porque um país com a dimensão da costa brasileira não é desenvolvedor de tecnologia de geração de energia eólica? Enquanto isto Alemanha e Dinamarca pesquisam esta tecnologia para nos vender. Será que os assuntos estão linkados?


Este será o tema de minha apresentação no XXI SNPTEE, que ocorrerá em Florianóplolis, SC dos dias 23 a 26 de outubro próximos.


Forte abraço


Fernando Goldman

Um comentário:

Ferdinand disse...

Fernando
Penso que não temos um SJ por um aspecto cultural.
Neste país o trabalho manual/técnico é visto com desdém.
E você não desenvolve conceitos novos sem botar a mão na massa.
Podes ter certeza que o SJ sabia de cada detalhe em suas criações.
O bolar, inventar e desenvolver passa por fazer, testar, eliminar erros, começar de novo repetindo o ciclo quantas vezes necessário for.
Não dá para fazer isso por controle remoto. Com um gerente te perturbando com prazos perdidos e custos fora do previsto.
O SJ tinha garra, uma cratividade fora do comum e era quem mandava.
E mais ainda, trabalhou até quando não podia mais. E sem precisar.
Aponte apenas um da nossa elite que tenha feito algo assim mínimamente parecido.
O mote aquí é mais para refinamentos da lei de Gerson.
Forte Abraço
Ferdinand