domingo, 9 de outubro de 2011

Chegando do KM Brasil 2011 (II) - A analogia da água

Prezados

 
O KM Brasil é a oportunidade de tirar um instantâneo anual de como anda a Gestão do Conhecimento, no Brasil e no mundo.

Claro que todo ano se acaba ouvindo pessoas, as vezes até mesmo palestrantes internacionais, dizendo aquela bobagem de que ‘Não se pode gerenciar o conhecimento na cabeça das pessoas’, o que é óbvio, mas não traz nada de produtivo ao debate, já que em sã consciência ninguém deveria estar pretendendo fazer tal coisa.


Para entender o KM Brasil 2011 é preciso entender alguns pontos básicos sobre a KM, sua história e seu futuro.


Um dos pontos fracos de eventos de KM no mundo é que parece que o conhecimento é uma ideia natural - não precisaria ser explicada. Na verdade o conhecimento é uma construção social abstrata. O que é importante para uma comunidade epistemológica, pode não ser para outra. Exemplo? tem empresas que pagam qualquer coisa para seus conhecedores não se aposentarem. Tem outras que até os incentivam a ir para casa mais cedo.


Eu só vi uma empresa, durante o KM Brasil 2011, se fazer a pergunta: o que é o conhecimento para nós? Foi na apresentação da Volvo. Muito boa, diga-se de passagem.


Qualquer palestrante de um evento deste tipo deveria começar sua apresentação com pelo menos uma frase do tipo ‘O conhecimento para nós significa...’, ou 'nós adotamos a teoria tal'.


Há os que entendem Gestão do Conhecimento como uma forma de ‘compartilhar’ conhecimento. Compartilhar conhecimento? Exatamente, o que significaria compartilhar conhecimento?


Vamos nos abstrair da possível confusão entre informação e conhecimento - pois a informação é facilmente compartilhável, enquanto o conhecimento é uma entidade abstrata - e imaginar que aquelas pessoas dão ao conhecimento, para efeito de analogia, propriedades que a água tem.


Neste caso, se costuma falar em capturar, armazenar e compartilhar conhecimento. A água pode ser captada, armazenada e distribuída. Lidamos bem com a água há muito tempo e muitos esperam ver se a analogia funciona.


Quem fala em compartilhar conhecimento está usando a analogia da água, ou alguma outra parecida. Embora a água seja fluída, ela é passível de ser compartilhada (distribuída). Não é uma boa analogia, simplesmente porque não funciona. Em especial porque a água é tangível e o conhecimento não. Esta analogia foi muito usada nos primeiros passos da KM, mas logo se mostrou inadequada e conceitualmente improdutiva.


Infelizmente, foi possível perceber no KM Brasil que ainda se investe muito tempo e dinheiro na ‘analogia da água’ em nosso país.


Forte abraço


Fernando Goldman

5 comentários:

Daniel Beltran disse...

Caro Goldman,

Neste sentido, vi algumas apresentações trazendo artefatos próprios de gestão de projetos, como sendo ações de gestão do conhecimento, como por exemplo, base de lições aprendidas.

Fica claro para mim, que nada mais é que uma coleção de documentos, de relatos produzidos e colecionados para formar uma biblioteca de informações, eventualmente úteis em determinado projeto futuro.

Mensurar a efetividade da GC, através de número de normas criadas também me pareceu meio inócuo.

No início do KM Brasil, vi com felicidade algumas apologias ao compartilhamento de cases de insucesso, sob o argumento "lugar comum" de que se aprende mais com os erros do que com os acertos.

Infelizmente vi mais resultados do que apresentação das respectivas metodologias e planejamentos realizados.

Gostei muito de uma palestra da Petrobras, independente do mérito do conteúdo, mas porque apresentava um cenário próximo ao que temos discutido na nossa empresa. Serviu de reflexão sobre quais caminhos escolher, mas principalmente quais escolhas não fazer. E isso foi bem rico.

Fernando Goldman disse...

Prezado Daniel

Interessantes suas considerações.

Forte abraço

Fernando Goldman

Adele disse...

Goldman, enfatizo a minha sensibilidade desde o início do KM Brasil, quanto a identificação com o ambiente, com as pessoas, com os temas, enfim, não consegui por nenhum momento perceber que era o primeiro KM Brasil que participava. Isso se deve pela dinâmica do nosso ser que emerge com a dinâmica que propicia o conhecimento. Isso é muito interessante. Há uma necessidade, hoje, de avançarmos em conhecer o que está por trás das teorias, o que realmente se espera de uma Criação do Conhecimento Organizacional, quais os conflitos, quais as oportunidades, enfim sentir nas pessoas algo novo e real, essa vontade estava presente no ambiente. Havia uma grande expectativa em todos. Ou melhor, talvez em alguns.....
Não posso negar algumas frustrações sentidas... palestras inoportunas..., mais tivemos um momento muito especial - o Painel Retrospectivo KM Brasil, conduzido pelos colegas André Saito e Cristiano da Affero. Eles mostraram claramente, que ainda há uma esperança para o KM 2012.
Colocando em prática as sugestões dos participantes e definindo claramente uma teoria a ser abordada, para que não haja divergências conceituais. Vejo que KM 2012 poderá ter uma cara nova, deixar de ser apenas uma linha no horizonte e tornar um pico nas montanhas, avançando...
Aproveito para agradecer a você
a oportunidade de colaborar com o Relato Técnico, pois ele sinalizou a importância de se criar um ambiente que seja emergente para dar condições a Criação do Conhecimento Organizacional pautado numa teoria e num modelo que demonstra a dinâmica da relação da Gestão do Conhecimento e o Aprendizado. Esse modelo pode ser aplicado na evolução que se espera do KM Brasil.
Um abraço.

Adele Maria Haddad

Adele disse...

Goldman, enfatizo a minha sensibilidade em participar do KM Brasil 2011, não parecia que estava sendo a minha primeira participação. O ambiente, as pessoas, os temas, os livros... Tudo estava propiciando a uma dinâmica do nosso ser com a dinâmica do conhecimento. Algo atraente e interessante aos nossos olhos e sentidos. Não posso negar algumas frustrações sentidas.. Palestras inoportunas..cases de gestão de informação como gestão do conhecimento, e outros.
Tivemos um momento muito especial que não podemos deixar de registrar, que foi o Painel das Retrospectivas do KM Brasil, coordenado pelo André Saito (SBGC) e Cristiano (Affero), creio que o debate foi esclarecedor para uma pequena platéia que estava necessitando de explicações quanto à versão do KM Brasil 2011, antiga ou muito antiga??? Será atualizada um dia??? Como será o KM 2012?? E eles demonstraram o quanto anseiam por mudanças e ajustes... Isso foi muito gratificante.. Temos a convicção que o que é mais importante no momento é a identificação de uma teoria que favoreça a todos a um conceito correto e real sobre a Criação do Conhecimento Organizacional.
Aproveito para agradecer a você, Goldman, a oportunidade de colaborar com o Relato Técnico que apresentamos, pois sinalizou a importância de ter uma teoria, ter condições para criarmos um ambiente propício para a criação do conhecimento, e o modelo da Dinâmica do Conhecimento de aprendizado orgnizacional criado por você, poderá ser utilizado para a nova versão do KM Brasil 2012. Creio que ajudará.

Ferdinand disse...

Fernando
Tenho um insight que pode melhorar a analogia da água. É a seguinte relação:
Captar água = coleta de dados
Armazenamento de água = armazenamento de informações
Gerar energia = gerar conhecimento
Tanto energia como conhecimento são conceitos abstratos. Sabemos que atuaram apenas pelos seus efeitos.
Forte abraço
Ferdinand