quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Gestão do Conhecimento guarda o conhecimento da empresa?


Prezados

Há alguns dias me defrontei com uma situação bastante comum. Um grupo de pessoas discutia Gestão do Conhecimento e alguns ainda relutavam em abandonar a ideia do conhecimento como algo que pode ser acumulado.

Há uma insistência em pensar a Gestão do Conhecimento como um processo de acúmulo, como se o conhecimento fosse um daqueles ativos, cuja escassez gera valor, valendo a pena acumulá-lo e como se isto fosse realmente possível.

Este é o resultado, bastante previsível, quando se aplica a intangíveis, conceitos usados para gerir tangíveis.

Para quem vive no maravilhoso mundo da fantasia de imaginar a Gestão do Conhecimento como um conjunto de técnicas para guardar conhecimento e deixá-lo disponível para ser usado quando alguém precisar, a questão é muito simples. Basta decidir que técnicas serão escolhidas.

Peter Senge, em uma vasta obra, que muito analisa o problema do aprendizado e do conhecimento, chama atenção para o fato de que esta abordagem é típica do mundo ocidental, onde lidamos com o conhecimento como se fosse algo que pudesse ser possuído. Num mundo assim, as duas palavras, informação e conhecimento, acabam sendo muitas vezes usadas como se fossem sinônimos, não havendo, para muitos, uma clara distinção entre os dois.

Senge argumenta que se em nossa linguagem do dia a dia, por exemplo, nossos modelos mentais nos permitem falar que o conhecimento é algo que os indivíduos "adquirem", podemos dizer que os indivíduos o "possuem". Por que não?

Por outro lado, quando nos aprofundamos um pouco mais no assunto e definimos conhecimento como sendo "uma capacidade de ação eficaz", uma capacitação portanto, fica claro que isso não é algo que se "pega" no sentido de se adquirir. É algo que se aprende, pois o conhecimento é construído.

Senge deixa as coisas bem claras, quando diz que o compartilhar conhecimento não se trata de dar às pessoas algo ou conseguir alguma coisa delas. Isso é válido apenas para o compartilhamento de coisas, ou até mesmo de informações.

O compartilhamento de conhecimento ocorre quando as pessoas estão genuinamente interessadas em ajudar uns aos outros a desenvolver novas capacitações. É sobre como criar processos de aprendizagem.

A maior parte das capacitações que são importantes no ambiente organizacional são mais do que coletivas, são emergentes. Ninguém poderia acumulá-las, mesmo que tentasse.

Senge tem razão quando diz que grande parte do conhecimento em que se está realmente interessado em arranjos organizacionais é como a química de uma boa equipe esportiva. Alguma coisa bem difícil de ser guardada.

Forte abraço

Fernando Goldman


3 comentários:

Ferdinand disse...

Fernando
Receio que as pessoas só estão genuinamente interessadas em cooperar quando se encontram no mesmo barco(na mesma enrascada), quando é questão de vida ou morte.
No mais tem sempre uma assimetria, e ganha quem melhor sabe utilizar as artes cênicas. Ou não estamos tratando de problemas humanos?
Abração
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando
Uma citação que cabe aqui é a do Churchil que se não estou enganado poderia ser traduzida como: Adoro aprender. Mas detesto ser ensinado.
Abração
Ferdinand

M Lloret disse...

Eu acredito que conhecimento é inerente de cada pessoa, uma mesma informação pode gerar conhecimentos distintos em pessoas distintas.
Acredito que o acumulo de informações organizadas e disponíveis, pode vir a gerar conhecimento ao individuo que tiver acesso a essa informações. Um exemplo é uma exposição artistica, são informações que podem trazer algum conhecimento ao indivíduo que a prestigiar.
Agora em questão de acumular talvez se olhar por outro angulo, temos a experiência, a experiência não é um acumulo de conhecimento?