De tempos em tempos há a necessidade de termos aqui uma postagem acertando alguns aspectos importantes.
Por exemplo, é importante entender que este blog é fruto do esforço de reflexão de um pesquisador da Dinâmica do Conhecimento Organizacional. No caso, eu.
Por que alguém se propõe a pesquisar um troço tão pouco definido quanto este tal de “Conhecimento Organizacional”? A resposta é simples: exatamente porque ele é um constructo ainda mal entendido e muito mal definido. Se fosse bem entendido e definido, talvez não houvesse motivo para pesquisá-lo.
Não estamos aqui, portanto, falando de uma simples e objetiva ferramenta gerencial, que possa ser comprada e implantada na empresa. Alguma coisa que venha em um DVD, talvez. De preferência plug and play. Não falamos de uma disciplina já consagrada e de larga aplicação como, por exemplo, o é a Gestão Contábil e suas melhores práticas.
Como a teoria que norteia a forma de lidar com o capital financeiro das empresas já tem uma longa estrada, teorias e práticas vêm sendo testadas há bastante tempo e são campo de realização para quem gosta de aplicar regras bem definidas e de poder observar resultados bem práticos.
Não significa que não haja pesquisadores em ciências contábeis. Certamente os há, mas quem não tem paciência para pesquisar, pode perfeitamente se engajar no assunto de forma muito mais objetiva, seguindo procedimentos e rotinas bem detalhados, fazendo balanços contábeis e até ganhando muito bem com isso.
No entanto, quando falamos em Capital Intelectual e, em especial, de uma de suas derivações, o Capital Humano, temos de reconhecer a necessidade de um perfil de pesquisador. Há que se ter a paciência e o prazer da descoberta característicos de quem se dedica à ciência.
Aliás, este é um problema com o qual as empresas se defrontam hoje em dia. Apesar de toda a retórica sobre o conhecimento como fator de produção e do potencial de criação de valor dos intangíveis, elas não sabem como tratar a ambidestria organizacional necessária para lidar simultaneamente com o sucesso taylorista de administrar o dia-a-dia dos bens tangíveis ( bem mais fácil de ser reconhecido no curto prazo) e o sucesso de longo prazo resultante de lidar com intangíveis corretamente, em especial, os intangíveis do conhecimento.
Ambos são necessários e têm seus critérios de sucesso. O que não se pode fazer é confundi-los. Quem se julga muito objetivo, com o chamado perfil gerencial, deve procurar caminhos de respostas mais imediatas, mas não deve pensar em aplicá-las a intangíveis.
A TCCO é uma teoria em construção, que é trabalhada nas pesquisas daquilo que vem sendo chamado de Ciência Organizacional. A TCCO nos diz que nos arranjos organizacionais o conhecimento é criado e expandido através da interação social entre conhecimento tácito e conhecimento explícito ( fenômeno) e procura entender como isto acontece (explicação). Ele procura entender a dinâmica da inovação, algo contínuo, e não a história de uma determinada inovação.
A TCCO atribue à inovação o caráter de criação do Conhecimento Organizacional. Alguém poderia sugerir alguma coisa menos prática para executivos e gerentes com grande capacidade de ação se envolverem? Mas é disto que depende a longevidade das empresas.
Parafraseando Galileu, que disse "e no entanto ela se move", poderíamos dizer sobre a TCCO, e no entanto ela é importante.
Forte abraço
Fernando Goldman
Postagem revisada em 04.12.2010
Capes, CNPq e as jabuticabas
Há 9 anos
2 comentários:
Prezado Fernando
Nunca tive intenção de desconstruir conhecimento, qualquer que ele fosse.
Tropeçei na KM por mero acaso quando estava lendo o livro Joint Cognitive Systems- Foundations of Cognitive Systems Engineering de Erik Hollnagel e David D Woods.
E isto motivado por discordar do verdadeiro festival de besteira que assola a empresa em que trabalho quando se trata de normas e procedimentos. Temos milhares delas, e a cada novo procedimento só aumenta a entropia cognitiva do sistema.
Peço que consideres o lado positivo de meus questionamentos, estes que nem sempre estão bem formulados.
Forte abraço
Ferdinand
Fernando
Não sei se tiveste o privilégio de ler o " The Halo Effect, and Other Business Delusions" do Phil Rosenzweig. Aí fica bem demonstrado que precisamos muito mais de KM do que estamos praticando. O "dinheiro" é normalmente muito esperto, mas da forma que são geridas muitas empresas mostra que a administração acaba sendo prisioneira de motivos menos nobres e acabam colocando o bem estar financeiro, quando não a própria sobrevivência da empresa em risco.
Abração
Ferdinand
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