segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Quanto é preciso entender para conhecer? (II)

Prezados

Recebi do leitor Ferdinand um comentário sobre distinguir entender e conhecer e no comentário ele dava o exemplo de alguém que aprende a dirigir, mas não entende de mecânica de automóveis.

O comentário dele me fez lembrar um trecho do Tsoukas, que ilustra bem a idéia de como alcançamos a competência ( no sentido de habilidade) incorporando o conhecimento necessário. O trecho é o que se segue:

The more general point to be derived from the preceding examples is formulated by Polanyi (1962:61) as follows: “we may say […] that by the effort by which I concentrate on my chosen plane of operation I succeed in absorbing all the elements of the situation of which I might otherwise be aware in themselves, so that I become aware of them now in terms of the operational results achieved through their use”. This is important because we get things done, we achieve competence, by becoming unaware of how we do so. Of course one can take an interest in, and learn a great deal about, the gearbox and the acceleration mechanism but, to be able to drive, such knowledge needs to lapse into unconsciousness.

“This lapse into unconsciousness”, remarks Polanyi (1962:62), “is accompanied by a newly acquired consciousness of the experiences in question, on the operational plane. It is misleading, therefore, to describe this as the mere result of repetition; it is a structural change achieved by a repeated mental effort aiming at the instrumentalization of certain things and actions in the service of some purpose”.*

Forte abraço

Fernando Goldman

* TSOUKAS H. Do we really understand tacit knowledge?, In Mark Easterby-Smith, Marjorie A. Lyles - (Eds.), The Blackwell handbook of organizational learning and knowledge management: 410-427, Blackwell Publishers, 2005.

11 comentários:

Ferdinand disse...

Fernando
Quando usei o exemplo do motorista que sabe mecânica versus um que apenas conduz o veículo era para mostrar que podemos utilizar um algorítmo sem saber de que ele é composto. Isto é podemos conhecer sem entender.
O exemplo clássico hoje é a utilização de softwares, não precisamos conhecer programação, desde que nos limitemos ao que está disponível no soft.
O comentário do Tsoukas é de outra natureza. Quando estamos aprendendo a guiar um veículo, devemos prestar atenção a cada nova ação que temos que fazer. Depois de aprendido, nem nos damos conta dos movimentos necessários para cada ação do processo de guiar. Aí está claro que há a internalização do conhecimento explícito, passando para conhecimento tácito, quando as ações passam para o automatismo. aí está OK.
Voltando ao meu exemplo, conhecer sem entender. Desconfio que é quase sempre o caso, pois não passamos de "naive realists", muito pouco sabemos das reais causas que compõem a nossa realidade.
Forte abraço
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando
Veja que coincidência, nós falando de motoristas conduzindo veículos e o Conrad Wolfram usando o mesmo conceito na palestra dele " Teaching kids real math with computers".
Esta palestra apareceu hoje e é imperdível. Realmente o mundo mudou e não mais faz sentido em sujeitar todo mundo a aprender matematica à força.
Não consigo mais ficar sem abrir o site do TED todo dia. Quando não tem palestra nova, vejo de novo uma que já ví há algum tempo.
Forte abraço
Ferdinand

Fernando Goldman disse...

Prezado Ferdinand

Vou dar uma olhada.

forte abraço

Fernando Goldman

Ferdinand disse...

Fernando
Mais uma palestra do TED que é mandatória para a turma de KM : Tom Wujec on 3 ways the brain creates meaning.

Como ainda não estou satisfeito com nenhuma definição de conhecimento que consegui encontrar, arrisco a seguinte:

Conhecimento é a subrotina de significado que se forma em nosso cérebro resultado da leitura de uma informação. Entenda-se por leitura a transferência de pulsos nervosos por qualquer de nossos sentidos. Quando esta leitura permanece ressonante com a realidade real, temos o conhecimento dito verdadeiro ( crença justificada em uma verdade), caso contrário temos a fantasia, ilusão.
Críticas, por favor!
Forte abraço
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando
Veja se o seguinte paralelo faz sentido:
Usamos, estocamos, transformamos (e desperdiçamos) e medimos energia. Agora o que é energia? Aquela definição poética de que energia é a capacidade de realizar trabalho, não ajuda nada. Em essência não sabemos o que é energia. Como não sabemos o que são uma porção de outras entidades físicas. Para o "conhecimento" a situação é um pouco pior, pois nem medir conhecimento podemos. Sabemos, ou desconfiamos que é uma entidade que lemos da informação. E só.
Abraço
Ferdinand

Fernando Goldman disse...

Prezado Ferdinand

sua definição de conhecimento não fala em ação. Como fica a relação conhecimento-ação?

Sua definição do conhecimento não seria um pouco behaviourista? Ela só funciona na base do estimulo-resposta ?

Forte abraço

Fernando Goldman

Ferdinand disse...

Fernando
Vejo referência à ação na conceituação de "conhecimento" em muitos autores. Porém não ficou claro ainda para mim porque fazem esta ligação. Percebo que a ação é uma consequência da vontade de agir. Penso que podes deter um conhecimento e utilizá-lo se tens motivo para tal. Penso que é motivo suficiente para não incluir ação na definição.
Quanto ao Behaviourismo, tenho primeiro que entender de que se trata para poder me posicionar. Não esqueças que não sou da área.
Forte abraço
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando, segue comentário que fiz na discussão do Liviu Mihaileanu no Knowlwdge Management do Linkedin.
Hi
I appreciate your simple and rich explanation. I’ve been reading quite a lot about perception, illusions, neuroscience and just stumbled on KM a couple of months ago. I am surprised to see no mention to imagination in knowledge emergence / creation, in the texts I read so far. It seems to me that knowledge could be defined as a mental model built via imagination, adjusted by sucessive comparisons with objective reality. Information would be just the parameters you feed into the model. The decisions you make, based on your knowledge (internal model, after processing the input information) are again in information form.
Acho que o comentário também cabe aqui.
Forte abraço

Ferdinand disse...

Fernando
Outra dificuldade que me atrevo a apontar na KM é que se referem a KNOWLWDGE como uma coisa só. Aínda não achei referência onde abrissem o conceito em algumas de suas diversas componentes. Algo como aprendizado, memórias, capacidade de imaginação, disponibilidade de fontes de informação e por aí vai....
Devem existir dezenas de parâmetros intervindo.
Se na granulação grosseira como o conhecimento é tratado na KM existem tantos modelos e conceitos misturados, imagine o que não acontecerá quando todo mundo se debruçar numa conceituação mais detalhada.
Forte abraço

Ferdinand disse...

Fernando
Sei que apontar defeitos é muito mais fácil que fazer alguma coisa produtiva que resista a críticas. Mas, relendo o trecho do Tsoukas, no final do primeiro parágrafo, acho que foi infeliz em sua afirmação: "Of course one can take an interest in, and learn a great deal about, the gearbox and the acceleration mechanism but, to be able to drive, such knowledge needs to lapse into unconsciousness." Este conhecimento a que ele se refere não intervem no ato de dirigir. E não precisa portanto ser transferido para o inconsciente. "Le langage est source de malentendus", já dizia o Exupéry.

Ferdinand disse...

Fernando
Veja a palestra do Jason Fried no TED: Why work doesn't happen at work.
Se KM tem a haver com eficácia do trabalho, então as provocações ( fator M&M) do Jason devem ser consideradas.
Que alívio ter achado alguém que percebe que o trabalho é feito individualmente, e precisa de "aclimatação adequada".
Forte abraço