quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O papel da Verdade no Conhecimento (II)

Prezados

Quando diz que a Teoria da Criação do Conhecimento Organizacional destaca a natureza do conhecimento como "crença justificada”, em oposição ao que sempre predominou no ocidente, onde a epistemologia − a teoria do conhecimento – tradicionalmente focou na "verdade", Nonaka de certa forma se alinha ao racionalismo crítico, a filosofia que Popper criou, a qual se ocupa primordialmente de questões relativas à epistemologia.

É verdadeiramente interessante notar que, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, no Brasil a grande maioria dos executivos não tem muita afinidade por assuntos que possam, mesmo que minimamente, se aproximar da filosofia.

Por mais louco que possa parecer, há um conceito que vê a filosofia como algo que inibe a ação. Algo como um “parar para pensar”, que impede o agir.

É fácil perceber em qualquer platéia de profissionais de nível de decisão, quando o assunto resvala na filosofia, um olhar para cima de forma pejorativa, tipo: lá vem filosofia. Mas como tentar entender o conhecimento sem um mínimo de epistemologia?

Quando o assunto é Gestão do Conhecimento, a maioria de nossos executivos prefere buscar avidamente “estudos de casos de sucesso”, preferindo acreditar em relatos de aplicações de práticas de apoio, que tenham alcançado bons resultados. Em outras palavras: sonhando com fórmulas mágicas.

Enquanto isso, o racionalismo crítico, nascido na Áustria, em 1934, com a publicação do primeiro livro de Popper − Logic der Forschung (A Lógica da Pesquisa Científica) − diz, colocando de forma bastante simplificada, que não importa quantos casos de sucesso possam ter sido observados para uma determinada prática, não é possível induzir que uma próxima aplicação daquela mesma prática resultará em um caso de sucesso.

O trabalho de Popper se constituiu em uma crítica ao positivismo lógico do Círculo de Viena, defendendo a concepção de que toda verdade, portanto todo conhecimento, é falível e corrigível, virtualmente provisório.

À luz do racionalismo crítico, fica mais fácil entender a ideia do conhecimento como “crença justificada em uma verdade”, verdade esta, que sempre será provisória, pois estará sempre sendo testada, sujeita a novos fatos ou a novos conhecimentos, permitindo assim ser refutada, ou seja, falseada.

Forte abraço

Fernando Goldman

Um comentário:

Ferdinand disse...

Relendo, hoje, tentando emular minha cognição para a era pré Popper, aflora um sentimento de desdém pelo que está escrito ( apesar de estar bem escrito e refletir a ideia do Popper). Isto porque não dá para transmitir esta ideia assim para quem não conhece o trabalho do Popper. E dá trabalho ler, refletir, acompanhar a argumentação e acabar incorporando este conhecimento.
O conhecimento é como o exercício físico, não tem atalhos, tem que malhar. Se tiveres um bom "personal trainer" aproveitas melhor o processo, mas não tem jeito, tens que malhar.
Temos também uma terrível barreira cultural. O pessoal de nível de decisão não pode assumir que "não sabe", não reconhece/admite o erro, logo não aprende com o mesmo.
Outro mito é quando dizem: "na prática a teoria é diferente". Estes não conseguem entender que a realidade é o que é, e uma teoria é apenas uma simplificação, um modelo do que, em certas condições te permite fazer uma "previsão".
Chegamos a outra vantagem do conhecimento: te permite fazer previsões.
Abraço
Ferdinand