Prezados
Em ambientes de negócios crescentemente competitivos, as inovações, tanto incrementais como radicais, vêm sendo reconhecidas como o elemento chave para a sobrevivência dos diferentes tipos de arranjos organizacionais, dentre os quais as empresas são apenas um exemplo.
O papel das inovações tecnológicas – sejam técnicas, de mudança organizacional ou de arranjo institucional – foi largamente destacado por Schumpeter, no século passado, na famosa expressão “Destruição Criativa”.
Hoje, as organizações precisam adaptar-se constantemente e em tempo hábil às mudanças nos macro e microambientes, implicando no estabelecimento de processos cada vez mais dinâmicos de inovação. Estes processos dinâmicos de inovação não ocorrem espontaneamente, sendo frutos do processamento de conhecimento pelas organizações, o qual por sua vez é alavancado pela Gestão do Conhecimento Organizacional (KM), uma atividade que, conscientemente ou não, sempre existiu e continuará existindo.
Talvez por ser uma disciplina de formalização relativamente recente – o primeiro artigo acadêmico com a expressão Knowledge Management em seu título foi escrito em 1976, mas seu desenvolvimento se deu mesmo a partir de 1995 – a KM ainda tem várias diferentes abordagens, para tentar o melhor uso do conhecimento organizacional como fator de produção e de criação de valor.
Um das principais abordagens da KM se apóia no trabalho de Ikujiro Nonaka que, sozinho ou com seus diversos co-autores, em sua Teoria da Criação do Conhecimento Organizacional, procura explicar tanto o processo de criação do conhecimento organizacional, como também as condições que facilitam sua criação.
Para Nonaka, a organização de uma empresa cria novos conhecimentos através da síntese, um processo dialético, contínuo e dinâmico, convertendo o conhecimento tácito em explícito e vice-versa.
Para aquele pesquisador, o que possibilita a inovação é a criação de conhecimento organizacional – processo pelo qual o conhecimento criado por indivíduos é disponibilizado e amplificado, sendo integrado a um sistema de conhecimento da organização. A criação de conhecimento organizacional deve assim ser entendida como a capacitação de uma organização de criar conhecimento, disseminá-lo em sua organização, incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas e até mesmo modificar a própria organização.
Reside na relação entre conhecimento organizacional e inovação a chave para compreender a capacitação para se adaptar das organizações com longevidade. Isto transcende em muito a visão da economia neoclássica, que via o conhecimento como algo disponível igualmente a todas às empresas – uma coisa que precisava apenas ser processada. O que diferencia as organizações com longevidade é a compreensão do conhecimento como um ato em constante construção, e não uma coisa que pode ser armazenada.
Uma importante abordagem de KM diz respeito às redes interorganizacionais de criação de conhecimento, ou seja, não apenas dentro das empresas, mas também a partir dos relacionamentos entre empresas.
Assim, as organizações não só "processam" o conhecimento, mas também o "criam". No entanto, a economia e a teoria organizacional, praticamente, negligenciaram durante muito tempo o entendimento da criação do conhecimento pelas organizações.
Após um período inicial de ênfase equivocada nas ferramentas das Tecnologias da Informação e das Comunicações, as abordagens mais efetivas de KM vêm firmando-a como um metaprocesso que, através de ações e práticas de apoio, atua sobre os programas, políticas e processos voltados a aprimorar a contínua criação do Conhecimento Organizacional, um ativo intangível e específico de cada empresa.
Vai sendo superada assim a tendência de se interpretar a expressão “Gestão do Conhecimento” em um sentido mais focado em ações com coisas tangíveis, que implicariam em “mapear” conhecimentos já existentes, passando para uma atividade focada no fluxo do conhecimento.
A KM caracteriza-se assim como importante precursora de inovações tecnológicas, tanto as dependentes de conhecimento técnico (novos produtos, serviços e processos), como as de mudanças organizacionais e institucionais.
Por outro lado, como é largamente sabido, a sustentabilidade vem sendo reconhecida em todas suas dimensões – ambiental, social, cultural, econômica etc. – como condição sine qua non para o desenvolvimento das empresas e demais sociedades.
Assim, é natural que as questões relacionadas à sustentabilidade, em especial as de ordem ambiental e social, venham tendo cada vez mais impacto na definição de estratégias empresarias em negócios de toda espécie, como também na formulação, planejamento, implementação e avaliação de políticas públicas.
Hoje, não há mais como pensar em um empreendimento, de qualquer natureza ou ordem de grandeza, sem levar em conta sua sustentabilidade, bem como a forma como ele afeta a sustentabilidade de todas as possíveis partes interessadas. Tal tipo de avaliação, tão ampla, afeta cada nível de criação de valor no curto e longo prazo.
As empresas que buscam a longevidade já perceberam que suas estratégias devem levar em conta a sustentabilidade em toda sua rede de valor para poder gerar resultados reais, criando valor para os acionistas em uma perspectiva de longo prazo, através do real aproveitamento de oportunidades aliado ao adequado gerenciamento dos riscos.
A chave do sucesso reside na capacidade de adotar estratégias empresariais e ações que visem atender às necessidades e interesses das empresas e suas relações com o meio ambiente, suas partes interessadas (stakeholders) e a sociedade em geral, no presente e no futuro.
No entanto, a simples aceitação da importância dos princípios da sustentabilidade como ferramenta da gestão de riscos ou elemento de aumento da competitividade e de criação de valor de longo prazo não é suficiente se não for acompanhada de uma KM que possibilite as inovações demandadas pela sustentabilidade para viabilizar a adaptação proativa aos mais modernos conceitos sobre o assunto.
Há que se considerar que não basta repetir discursos sem uma ampla discussão sobre o significado dos conceitos utilizados. Trata-se de definir problemas e tomar decisões em um cenário de alta incerteza e racionalidade limitada. É preciso ir além da legislação e instrumentos aplicáveis, antecipando-se a novas demandas de consumidores e colaboradores, assim como diferentes eventos no cenário internacional, o que exige real conhecimento.
Destaca-se neste contexto, a transição mundial para uma nova economia de baixo carbono, que envolverá, em escala global, não só a troca dos combustíveis fósseis utilizados, mas também a forma de pensar sobre: gerar e distribuir energia; transportar cargas e pessoas; aquecer, resfriar e iluminar residências, escritórios e áreas públicas; e fazer funcionar as instalações industriais.
Não é a toa que aquele já citado primeiro artigo acadêmico, de 1976, escrito por Rickson, um sociólogo, tendo o termo Knowledge Management (KM) no título, tivesse como tema, exatamente, a qualidade ambiental. A interação entre KM, inovações, sustentabilidade e Gestão Ambiental há muito tempo tem sido uma preocupação dos pesquisadores.
Rickson chamava atenção naquele artigo para o papel significativo das grandes empresas industriais na criação e aplicação de conhecimentos técnicos para definição de políticas públicas e práticas de sustentabilidade.
Hoje, é cada vez mais evidente que sem uma adequada KM, seja no nível das empresas ou no nível interorganizacional, não alcançaremos as inovações demandadas pela tão deseja sustentabilidade.
O tema do KM Brasil 2010 deste ano será Gestão do Conhecimento como Estratégia para um Mundo Sustentável.
Forte abraço
Fernando Goldman
Capes, CNPq e as jabuticabas
Há 9 anos
4 comentários:
Goldman, boa noite.
Parabéns por mais esta iniciativa.
Este primeiro texto está denso e completo.
Compartilho de sua visão sobre a importância do foco na CRIAÇÂO do Conhecimento, na Inovação que leva a RECRIAÇÂO Organizacional continua, base de sua Sustentabilidade.
Um abraço.
Claudio
Fernando
Pelo que tenho percebido por aí, está todo mundo só pensando na própria sustentabilidade. Individualmente ou de sua organização.
O conceito mais amplo e mais importante, este não transparece.
Estamos em pleno foco de "tragédia dos comuns".
Acho que era bom martelar mais um pouco este assunto.
Forte abraço
Ferdinand
Fernando
Vou destacar um parágrafo e tecer um comentário sobre o mesmo:
Hoje, não há mais como pensar em um empreendimento, de qualquer natureza ou ordem de grandeza, sem levar em conta sua sustentabilidade, bem como a forma como ele afeta a sustentabilidade de todas as possíveis partes interessadas. Tal tipo de avaliação, tão ampla, afeta cada nível de criação de valor no curto e longo prazo.
O que eu penso é que os empresários na sua maior parte agem como predadores. Se eles percebem uma brecha de mercado, vão lá e tomam. A única preocupação real que eles têm é em não perderem dinheiro. O resto é de pouca monta. Se vão poluir, só interessa verificar se vão ficar dentro de parâmetros ajustados por lei. Se a lei é fraca ou burra (como quase sempre) não é problema deles.
Não evoluímos muito das conquistas romanas, a pilhagem continua a ser um bom negócio.
Abração
Fernando
Desculpe mas volto mais uma vez ao assunto.
Sugiro desta vez que vejam a palestra do Bill Gates on energy: Innovating to zero! no TED.
Agora do ponto de vista individual o que pode ser feito: Muita coisa, mas muita coisa mesmo! A lista é enorme, não teria como enumerá-la aqui. Só como exemplo: substituí a maior parte das lâmpadas incandescentes da residência e do condomínio. Economizo água. Uso predominantemente transporte coletivo. Evito ao máximo produtos descartáveis. Diminuí o consumo de carne!. Não compro frutas importadas, nem quando estão em promoção.
Forte abraço
Ferdinand
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