Prezados
Noutro dia, fui dar um curso de Gestão do Conhecimento e fui apresentado como um "especialista no assunto". Sinceramente, não gostei.
Especialistas, sábios ou simplesmente conhecedores são figuras que causam arrepios em certas empresas. Nem sempre é bom ser classificado nessa categoria.
No que eu tenho estudado, ouvido, pensado, escrito etc sobre Gestão do Conhecimento Organizacional(KM), sempre tem ficado claro para mim que uns dos aspectos mais instigantes de KM é como as empresas lidam com seus conhecedores.
Surpreende-me constantemente a percepção de que muitas vezes se está tentando fazer Gestão do Conhecimento sem levar em conta o papel do Conhecedor. Sim, na medida em que se reconhece que o conhecimento, entendido como capacidade de ação eficaz só pode existir em um ser humano, surge naturalmente a figura do conhecedor.
Tenho dito e repetido que não há como fazer uma Gestão do Conhecimento Organizacional sustentável sem levar em consideração o conhecedor. Um ser humano que detém um determinado conhecimento tácito, capaz de diferenciar a organização humana onde atua e que juntando-se a outros conhecedores podem formar um Conhecimento Organizacional capaz de se tornar uma Vantagem Competitiva, tão sustentável quanto for seu conteúdo tácito.
Pois bem, em algumas empresas há um medo de lidar com o conhecedor. De reconhecer o papel do "Conhecedor". Enquanto outras empresas elegem seus campeões do conhecimento, algumas tentam simplesmente os aniquilar.
No fundo, fazer KM de verdade, e não Gestão da Informação disfarçada de KM, consiste em estabelecer políticas e processos na empresa realmente capazes de apoiar a exploração de seus conhecimentos tácitos valiosos, raros e custosos de imitar, o que se traduz em saber lidar com os conhecedores e não em tentar deixar de depender deles.
Mas reconheço que o conhecedor é uma figura difícil. Em geral, acaba sendo um especialista, mesmo que seja um especialista nos negócios em geral da empresa.
Para não se pensar que o problema é novo, vejam este pequeno trecho de Ortega Y Gasset, de 1929 ( La Rebelion de las Massas, Madrid: Revista de Occidente, reedição em 1970):
“Dantes os homens podiam facilmente dividir-se em ignorantes e sábios, em mais ou menos sábios ou mais ou menos ignorantes. Mas o especialista não pode ser subsumido por nenhuma destas duas categorias. Não é um sábio porque ignora formalmente tudo quanto não entra na sua especialidade; mas também não é um ignorante porque é “um homem de ciência” e conhece muito bem a pequeníssima parcela do universo em que trabalha. Teremos de dizer que é um sábio-ignorante - coisa extremamente grave - pois significa que é um senhor que se comportará em todas as questões que ignora, não como um ignorante, mas com toda a petulância de quem, na sua especialidade, é um sábio.”
Forte abraço
Fernando Goldman
Capes, CNPq e as jabuticabas
Há 9 anos
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