Eu me confesso confuso lendo alguns dos meus pares no
Facebook. Ora me dizem que a distinção entre esquerda e direita acabou, ora me
dizem que não existe mais distinção entre ricos e pobres, neste novo século (já
nem tão novo assim), nesta nova sociedade digital que se configura. E eu, que
penso na opção pela esquerda como uma forma de promover a diminuição da
desigualdade social (para mim o problema fundamental do Brasil – a partir dele
todos os outros se resolveriam) e consequentemente diminuir o hiato entre ricos
e pobres, promovendo uma sociedade melhor - não utópica, mas certamente - menos violenta, fico me perguntando se eu
perdi alguma coisa.
É claro que com a queda do Muro de Berlim, aliada ao apogeu
do neoliberalismo, não sobrou muito espaço para as experiências de abolição da
propriedade privada dos meios de produção, nem para a instalação de um estado
forte (“ditadura do proletariado”). Graças a Deus! Assim, nem pensar em planejamento centralizado,
capaz de eliminar as falhas de mercado, típicas do capitalismo, responsáveis
pelas distorções no equilíbrio demanda-produção, que dão margem à especulação e
consequente acumulação de renda nas mãos de uns poucos, sempre em detrimento
dos mais pobres.
Aliás, essa história de planejamento centralizado não deu certo até hoje e Hayek, em 1945, já sabia que o problema era de conhecimento.
Assim, se para você, uma pessoa se declarar de esquerda, ou
de direita, é apenas adotar, ou não, a teoria marxista elaborada no século XIX,
em que comunismo e socialismo seriam duas etapas sucessivas no desenvolvimento
da sociedade humana, ocorrendo após o colapso do sistema capitalista, a má, ou a
boa, notícia, é que o capitalismo ainda não colapsou, enquanto os regimes
totalitários que se diziam comunistas... . Se para você “ser de esquerda” era só isso,
realmente, não há muito espaço político, no mundo de hoje para você, sendo talvez
mais fácil imaginar que não há mais distinção entre esquerda e direita.
Porém, ser de direita ou de esquerda traduz uma tendência
ideológica. Se o capitalismo não colapsou, se a destruição criativa ainda tem
forças para se auto alimentar, podemos, pelo menos, discutir que tipo de
capitalismo queremos. O mais radical, do tipo “o vencedor leva tudo”, ou alguma
das variações de capitalismo disponíveis por aí, ou até quem sabe uma invenção
tupiniquim, capaz de acomodar esse caldeirão que é o Brasil. O fato é que mesmo
sem o fantasma do socialismo/comunismo no horizonte, há muito espaço para mudanças
sociais através do voto, preservando a democracia. E nunca é demais lembrar que
os partidos que se dizem de esquerda hoje no Brasil, e mesmo os ditos sociais,
não nos representam.
Vale a pena ainda lembrar que para Hayek , o principal
argumento que privilegiava uma Economia de Mercado em relação a uma Economia
Centralmente Planejada é justamente o fato de que o conhecimento necessário às
decisões centralizadas estaria disperso entre muitas pessoas. Nas palavras dele
“O problema prático, no entanto, surge precisamente porque esses fatos [os
necessários ao planejamento centralizado] nunca são, assim, dados a uma única
mente e porque, em consequência, é necessário que na solução do problema o
conhecimento, que deve ser usado, está disperso entre muitas pessoas” (HAYEK, 1945).
De 1945 para cá muita coisa mudou. Muito, em parte, pelas
contribuições do próprio Hayek, porém os desenvolvimentos esperados das Tecnologias da Informação e das Comunicações - tais como "machine
learning", "causal inference", "Internet das Coisas
(IoT)" e o imenso volume de dados, estruturados e não estruturados,
conhecidos como "Big Data" - trarão novos elementos a essa discussão.
Forte abraço
Fernando Goldman
HAYEK, F.
A. The use of knowledge in society. American Economic Review. v. 35, n.4,
p. 519-530, set. 1945.
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