segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A cartilha não é conhecimento

Prezado Sebastião


Repare que a epistemologia que você descreve em seu comentário anterior é diferente da que eu uso. Não estou entrando no mérito se é melhor ou pior. A questão não é bem esta. A questão é se a epistemologia adotada ( por mim, por você, ou por quem quer que seja) é adequada aos fins a que se destina. Se produz resultados adequados.

O Spender diz que para ser a base de uma Teoria da Firma, o conhecimento deve ser definido com precisão suficiente para nos deixar ver qual conhecimento é significativo para a empresa e tem ainda de explicar como isso leva à vantagem competitiva.

É comum vermos ações ditas de Gestão do Conhecimento patinando. Isto em geral acontece porque – apoiada numa definição inadequada de conhecimento - se começa a capturar informações, acreditando-se que se esta criando conhecimento.

Numa epistemologia em que se acredita que o conhecimento é uma capacitação para ação eficaz - e que ele só existe como resultado do raciocínio de um ser humano - fica mais fácil entender que qualquer coisa que eu ou qualquer outra pessoa escreva, por mais gabaritada que essa pessoa seja, não se constitui em conhecimento. Mesmo estando explícita ( codificada ou articulada), esta informação não é conhecimento objetivo ( coisa que não existe). Não é nem mesmo conhecimento, pois perdeu seu caráter dinâmico, tornando-se estática. Não é mais uma capacitação de ação eficaz, mas apenas uma informação.

A cartilha não é conhecimento, ela possibilita que um indivíduo aprenda e passe a ter capacitação para agir.

Aquilo que se caracteriza como o conhecimento capaz de criar vantagem competitiva para uma empresa não é bem aquilo que está no manual de operações daquela empresa, mas a maneira como as pessoas que compõe a empresa reagem quando surge alguma situação que não está no dito manual.

Isto não significa que não seja útil ter um manual de operações. Ao contrário, codificar aquilo que se sabe em um manual pode ajudar a reduzir a incerteza. O que não se pode é imaginar que o manual de operações irá eliminar a incerteza e que basta ter um manual para se estar fazendo Gestão do Conhecimento. O principal papel da Gestão do Conhecimento é influenciar, corrigir e aperfeiçoar os processos, políticas e programas da empresa que influenciam, corrigem e aperfeiçoam a criação de seu Conhecimento Organizacional.

Eu prefiro dizer, em linha com a epistemologia que adoto, que o manual de operações traz as informações que possibilitarão aos funcionários criarem conhecimento.

Está claro que determinados arranjos organizacionais precisam focar mais na informação do que no conhecimento de modo a criar certa massa crítica. Por isto, no modelo que proponho há um espaço relevante para as ações focadas no conhecimento explícito que, em linha com o que já foi dito acima, se caracterizam como Gestão da Informação.

Forte abraço

Fernando Goldman

Publicada originalmente no Grupo de Discussão KM4Dev Brazil, em 10.02.2012.

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