terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A verdadeira polêmica de Belo Monte*

Prezado Sebastião


Sua última frase, sobre a necessidade do Brasil dar uma certa atenção ao fluxo e a capacidade de absorção/apropriação do conhecimento que está sendo produzido hoje, pode ser melhor avaliada pela polêmica, ou por uma falsa polêmica, quanto a construção da Usina de Belo Monte, que rola por aqui.

Aquilo que eu venho chamando de o “rolo compressor da solução hidrelétrica” vem minando qualquer tentativa de debate sério de políticas públicas voltadas à criação de conhecimento no país.

Há uma clara tentativa de desviar o foco do debate, discutindo se: é possivel ou não construir a famigerada usina, se ela afetará os índios, se ela inundará 580 ou 640 km2, se ela ajuda ou não o sistema elétrico nacional e uma série de discussões de menor importância frente a verdadeira discussão que se deveria fazer, que seria:

continuar investindo em geração centralizada de grande porte e transmissão a longas distâncias, com tecnologia importada já amadurecida e/ou nacional de baixo impacto seria a melhor alternativa de investimento para o conhecimento do país?
Notícia do Jornal da Energia de 04/01/2012, disponível em http://www.jornaldaenergia.com.br/ler_noticia.php?id_noticia=8678&id_tipo=2&id_secao=17&id_pai=0&titulo_info=Reino%20Unido%3A%20energia%20limpa%20gera%20empregos informa que em meio à crise europeia, o secretário de Estado para o Departamento de Energia e Mudança Climática do Reino Unido, Chris Hune, voltou a defender os benefícios econômicos dos investimentos em energia renovável. E quando ele fala em energia renovável ele está pensando em energia sustentável e não em hidrelétricas de grande porte, com seus proporcionais impactos ambientais, locais e sistêmicos.

A informação é que, até o final do ano passado, empresas do setor já haviam anunciado planos de investimento de quase 2,5 bilhões de libras - cerca de R$7,1 bilhões - em projetos de energia limpa naquele país, com potencial para a criação de 12 mil empregos.

Segundo o tal do Chris Hune, é a oportunidade dos tradicionais centros industriais prosperarem novamente, ou seja, é a determinação do Reino Unido de se adequar ao século XXI, gerando tecnologia (conhecimento), enquanto o Brasil enterra, ou afunda, pelo menos R$ 30 bilhões em tecnologia desenvolvida no início do século XX, sem levar em conta o tipo de empregos gerados.

Forte abraço

Fernando Goldman

* Mensagem publicada originalmente na comunidade KM4Dev Brazil em 10.01.2012

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