sábado, 16 de outubro de 2010

O Mainstream da Gestão do Conhecimento

Prezados

Existem muitas diferentes abordagens de Gestão do Conhecimento Organizacional (KM). Isto em princípio pode parecer natural, pois levando-se em conta que o Conhecimento Organizacional é específico de cada organização, nada mais esperado do que cada empresa ter sua própria maneira de lidar com o assunto.

Isso, no entanto, não propicia que cada uma das diferentes abordagens observadas esteja correta, ou melhor, produza resultados adequados.

Mais lamentável é a constatação de que a grande maioria das abordagens de KM se alinha àquilo que eu chamo genericamente de mainstream da KM. Elas vêem o conhecimento como algo estático e têm dificuldade para diferenciar entre o conhecimento dos diversos indivíduos da organização e o Conhecimento Organizacional.

Outra característica marcante das abordagens do mainstream da KM é a de não conseguirem também diferenciar adequadamente informação e conhecimento. Estas abordagens se declaram focadas em todos os verbos entendidos por elas como aplicáveis ao conhecimento: criar, descobrir, capturar, compartilhar, destilar, validar, transferir, aprovar, adaptar, proteger, aplicar etc.

Na prática, o mainstream é focado de verdade mesmo em apenas três verbos: Capturar – Codificar – Compartilhar, como bem destacam McElroy e Firestone. Não passam disto. A partir da ingenuidade de que o conhecimento é alguma coisa e como tal poderia ser capturado, vamos vendo rios e rios de dinheiro sendo gastos bobamente na expectativa de conseguir “reter” o conhecimento daqueles que podem, por alguma razão, sair a qualquer momento da empresa.

Destacam-se neste triste cenário, os chamados planos de retenção de conhecimento, muito comuns em grandes empresas com grande número de funcionários a beira da aposentadoria e que tanta frustração têm causado às empresas.

Desnecessário dizer que o mainstream da KM vai pouco a pouco se revelando completamente destituído de resultados práticos − no curto ou no longo prazo − ao pretender separar o conhecimento do conhecedor, não percebendo o caráter paradoxal do conhecimento.

Segundo Nonaka e seus coautores, a organização de uma empresa cria novos conhecimentos por meio da síntese, um processo dialético, contínuo e dinâmico, que se nutre dos paradoxos, convertendo o conhecimento tácito em explícito e vice-versa.

As abordagens do mainstream de KM não conseguem reconhecer o conhecimento organizacional como algo que emerge do conhecimento dos diferentes agentes, que compõem a organização em cada diferente momento.

Assim, as diferentes abordagens do mainstream de KM não se sustentam, tendo dificuldades para explicarem a si mesmas, mesmo nas empresas mais retrógradas, pois acreditam que seu objeto é o conhecimento e não percebem que KM só faria sentido como um metaprocesso, cujo objeto fosse os programas, políticas e processos que afetam a qualidade da emergência do conhecimento organizacional.

Talvez naquilo que seja seu pior aspecto, as abordagens do mainstream de KM não conseguem se caracterizar como precusoras das inovações, na medida que estas são inerentemente dinâmicas, não podendo se originar do simples armazenamento de informações.

Forte abraço

Fernando Goldman

11 comentários:

Ferdinand disse...

Fernando, só para exemplificar ainda mais um pouco este "triste cenário". Trabalhei por 2 anos numa empresa privada de porte médio onde não se treinava os funcionários para que não ficassem muito espertos, e conseguíssem um salário melhor na concorrência. Isto proclamado abertamente pelo diretor técnico desta mesma empresa. Hoje numa estatal, treinamento bom só para os amigos do "rei".
Abraço
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando
Percebo (mas a amostra é pequena para ser representativa) que a tchurma da gerência média e executiva em muitos casos não está preparada para lidar com a KM. Sempre que me é dado um certo contato com esse pessoal, pergunto se conhecem o Popper e outros, e até hoje não fui surpreendido. Eu mesmo só fui acometido pela curiosidade há pouco mais de 2 décadas, e ainda me ressinto muito da falta de um curso de introdução à filosofia no currícilo de exatas. Me formei em 1971 pela UFRJ. Abração
Ferdinand

Ajudando a Sorte disse...

Prezado Ferdinand

Obrigado por seus interessantes depoimentos. Eles ilustram uma realidade que infelizmente é bem representativa.

Forte abraço

Fernando Goldman

Fernando Goldman disse...

Prezado Ferdinand

Obrigado por seus interessantes depoimentos. Eles ilustram uma realidade que infelizmente é bem representativa.

Forte abraço

Fernando Goldman

Anônimo disse...

hi... here i'm..
support you !

Ferdinand disse...

Fernando
Talvez eu esteja perturbando o teu escopo, quando comento apenas alguns aspectos do que ocorre na prática apenas no treinamento. Entendo que KM é bem mais abrangente. Mas deixa ir ponteando se for pertinente. Esta vez é sobre a tendência de enviarem ao treinamento apenas um profissional, que fica depois estabelecido como "expert" no departamento e que não tem pares (peers)para discutir/debater/fazer emergir mais conhecimento na solução dos problemas. O que fazer para que a administração perceba que precisa de massa crítica, isto é mais de apenas um profissional detendo conhecimento sobre as especialidades. E não é apenas estratégico, é fundamental pois o conhecimento precisa de um substrato para emergir.
Abraço
Ferdinand

Fernando Goldman disse...

Prezado Ferdinand

Nada deixa um blogueiro mais feliz do que um comentário. Isto aqui é como um papo. Sem retorno fica coisa de maluco.

Escreva sempre. Seus comentários são muito bem vindos e ajudam a contextualizar.

Não sei se você já teve a oportunidade de ler o livro do Gary Hamel, The Future of Management, escrito com Bill Breen. Em português o título ficou “O Futuro da Administração”. Não é um livro focado em KM, mas mostra que na Sociedade do Conhecimento não há como continuar se tocando algumas empresas do jeito que são tocadas desde o princípio do século passado e a principal inovação que podemos fazer é na forma de gerir as empresas. Tenho certeza que você vai gostar. Eu li e gostei muito.

Forte abraço

Fernando Goldman

Ferdinand disse...

Fernando, Bom dia!
Grato pela indicação, vou conferir os comentários da turma da Amazon, não compro livros sem antes ouvir/ler as críticas.
minha leitura é basicamente focada em Dawkins, Kahneman, Christensen, Taleb,Klein,e uma boa turma que escreve sobre "perception".
Posso com muito orgulho dizer que talvez seja o único brasileiro que já assistiu à mais de 540 palestras do TED, éssa é uma fonte de inspiração e idéias grátis e chocante. Quem não conhece esta fonte não sabe o que está perdendo!Podias fazer uma matéria sobre o TED.com
Abração a todos os leitores
Ferdinand

Ferdinand disse...

Fernando
Sua indicação me fez descobrir um interessante provérbio árabe que eu não conhecia e que não posso deixar passar em branco: HE WHO SPEAKS ABOUT THE FUTURE LIES EVEN WHEN HE TELLS THE TRUTH! Interessante chamada de atenção para os administradores!
Abração
Ferdinand

Fernando Goldman disse...

Prezado Ferdinand

Você tem razão. Eu fiz uma postagem no ano passado indicando o TED, http://kmgoldman.blogspot.com/2009/12/ideias-provocadoras.html, mas agora, vendo seu comentário, percebo que talvez deva fazer outra postagem dando mais divulgação.

Forte abraço

Fernando Goldman

Ferdinand disse...

Que tal fazer um comentário vez por outra. Esta semana assistí o Peter Haas comentando sobre o disastre de engenharia no Haiti ( me surpreendeu) e acho que o mesmo acontece em mutos locais em nosso país também. Outro palestrante que sempre ipressiona é o Hans Rosling com a sua estatística global. Aí vemos como nosso país poderia e deveria estar se mexendo com taxas maiores!!!( não as de juros , claro!), bem é só uma sugestão.
Abração
Ferdinand