sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O Conhecimento como fator de produção

Prezados

Um seguidor deste blog me pediu uma colaboração para o seu TCC. Que eu escrevesse alguma coisa sobre o conhecimento como criador de valor. Na verdade, trata-se de uma excelente oportunidade para uma postagem.

Um bom ponto de partida é lembrar que a economia neoclássica não reconhecia o conhecimento como fator de produção e, portanto, como elemento de criação de valor.

O mundo visto pela teoria econômica neoclássica é estacionário e considera apenas os fatores tradicionais de produção: terra, capital e trabalho. Em tal mundo, as empresas são essencialmente passivas, apenas se adaptam às influências naturais e sociais que podem estar agindo sobre elas.

Na teoria econômica ortodoxa, as empresas são vistas como operando conforme regras de tomada de decisão - de escolha racional - refletindo um comportamento "maximizador", que é um pilar estrutural dos modelos ortodoxos.

Por tudo isso, a economia neoclássica não pode dizer muito sobre os fatores que explicam a mudança econômica.

A teoria econômica neoclássica limita-se ao estudo dos processos estacionários, não podendo ir além de demonstrar como os desvios do equilíbrio podem ser gerados por um crescimento da população ou da riqueza. Aquela teoria apenas ajusta as forças que restauram o sistema para um caminho de equilíbrio.

Na economia neoclássica a mudança tecnológica é exógena. Significa dizer que a própria firma não seria capaz de criar assimetrias de conhecimento. Em geral, os economistas preferem dizer assimetrias de informação. Assim, para a economia neoclássica, ocasionalmente choques tecnológicos perturbam as condições de equilíbrio do sistema e as empresas não deveriam ser capazes de alterar intencionalmente suas tecnologias.

Desse modo, se o processo central no qual estão interessados alguns pesquisadores é a inovação, isto significa que a modelagem econômica estática é de valor limitado para a análise que pretendem.

Alguns autores consideram que os primeiros indícios de que havia alguma peça faltando no quebra-cabeça vieram com a percepção do resíduo.

As investigações empíricas de Moses Abramovitz (1956 apud Antonelli, 2007, p. 5) e Robert Solow (1956 apud Antonelli, 2007, p. 5) mostraram que mais de 50% do crescimento da produção na economia americana, por trabalhador, entre o final do século XIX e na primeira parte do século XX não poderiam ser conciliados com o crescimento dos insumos. Esta diferença é comumente referida como resíduo ou residual.

O resíduo tornou-se um desafio dentro da economia neoclássica, devendo ser creditada boa parte daquele crescimento econômico impressionante à mudança tecnológica. Tornou-se assim evidente que a economia do equilíbrio é capaz de explicar apenas uma fração do sistema econômico. Para Antonelli (2007, p. 06), a descoberta do resíduo pode ser interpretado como o nascimento da Economia da Inovação.

Antonelli (2007, p. 11) cita Arrow e uma primeira tentativa de lidar com o “residuo” no quadro neoclássico. Segundo ele, Arrow (1962 apud ANTONELLI, 2007, p. 11), nesta tentativa, estabeleceu as bases para uma teoria do crescimento econômico baseado em processos de “learning-by-doing”, que possibilitam a geração de novos conhecimentos e, eventualmente, a introdução de novas tecnologias.

No entanto, a busca da compreensão de fenômenos dinâmicos está presente na quase totalidade dos trabalhos que enfrentam as limitações da teoria neoclássica na análise da inovação nos níveis da empresa, do setor econômico ou nacional.

É o entendimento do conhecimento como o elemento dinâmico que possibilita entender que não é possível lidar com as inovações usando apenas o referencial rigorosamente estático de análise do equilíbrio neoclássico.

Conforme Antonelli (2007, p. 08), a inovação não ocorre quando e onde as firmas são vistas como usuárias passivas da tecnologia fornecida, capazes apenas de selecionar as técnicas mais adequadas, mas sim quando e onde são vistas como agentes capacitados a gerar suas próprias tecnologias.

Reside aí a importância de reconhecer o conhecimento como fator de produção capaz de criar valor e de entender a capacitação para a criação do Conhecimento Organizacional pela firma como um dos seus elementos de diferenciação.

Forte abraço

Fernando Goldman

Referências:

ANTONELLI, C. The foundations of the economics of innovation. Working paper Nº 02/2007, Turin: University of Turin, 2007.

GOLDMAN, F. L. Podemos ainda aprender com Nonaka e Takeuchi? Artigo em fase de publicação

Revisado em 23.10.2010 às 11:35

Um comentário:

Ferdinand disse...

Não conheço as obras citadas, mas lembro do professor de história no 1º grau, dizendo que "a guerra é o pai das coisas". Já desde sempre o conhcimento significava poder. A Europa apresentou um desenvolvimento acima de outras civilizações porque se não desse valor ao conhecimento "dançava". Já imaginou o principado vizinho com novas armas de fogo e você apenas com a força estática das armas brancas. E as brigas ferozes pela primazia das descobertas na matemática e "natural science"? Talvez os autores tivessem escolhido não bulir com parâmetros para os quais não tinham ferramentas de análise. Mas deviam desconfiar que o conhecimento tinha tudo a haver.

Um bom fim de semana a todos
Ferdinand