terça-feira, 25 de dezembro de 2007

COMO A GESTÃO DO CONHECIMENTO NO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO PODE CONTRIBUIR PARA A SUSTENTABILIDADE – 1ª Parte

Ensaio de Fernando Goldman sobre Sustentabilidade e Gestão do Conhecimento, integrante do Caderno “Crescimento Sustentável - Papel da Gestão do Conhecimento”, distribuído aos participantes do KM Brasil 2007.

O relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, “Nosso Futuro Comum”, estabeleceu o desenvolvimento sustentável como “aquele que satisfaz às necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
Hoje, vinte anos depois, de uma forma mais abrangente, nações e organizações - públicas, do terceiro setor ou privadas - buscam o Desenvolvimento Sustentável como aquele que atende a quatro fatores determinantes: economicamente viável, socialmente justo, ecologicamente correto e culturalmente aceitável pela sociedade. O futuro de todos nós depende simultaneamente dos resultados nessas diferentes dimensões.
Os quatro fatores acima citados compõem a chamada sustentabilidade, ganhando aspectos dramáticos na área energética, não só no Brasil, mas no mundo. A área energética exerce papel fundamental nesse contexto, visto ter implicações diretas nas questões sobre mudanças climáticas, uso racional dos recursos energéticos e mecanismos de incentivo à busca de fontes renováveis e mais limpas de energia.
O papel da energia em nossa sociedade é fundamental. Cada vez mais a humanidade será dependente da disponibilidade de energia. O Brasil, em especial, precisa dela não só para o crescimento econômico, mas para ampliar a cidadania e atender às demandas derivadas do processo de redistribuição de renda, importante aspecto do desenvolvimento sustentável. Basta ver o valor e a volatilidade da chamada elasticidade-renda brasileira, relação entre as variações percentuais do consumo de energia e do valor do PIB correspondente.
Como bem se sabe, as fontes primárias de energia são as biomassas, as energias potenciais hidráulicas, os combustíveis fósseis (petróleo, gás natural, carvão), o urânio, a radiação solar, o vento, etc. A energia elétrica, fonte secundária de energia, se destaca pela flexibilidade e ainda por uma gama de elaboradas aplicações, tornando-a insubstituível em muitos setores da sociedade moderna. Trata-se, pois, de energia obtida a partir da conversão de outras fontes de energia. Os processos de conversão e o de transmissão à distância implicam, ambos, em perda irreversível de parte da energia original, alimentadora da conversão.
No Brasil, décadas atrás, em função do farto potencial hidráulico inicialmente disponível para aproveitamento na geração de energia elétrica, a custos muito atrativos, a eletricidade assumiu papel de destaque. Isso explica o elevado grau de utilização de energia elétrica em nossa matriz energética.
No entanto, a Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro, iniciada nos anos 1990, ainda não alcançou plenamente os resultados desejados e necessários a um ciclo de desenvolvimento sustentável.
No planejamento do setor, há uma insistência na aplicação de técnicas utilizadas no passado com grande sucesso, privilegiando a geração centralizada e os grandes empreendimentos. Ou seja, há uma ênfase exagerada em equilibrar cada novo aumento da demanda de energia elétrica com a expansão de sua oferta, através da identificação dos grandes e melhores empreendimentos a serem construídos, hidrelétricos ou não, bem como as correspondentes ampliações da malha de transmissão e distribuição. O foco é na produção. Essa abordagem talvez já não atenda plenamente o mundo atual.
Hoje, as sucessivas inovações tecnológicas, a intensa atividade de P&D, as crescentes restrições ambientais e a tendência à elevação dos preços da produção de energia elétrica por fatores mercadológicos, por exemplo, levam o foco para a restrição à demanda de energia elétrica. Quer pela ênfase na eficiência energética, quer pela troca de fonte ou forma de suprimento. Há uma tendência de se avaliar novas soluções para a área de energia. Algumas tecnologias vistas no passado recente apenas como ficção agora se apresentam com maior viabilidade.
Em contrapartida, soluções antes consideradas ideais mostram-se inadequadas em um ambiente de negócios ágil, competitivo, dinâmico, globalizado e complexo, exigindo adaptação constante, tendo como palavra de ordem a “sustentabilidade”, vista em todos os seus aspectos.Esse processo se acelera e não pode mais ser desconsiderado. O Setor Elétrico Brasileiro precisará decidir se participará desse processo como ator ou como espectador. Se irá alavancar novas soluções ou será apenas uma simples barreira a ser vencida.

continua...

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