Para os que ainda não conhecem, Comunidades
de Prática, normalmente designadas como CoP, estão entre as ferramentas mais
efetivas de Gestão do Conhecimento Organizacional, sendo utilizadas por muitas das empresas reconhecidas como de excelência.
CoP permitem que especialistas em
determinado assunto tirem partido das Tecnologias da Informação e Comunicação
para aumentar a interação que propicia a criação de conhecimento.
Como diz o velho ditado "é da discussão
que nasce a luz" e as CoP fornecem meios de discussão organizada,
sistematizada e profícua, diminuindo dessa forma o stress, o desperdício de
tempo e a energia despendida para atingir um consenso pelos especialistas, que
podem assim se dedicar de forma mais prazerosa a suas atividades fim.
Mas não se deve pensar, de forma alguma, que
criar uma CoP é garantia de sucesso automático. Muitas CoP fracassam, por uma série
de razões, que demandariam muito espaço para discussão.
Em outra linha de raciocínio, segundo Giavanni Dosi, a
Tecnologia se faz em três dimensões: as receitas, as rotinas e os artefatos.
Poderíamos dizer “artefatos tecnológicos”, mas como estamos falando de
Tecnologia, não há necessidade do adjetivo.
Há uma definição clássica de Tecnologia, do mesmo
Dosi, que é a seguinte:
"Podemos definir tecnologia como um conjunto de partes do conhecimento [pieces of knowledge], tanto as diretamente ‘práticas’ (relacionadas a problemas e dispositivos concretos) quanto as ‘teóricas’ (praticamente aplicáveis, embora não necessariamente já aplicadas), know-how, métodos, procedimentos, experiências de sucesso e fracasso, e também, dispositivos e equipamentos físicos. Os dispositivos físicos existentes incorporam — por assim dizer — os sucessos no desenvolvimento da tecnologia em uma atividade definida de solução de problemas. Ao mesmo tempo, a parte ‘desincorporada’ da tecnologia consiste de perícias particulares, experiência de tentativas e soluções tecnológicas prévias, juntamente com o conhecimento e as realizações do ‘estado-da-arte" (Dosi, 1982: 151-2).
O termo “dispositivos” (em inglês, no
original, devices) vem sendo substituído pelo termo artefatos (artefacts) e se
a Tecnologia é feita de partes do conhecimento podemos, em analogia aos Artefatos
Tecnológicos, falar em Artefatos Epistemológicos.
Os Artefatos Epistemológicos incorporariam,
então, os sucessos no desenvolvimento do conhecimento em uma determinada atividade
de Tomada de Decisões.
Um bom exemplo seria um Manual de Engenharia
de uma grande construtora. O Manual incorpora os sucessos no desenvolvimento do
Conhecimento Organizacional da construtora, mas diferentemente do que se
costuma ouvir, ele não é um repositório de conhecimentos. Ele é um repositório
de informações. Informações que podem propiciar a construção de conhecimento
pelos indivíduos, que trabalham hoje na construtora.
É até possível imaginar um Artefato Epistemológico
feito fora da empresa, mas na prática eles são construídos pela interação entre
os conhecedores dentro da empresa, que percebem os elementos de informação
necessários à construção do conhecimento.
Se para formar Artefatos Epistemológicos é
necessária a interação entre conhecedores e, como vimos antes, CoP propiciam
esta interação de uma forma bastante efetiva, por que não se pensar em CoP
baseadas em Artefatos Epistemológicos?
De imediato, três tipos de eventos que
permeiam a Gestão do Conhecimento Organizacional podem ser contemplados em CoP
baseadas em Artefatos Epistemológicos: melhores práticas, lições aprendidas e
pontos de atenção.
Se você consegue que especialistas, com
diferentes graus de prática, em diferentes áreas de um arranjo organizacional (uma empresa, por exemplo), que compartilham um domínio do conhecimento ( uma
especialidade), se sintam membros de uma comunidade a ponto de se proporem a
discutir, presencialmente ou virtualmente, melhores práticas, lições aprendidas
e pontos de atenção, em uma CoP, registrando os pontos consensados em um
Artefato Epistemológico, você certamente alcançou uma grande contribuição para
a Gestão do Conhecimento Organizacional.
Forte abraço
Fernando Goldman
3 comentários:
Fernando
Acho estranho a colocação: ...e se a Tecnologia é feita de partes do conhecimento....
Até onde eu vinha acompanhando, o conhecimento era apenas o modo de operar de uma mente treinada com poder de previsão de determinados fenômenos, melhor do que a simples flutuação estatística de resultados.
No parágrafo chamam de conhecimento o que me parecia apenas algorítmo.
Será que entendí direito?
Prezado Ferdinand
Acho que a próxima postagem poderá lhe esclarecer melhor sobre a natureza do conhecimento.
Forte abraço
Fernando Goldman
Fernando
O post sobre a argumentação do Gurteen é realmente bem mais palatável.
Muito bemvindo.
Grato
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