Prezados
A todos
aqueles que compartilham os conceitos defendidos neste blog de que “Inovação é o
fazer melhor qualquer coisa” e que “tão importante quanto inovar é saber em que
direção inovar”, eu gostaria de compartilhar o texto abaixo, disponível em
http://leonardoboff.wordpress.com/2012/06/08/atitudes-criticas-e-proativas-face-a-rio20/.
Normalmente, eu apenas citaria o link, mas considero o texto tão fundamental, que faço questão de o aqui reproduzir na íntegra, pela clareza e importância de algumas das ideias apresentadas.
Forte
abraçoNormalmente, eu apenas citaria o link, mas considero o texto tão fundamental, que faço questão de o aqui reproduzir na íntegra, pela clareza e importância de algumas das ideias apresentadas.
Fernando Goldman
Atitudes críticas e proativas face à Rio+20 08/06/2012
Texto de Leonardo Boff
Creio que se impõem três atitudes que precisamos desenvolver face à da Rio+20.
A primeira é
conscientizar os tomadores de decisões e toda a humanidade dos riscos a que estão
submetidos o sistema-Terra, o sistema-vida e o sistema-civilização. As guerras
atuais, o medo do terrorismo e a crise econômico-financeira no coração dos
países centrais estão nos fazendo esquecer a urgência da crise ecológica
generalizada. Os seres humanos e o mundo natural estão numa perigosa rota de
colisão. De nada vale garantir um desenvolvimento sustentável e verde se não
garantirmos primeiramente a sustentabilidade do planeta vivo e de nossa
civilização. Esta conscientização deve ser feita em todos os níveis, da escola
primária à universidade, da família à fábrica, do campo à cidade.
A segunda
atitude tem a ver com um deslocamento e uma implicação que importa operar. Urge
deslocar a discussão do tema do desenvolvimento para o tema da sustentabilidade.
Se ficarmos no desenvolvimento nos enredamos nas malhas de sua lógica que é
crescer mais e mais para oferecer mais e mais produtos de consumo para o
enriquecimento de poucos à custa da super-exploração da natureza e da
marginalização da maioria da humanidade. A pesquisa séria do Instituto Federal
Suíço de Pesquisa Tecnológica (ETH) de 2011 revelou a imensa concentração de
riqueza e de poder em pouquíssimas mãos: são 737 corporações que controlam 80%
do sistema corporativo mundial, sendo que um núcleo duro de 147 controla 40% de
todas as corporações, a maioria financeiras. Junto com este poder econômico
segue o poder político (influencia os rumos de um pais) e o poder ideológico
(impõe idéias e comportamentos). A pegada ecológica da Terra revelou que esta
já ultrapassou em! 30% seus limites físicos. Forçá-los é obrigá-la a
defender-se. E o faz com tsunamis, enchentes, secas, eventos extremos,
terremotos e o aquecimento global. E também com as crises econômico-financeiras
que se incluem no sistema-Terra viva. O tipo de desenvolvimento vigente é
insustentável. Vãos são os adjetivos que lhe acrescentemos: humano, verde,
responsável e outros. Levá-lo avante a qualquer custo, como ainda propõe o
texto-base da ONU, nos aproxima do abismo sem retorno.
Deslocar-se
para o tema da sustentabilidade significa criar mecanismos e iniciativas que
garantam a vitalidade da Terra, a continuidade da vida, o atendimento das
necessidades humanas das presentes e futuras gerações, de toda a comunidade de
vida e a garantia de que podemos preservar nossa civilização. Essa compreensão
de sustentabilidade é mais vasta do que aquela do desenvolvimento simples e
duro.
Para alcançar
tal propósito, se faz mister um novo olhar sobre a Terra, um re-encantamento do
mundo e um novo sonho. Isto significa inaugurar um novo paradigma. Se antes, o
paradigma era de conquista e de expansão, agora, devido aos altos riscos que
corremos, deverá ser de cuidado e de responsabilidade global. Precisamos
incorporar a visão da Carta da Terra que propõe tais atitudes no quadro de uma
visão holística do universo e da Terra. Ela vê o nosso planeta como vivo, com
uma comunidade de vida única. É fruto de um vasto processo de evolução que já
dura 13,7 bilhões de anos. O ser humano comparece como expressão avançada de
sua complexidade e interiorização. Este tem a missão de cuidar e de garantir a
sustentabilidade da natureza e de seus seres.
Esta visão só
será efetiva se for mais que um deslocamento de visões. A ciência não produz
sabedoria mas só informações. Quer dizer, não oferece uma visão global e
integradora da realidade interior e exterior (sabedoria) que motive para a
transformação. Por isso deve vir acompanhada da implicação de uma emoção
fundamental. Importa fazer uma leitura emocional dos dados científicos, porque
é a emoção, a paixão, a razão sensível e cordial que nos moverão a ação. Não
basta tomar conhecimento. Precisamos nos conscientizar, no sentido de Paulo
Freire, nos munir de indignação e de compaixão e por mãos à obra.
Portanto,
junto com a razão intelectual, indispensável, que predominou por séculos, cabe
resgatar a razão sensível e emocional que fora colocada à margem. Ela é o nicho
da ética e dos valores. Faz-nos sentir a dor da Terra, a paixão dos pobres e o
apelo da consciência para superarmos estas situações com uma outra forma de
produzir, de distribuir e de consumir.
A terceira
atitude é de trabalho crítico e criativo dentro do sistema. Já se disse: os
velhos deuses (a conquista e dominação) não acabam de morrer e os novos
(cuidado e responsabilidade) não acabam de nascer. Somos obrigados a viver num
entre-tempo: com um pé dentro do velho sistema, trabalhar e ganhar nossa vida
no âmbito das possibilidades que nos são oferecidas; e com outro pé dentro do
novo que está despontando por todos os lados e que assumimos como nosso. Há
muitas iniciativas que podem ser implementadas e que apontam para o novo.
Fundamentalmente
importa recompor o contrato natural. A Terra é nossa grande Mãe, como o aprovou
a ONU a 22 de abril de 2009. Ela nos dá tudo o que precisamos para viver. A
contrapartida de nossa parte seria o agradecimento na forma de cuidado,
veneração e respeito. Hoje precisamos reaprender a respeitar o todo da Terra,
os ecossistemas e cada ser da natureza, pois possuem valor intrínseco independentemente
do uso que fizermos dele como o enfatiza a Carta da Terra. Essa atitude é quase
inexistente nas práticas produtivas e nos comportamentos humanos. Mas podemos
ressuscitar esse sentido de amor, de autolimitação de nossa voracidade e de
respeito a tudo o que existe e vive. Ele diminuiria a agressão à natureza e
faria de nossas atitudes mais eco-amigáveis.
Defender a
dignidade e os direitos da Terra, os direitos da natureza, dos animais, da
flora e da fauna, pois todos formamos a grande comunidade terrenal.
Apoiar o
movimento internacional por um pacto social mundial ao redor daquilo que pode
unir a todos, pois todos dependem dele: a água, com um bem comum natural, vital
e insubstituível. Criar uma cultura da água, não desperdiçá-la (só 0,7% dela é
acessível ao uso humano) e torná-la um direito inalienável para todos os seres
humanos e para a comunidade de vida.
Reforçar a
agroecologia, a agricultura familiar, a permacultura, as ecovilas, a micro e
pequena empresa de alimentos, livres de pesticidas e de transgênicos.
Buscar de
forma crescente energias alternativas às fósseis, como a hidrelétrica, a
eólica, a solar, a de biomassa e outras.
Insistir no
reconhecimento dos bens comuns da Terra e da humanidade. Entre esses se contam
o ar, a atmosfera, a água, os rios, os oceanos os lagos, os aquíferos, a
biodiversidade, as sementes, os parques naturais, as muitas línguas, as
paisagens, a memória, o conhecimento, a internet, as informações genéticas e
outros.
O mais
importante de tudo, no entanto, é formar uma coalizão de forças com o maior
número possível de grupos, movimentos, igrejas e instituições ao redor de
valores e princípios coletivamente partilhados, como os expressos na Carta da
Terra, nas Metas do Milênio, na Declaração dos Direitos da Mãe Terra e no ideal
do Bem Viver das culturas originárias das Américas.
Por fim,
precisamos estar conscientes de que o tempo da abundância material acabou,
feita à custa do desrespeito dos limites do planeta e na falta de solidariedade
e de piedade para com as vítimas de um tipo de desenvolvimento predatório,
individualista e hostil à vida. O crescimento econômico não pode ser um fim em
si mesmo. Está serviço do pleno desenvolvimento do ser humano, de suas
potencialidades intelectuais, morais e espirituais. A economia verde inclusiva,
a proposta brasileira para a Rio+20, não muda a natureza do desenvolvimento
vigente porque não questiona a relação para com a natureza, o modo de produção,
o nível de consumo dos cidadãos e as grandes desigualdades sociais. Um
crescimento ilimitado não é suportado por um planeta limitado. Temos que mudar
de rota, de mente e de coração. Caso contrário, o destino dos dinossauros
poderá ser o nosso destino.
Finalmente, estimo que não estamos diante de uma tragédia
anunciada. Mas diante de uma gravíssima e generalizada crise de civilização.
Contém muitos riscos, mas, se quisermos, serão evitáveis. Pode significar a dor
de parto de um novo paradigma e o sacrifício a ser pago para um salto de
qualidade rumo a uma civilização mais reverente da Terra, mais respeitosa da
vida, mais amiga dos seres humanos e mais irmanada com todos os demais seres da
natureza.
2 comentários:
Excelente artigo.
Vejo porém que a dificuldade maior está em conscientizar os grupos que detém o poder. Fazê-los entender que o modelo atual é inviável.
Como conseguir isso? Se continuam ganhando dinheiro a rodo, e ditando as regras.
" A razão do mais forte é sempre a melhor!"
A questão agrícola é outra barreira. No modelo atual não há como competir em custo com o agro-negócio, simplesmente por questão de escala.
Já pensei que, resolveríamos o problema com mais educação para os menos favorecidos. Mas pensando bem, isso só vai piorar o problema.
A situação atual é o resultado das decisões de pessoas com bom nível escolar, e muito pouco pela grande massa.
Precisamos de educação diferente da atual.
Recentemente ví a palestra da Lydia Prieg no TED London Business School- The Limits of Capitalism.
Ela aponta diretamente que os governos perderam o poder de controlar os bancos quando os mesmo se tornaram entidades "too big to fail"e uma série de outras "irracionalidades" pelas quais o cidadão comum é que paga o pato.
Como faremos para restaurar o equilíbrio se o desequilíbrio garante mais poder para os já poderosos demais?
Interessantíssima a palestra da corajosa jovem.
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