Prezado Osmar
Muito boa sua metáfora do "feijão da Vovó".
“Se tentarmos extrair da Vovó, a receita do seu maravilhoso feijão, com certeza vamos conseguir transcrever os procedimentos necessários, entretanto, dificilmente conseguiremos o mesmo resultado.
E aí vem a pergunta: "o que será que a Vovó faz de diferente?". Com certeza, a Vovó não quis esconder o famoso "pulo do gato", apenas não conseguiu externar algum pequeno detalhe daquela operação. São esses os pequenos detalhes tácitos...".
Vou tomar algumas caronas na sua metáfora.
Imagine que você não sabe cozinhar e resolve ler o manual de procedimentos, vulgarmente conhecido como receita da vovó. Provavelmente, você não conseguirá fazer o "feijão da Vovó" lendo a receita da vovó, porque quando a vovó escreveu a receita (explicitou seu conhecimento) ela não estava pensando em ensinar alguém a cozinhar e há detalhes que ela mesma não percebe que fazem diferença.
Imagine então que você sabe cozinhar e resolve ler a receita da vovó. Provavelmente, você conseguirá fazer um bom feijão, mas talvez ele nunca chegue perto do "feijão da Vovó".
Imagine agora que você sabe cozinhar e te colocam para trabalhar junto com a vovó. Provavelmente, sob supervisão da vovó, observando-a, entendendo como ela cozinha, ouvindo suas histórias, alinhando seus modelos mentais com os dela, você conseguirá fazer um excelente feijão, talvez até melhor do que o dela. E dirá com orgulho de ter tido a oportunidade de trabalhar com a vovó, que o seu feijão não é a mesma coisa que o "feijão da Vovó".
Agora vem a pior parte. Imagine que a família da vovó entrega ao
RH a responsabilidade de fazer a Gestão do Conhecimento Familiar. O pessoal do RH recebe das áreas operacionais da família a informação de que o "feijão da Vovó" faz muito sucesso, é muito querido e é o diferencial da família.
Percebendo o potencial de poder que a vovó pode assumir, o RH irá contratar uma consultoria de treinamentos e pedirá para ser formatado um curso sobre o "feijão da Vovó". Provavelmente a vovó não será ouvida pela consultoria, pois afinal ela faz parte do cliente, a família.
Uma vez o curso disponível, o RH analisará o Plano de gestão por competências, ou de competências, ou seja lá o nome que tiver, e verá na matriz de competências da vovó que ela nunca fez esse curso.
Provavelmente nossa história terminará com a vovó sentada numa bela sala de treinamento da Universidade Corporativa da família, tendo que fazer um curso, como parte do plano de aperfeiçoamento da família, sob pena de não o fazendo não se habilitar a receber promoção na próxima avaliação.
É triste, mas é assim que funciona em muitas famílias condenadas à extinção.
Forte abraço
Fernando Goldman
Mensagem originalmente postada no fórum da SBGC em 02/09/2008.
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