terça-feira, 27 de maio de 2008

Do tácito ao tácito

Meu prezado Marcos
O conhecimento, no âmbito da Gestão do Conhecimento Organizacional, principal alvo desse fórum, é definido não simplesmente como “o que se sabe”, mas como “aquilo que se sabe e possibilita ação eficaz”, a correta tomada de decisões. Envolve os processos mentais de compreensão e aprendizados presentes na mente, e apenas na mente, de determinado indivíduo, embora envolvam interações com o mundo fora de sua mente, incluindo suas interações com outros indivíduos.
Repare que falamos de “conhecimento organizacional”, mas reconhecemos que ele só existe na mente dos seres humanos. Talvez este seja o ponto mais difícil de aceitar, eu diria o pulo do gato, para quem começa a lidar com uma efetiva “Gestão do Conhecimento”, porque o que buscamos é um todo maior do que a soma das partes.
Sempre que um ser humano quer expressar aquilo que se conhece, ou pelo menos aquilo que se tem consciência que se conhece, não pode deixar de fazê-lo emitindo mensagens de algum tipo, sejam orais, escritas, gráficas, gestuais ou mesmo através da "linguagem corporal". Essas mensagens, por si só não se constituem em "conhecimento", pois por si só não possibilitam a ação eficaz, a correta tomada de decisão. Essas mensagens se constituem em "Informação", que uma outra mente, pode ou não, desde que tenha ou não tenha capacidade para tal, assimilar, entender, compreender e incorporar a suas próprias estruturas de conhecimento.
O processo de explicitar o conhecimento da cabeça, para a boca e desta para as mãos envolve alguma perda inevitável de conteúdo, e freqüentemente envolve uma perda maciça do contexto.Depois que se gastou muito tempo e dinheiro tentando criar softwares ou recursos de Tecnologia da Informação para permitir armazenar e/ou transmitir conhecimento, se reconheceu essa perda e então foi possível começar a repensar a natureza da Gestão do Conhecimento.
Quando você fala em socialização do conhecimento imagino estar se referindo ao modelo criado por Nonaka e Takeuchi e até aí tudo bem, pois é um bom modelo, desde que, como todo modelo, seja usado corretamente. Já quando você fala em “ferramentas com foco específico na transformação do conhecimento do tácito ao tácito” eu começo a ficar preocupado com a possibilidade de o modelo não estar sendo utilizado corretamente ou mesmo não ter sido bem entendido.
Portais, sistemas de groupware, fóruns, listas de discussão, wikis, blogs e seja lá o que for são ferramentas muito interessantes para nós fazermos o que estamos fazendo agora: trocando informações. Se fossemos fazer isso por carta, seria mais lento, mas muito provavelmente produziria o mesmo efeito.
Por isso, gostaria de convidá-lo a uma reflexão mais profunda sobre o que realmente significam “ferramentas de software com foco específico na transformação do conhecimento do tácito ao tácito” .
Talvez na compreensão do nonsense dessa frase você encontre o caminho para não fazer o que muita gente por aí jura ser “Gestão do Conhecimento” e não é.
Forte abraço
Fernando Goldman

Um comentário:

Prof. Marcos Lapa disse...

Fernando,

de fato entendi seu ponto de vista e sendo desta forma, realmente minha frase ficou sem sentido.
O que eu compreendia até então como ferramentas de software com foco para a transformação "do tácito ao tácito" seriam softwares que de alguma forma auxiliassem nessa (digamos assim) tarefa.
Por exemplo, uma forma automática de se identificar um especialista sobre um determinado assunto dentro de um grupo de discussões, pondo a pessoa interessada em contato direto com este especialista.
Fico então me perguntando se caberia dizer aqui que esta ferramenta auxilia o processo de socialização do conhecimento? Caso contrário receio ter entendido errado o conceito e gostaria de sua ajuda se possível para melhor compreendê-lo.

Um abraço,

Marcos L. Santos