quarta-feira, 28 de novembro de 2018

A Indústria 4.0 é pós-industrial

Prezados

Em 1876, William Orten era o presidente da Western Union, empresa que detinha o monopólio da mais avançada tecnologia de comunicações disponível, o telégrafo. Orten recebeu a oferta da patente de uma nova invenção − um tal de Alexander Graham Bell havia desenvolvido uma maneira de transmitir voz por um fio. Naquele momento, tratava-se apenas da invenção de um completo desconhecido.

Pois bem, como se sabe, a invenção de Graham Bell mais tarde viria a se constituir em uma inovação tecnológica, gerando não só um artefato tecnológico − o aparelho telefônico − mas, principalmente, uma nova tecnologia de comunicações  − a comunicação telefônica.

Em resumo, a patente inicial do telefone foi oferecida por US $ 100.000 da época (cerca de US $ 2 milhões em dólares atuais) à Western Union. Conta a história que, naquele momento, Orten, a luz de tudo que sabia, considerou a ideia ridícula, e escreveu diretamente para Alexander Graham Bell, dizendo: "Após cuidadosa consideração de sua invenção, embora seja uma novidade muito interessante, chegamos à conclusão de que ela não tem possibilidades comerciais ... Que uso poderia esta empresa fazer de um brinquedo elétrico? "

Conta ainda a história que a empresa fundada por Bell − diante da recusa de Orten, a Bell Company, que mais tarde viria a se transformar na AT&T − a partir de uma série de inovações técnicas e de modelos de negócios, que se auto alimentaram,  sustentadas portanto, conseguiu cada vez mais novos clientes, explorando todo seu potencial de crescimento em rede, depois de estabelecer uma tímida posição inicial de comunicações ponto a ponto. Mais do que um produto, o telefone se firmou como uma tecnologia de comunicações e alavancou, e ainda vem alavancando, novos produtos, novos processos, novos serviços, novos modelos de negócios, novos comportamentos, novas formas de pensar e muitos deles, como bem se sabe, nada mais tem a ver com a ideia original do telefone em si.

Aqui, é importante se começar a perceber que há diferenças fundamentais entre invenção, inovação incremental, inovação radical, inovação disruptiva (o telefone foi disruptivo para a Western Union)  e as tecnologias emergentes. Só uma correta conceituação destes processos que são recursivos (A implica B que amplifica A) permite uma teorização capaz de ajudar a entender o que é esta tal de Indústria 4.0, que tanto sofre com as confusões conceituais entre inovações e tecnologias. E isto tem muito a ver com Gestão do Conhecimento Organizacional. Não com a discussão rasa sobre como gerir o conhecimento das pessoas na empresa, mas com meta discussões sobre como gerir a inovação e o conhecimento das empresas e de outros tipos de arranjos organizacionais na sociedade pós-industrial, com fortes implicações nas estratégias empresariais e nas Políticas Públicas. Pode parecer estranho, mas a Indústria 4.0 não é um novo tipo de indústria: ela é pós-industrial.

Forte abraço

Fernando Goldman

Fontes:

Andersen, E. It Seemed Like A Good Idea At The Time: 7 Of The Worst Business Decisions Ever Made. Disponível em https://www.forbes.com/sites/erikaandersen/2013/10/04/it-seemed-like-a-good-idea-at-the-time-7-of-the-worst-business-decisions-ever-made/#2e4fa303e803. Acesso em 29.jun.2018.

Christensen, Clayton M; Anthony, Scott D.; Roth, Erick A. Seeing what´s next – Using the theories of disruptive innovation to predict industry change. Harvard Business School
Press. 2004.