sábado, 31 de agosto de 2013

A natureza do conhecimento

Prezados
Em sua “August 2013 Gurteen Knowledge Letter”, o David Gurteen apresentou alguns pensamentos sobre a natureza do conhecimento. Como estes pensamentos do Gurteen estão muito alinhados com as ideias discutidas neste blog, vou tomar a liberdade de traduzir e reproduzí-los a seguir.
Forte abraço
Fernando Goldman
No mundo da KM, falamos o tempo todo sobre o compartilhamento, a transferência e a captura de conhecimento. Mas nós realmente não podemos fazer isso.
O conhecimento só existe na mente humana. No papel, ou em um banco de dados, ou até mesmo quando codificado em nossa voz, ele é informação - uma difusa e pobre representação do nosso conhecimento, em um momento no tempo, incompleta e sem o contexto completo.
Isso significa que eu não posso te dar diretamente o meu conhecimento e você não pode me dar o seu. O conhecimento é sempre transferido através de alguma forma de informação codificada. O conhecimento é codificado como informação e, em seguida, o conhecimento existente na mente do receptor é usado para reconstruir as informações novamente em conhecimento. Um tipo engraçado de processo no qual muito se perde e é distorcido ao longo do caminho. Sim, você pode argumentar que o conhecimento é, finalmente, compartilhado ou transferido, mas está longe de ser um processo perfeito.
Quando falamos ou interagimos , nenhum de nós tem qualquer controle sobre o que o outro presta atenção ou retém em sua cabeça. Acontece o mesmo com a leitura, duas pessoas vão ler o mesmo livro ou relatório, aprendendo e tirando conclusões muito diferentes."
Sabemos disso , mas ainda falamos sobre o compartilhamento de conhecimento e a transferência de conhecimento. Nós simplesmente não podemos transferir conhecimento , no verdadeiro sentido da palavra . É a metáfora errada para descrever o processo que ocorre, no entanto, parece que estamos presos a ela.
Tudo o que podemos fazer é ajudar uns aos outros a desenvolver seu próprio  conhecimentos. O conhecimento não é estático. Não é uma coisa . É dinâmico e em constante mutação.
Numa conversação, novo conhecimento pode emergir na minha cabeça e na sua. Ele nunca mais será o mesmo conhecimento . E quando nós nos separarmos e refletirmos sobre as coisas faladas, nosso conhecimento vai mudar. E cada vez que nos lembrarmos da conversa, o conhecimento vai emergir um pouco diferente.
 
Troço engraçado e etéreo esse tal de conhecimento. Não é à toa que é tão difícil de ser "gerenciado" ”.

domingo, 25 de agosto de 2013

Comunidades de Prática com Artefatos Epistemológicos

Prezados

Para os que ainda não conhecem, Comunidades de Prática, normalmente designadas como CoP, estão entre as ferramentas mais efetivas de Gestão do Conhecimento Organizacional, sendo utilizadas por muitas das empresas reconhecidas como de excelência.
CoP permitem que especialistas em determinado assunto tirem partido das Tecnologias da Informação e Comunicação para aumentar a interação que propicia a criação de conhecimento.
Como diz o velho ditado "é da discussão que nasce a luz" e as CoP fornecem meios de discussão organizada, sistematizada e profícua, diminuindo dessa forma o stress, o desperdício de tempo e a energia despendida para atingir um consenso pelos especialistas, que podem assim se dedicar de forma mais prazerosa a suas atividades fim.
Mas não se deve pensar, de forma alguma, que criar uma CoP é garantia de sucesso automático. Muitas CoP fracassam, por uma série de razões, que demandariam muito espaço para discussão.
Em outra linha de raciocínio, segundo Giavanni Dosi, a Tecnologia se faz em três dimensões: as receitas, as rotinas e os artefatos. Poderíamos dizer “artefatos tecnológicos”, mas como estamos falando de Tecnologia, não há necessidade do adjetivo.
Há uma definição clássica de Tecnologia, do mesmo Dosi, que é a seguinte:
"Podemos definir tecnologia como um conjunto de partes do conhecimento [pieces of knowledge], tanto as diretamente ‘práticas’ (relacionadas a problemas e dispositivos concretos) quanto as ‘teóricas’ (praticamente aplicáveis, embora não necessariamente já aplicadas), know-how, métodos, procedimentos, experiências de sucesso e fracasso, e também, dispositivos e equipamentos físicos. Os dispositivos físicos existentes incorporam — por assim dizer — os sucessos no desenvolvimento da tecnologia em uma atividade definida de solução de problemas. Ao mesmo tempo, a parte ‘desincorporada’ da tecnologia consiste de perícias particulares, experiência de tentativas e soluções tecnológicas prévias, juntamente com o conhecimento e as realizações do ‘estado-da-arte" (Dosi, 1982: 151-2).

O termo “dispositivos” (em inglês, no original, devices) vem sendo substituído pelo termo artefatos (artefacts) e se a Tecnologia é feita de partes do conhecimento podemos, em analogia aos Artefatos Tecnológicos, falar em Artefatos Epistemológicos.
Os Artefatos Epistemológicos incorporariam, então, os sucessos no desenvolvimento do conhecimento em uma determinada atividade de Tomada de Decisões.
Um bom exemplo seria um Manual de Engenharia de uma grande construtora. O Manual incorpora os sucessos no desenvolvimento do Conhecimento Organizacional da construtora, mas diferentemente do que se costuma ouvir, ele não é um repositório de conhecimentos. Ele é um repositório de informações. Informações que podem propiciar a construção de conhecimento pelos indivíduos, que trabalham hoje na construtora.
É até possível imaginar um Artefato Epistemológico feito fora da empresa, mas na prática eles são construídos pela interação entre os conhecedores dentro da empresa, que percebem os elementos de informação necessários à construção do conhecimento.
Se para formar Artefatos Epistemológicos é necessária a interação entre conhecedores e, como vimos antes, CoP propiciam esta interação de uma forma bastante efetiva, por que não se pensar em CoP baseadas em Artefatos Epistemológicos?
De imediato, três tipos de eventos que permeiam a Gestão do Conhecimento Organizacional podem ser contemplados em CoP baseadas em Artefatos Epistemológicos: melhores práticas, lições aprendidas e pontos de atenção.
Se você consegue que especialistas, com diferentes graus de prática, em diferentes áreas de um arranjo organizacional (uma empresa, por exemplo), que compartilham um domínio do conhecimento ( uma especialidade), se sintam membros de uma comunidade a ponto de se proporem a discutir, presencialmente ou virtualmente, melhores práticas, lições aprendidas e pontos de atenção, em uma CoP, registrando os pontos consensados em um Artefato Epistemológico, você certamente alcançou uma grande contribuição para a Gestão do Conhecimento Organizacional.
Forte abraço

Fernando Goldman